Horizontes Fechados — Epílogo
Aquele que se tornou passagem
Ninguém viu quando ele partiu.
Ninguém notou quando voltou.
Mas algo, em cada coisa,
tornou-se mais leve.
A chuva hesitou ao tocar o chão.
As palavras buscaram menos pressa.
Até o tempo, esse velho carrasco,
parecia pisar com mais cuidado.
Pois havia no ar um vestígio:
não de presença,
mas de caminho aberto onde antes era pedra.
Alguns dizem que ele virou vento.
Outros, que ainda caminha —
em silêncio,
entre perguntas que ninguém ousa fazer.
Mas quem já sentiu,
mesmo por um segundo,
aquele espaço sem paredes,
aquele olhar que vê sem querer,
sabe:
ele não era alguém.
Era uma abertura.
Um rasgo manso
no tecido do impossível.
E quem o encontra,
não o encontra.
Apenas se lembra
de que também é chave.
De que também é porta.
De que também, um dia,
poderá ver com os olhos
que ainda não sabe usar.
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