sem espanto
na ausência de espanto,
as manhãs se repetem
como senhas digitadas sem pensar.
o sol entra pela janela
não como revelação,
mas como rotina.
luz que cumpre horário.
levanto, escovo, visto, ando.
não sinto — executo.
me tornei um script,
um conjunto de comandos
rodando em segundo plano.
quando tudo vira protocolo,
até o afeto perde o cheiro.
abraços são cumprimentos,
olhares são confirmações de leitura.
ninguém mais se pergunta o porquê,
só o quando.
e nessa vida enxugada,
onde até a tristeza tem etiquetas,
fico esperando o acaso —
um tropeço na lógica,
um erro do sistema
que me lembre
como era
sentir sem manual.
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