sexta-feira, 2 de maio de 2025

ODISSEIA SILENCIOSA (PARTE IV)

 Odisséia Silenciosa (Parte IV)

No limiar entre sombra e palavra,
encontrei o que não se pode nomear.
Era como vento que pensa,
como fogo que espera.

Não me falou com voz,
mas com presença —
um peso suave,
como lembrança de um sonho esquecido.

Disse-me, sem dizer:
“Tua busca sempre foste tu,
tua dúvida é tua bússola,
e tua queda… teu voo invertido.”

Percebi então —
não há retorno sem transformação.
Aquele que parte jamais retorna o mesmo,
e o que volta já não pertence ao mundo que deixou.

A sabedoria que bebi era amarga.
Desfez meus alicerces,
me ensinou que até a alma mente,
quando deseja conforto.

Mas agora, com olhos que veem para dentro,
posso aconselhar:
não sejas inteiro.
Sê fragmento — e aprende a ouvir o entre.

Pois é entre o sim e o não,
entre o gesto e o silêncio,
que mora a resposta
à pergunta que nunca se faz.

E quando a verdade enfim te tocar,
será como o toque de uma sombra —
leve, mas irreversível.
Ali saberás: foste sempre um mistério vestido de certeza.

Nenhum comentário:

Postar um comentário