O Grito Sem Rosto
No centro do silêncio havia um som —
mas ninguém o ouvia.
Era um grito que não buscava ouvidos,
mas espelhos.
E nem mesmo o vazio o devolveu.
Era meu.
Era teu.
Era o grito que nunca encontrou o seu próprio eco.
Solto em um mundo de superfícies surdas,
ele vagou como névoa em pedra,
como sombra num campo sem luz.
Chamava por si mesmo —
e nem assim se reconhecia.
Esse grito sabia demais:
sabia que há dores que nascem mudas,
e palavras que, ao serem ditas,
se perdem para sempre.
Ele esperava uma caverna viva,
uma alma côncava o bastante
para lhe dar forma de volta.
Mas encontrou apenas horizontes fechados,
portas que sorriam… e não se abriam.
Ainda assim, ele persiste,
como vento que se finge esquecimento.
E às vezes, no meio da noite,
tu o sentes atrás da tua pele —
sem som,
sem nome,
sem lugar para morrer.
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