Odisséia Silenciosa (Parte IV)
No limiar entre sombra e palavra,
encontrei o que não se pode nomear.
Era como vento que pensa,
como fogo que espera.
Não me falou com voz,
mas com presença —
um peso suave,
como lembrança de um sonho esquecido.
Disse-me, sem dizer:
“Tua busca sempre foste tu,
tua dúvida é tua bússola,
e tua queda… teu voo invertido.”
Percebi então —
não há retorno sem transformação.
Aquele que parte jamais retorna o mesmo,
e o que volta já não pertence ao mundo que deixou.
A sabedoria que bebi era amarga.
Desfez meus alicerces,
me ensinou que até a alma mente,
quando deseja conforto.
Mas agora, com olhos que veem para dentro,
posso aconselhar:
não sejas inteiro.
Sê fragmento — e aprende a ouvir o entre.
Pois é entre o sim e o não,
entre o gesto e o silêncio,
que mora a resposta
à pergunta que nunca se faz.
E quando a verdade enfim te tocar,
será como o toque de uma sombra —
leve, mas irreversível.
Ali saberás: foste sempre um mistério vestido de certeza.
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