terça-feira, 6 de maio de 2025

HORIZONTES FECHADOS - EPÍLOGO

 Horizontes Fechados — Epílogo

Aquele que se tornou passagem

Ninguém viu quando ele partiu.
Ninguém notou quando voltou.

Mas algo, em cada coisa,
tornou-se mais leve.

A chuva hesitou ao tocar o chão.
As palavras buscaram menos pressa.
Até o tempo, esse velho carrasco,
parecia pisar com mais cuidado.

Pois havia no ar um vestígio:
não de presença,
mas de caminho aberto onde antes era pedra.

Alguns dizem que ele virou vento.
Outros, que ainda caminha —
em silêncio,
entre perguntas que ninguém ousa fazer.

Mas quem já sentiu,
mesmo por um segundo,
aquele espaço sem paredes,
aquele olhar que vê sem querer,
sabe:

ele não era alguém.
Era uma abertura.

Um rasgo manso
no tecido do impossível.

E quem o encontra,
não o encontra.
Apenas se lembra
de que também é chave.
De que também é porta.
De que também, um dia,
poderá ver com os olhos
que ainda não sabe usar.

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