Onde Desaguar
Ninguém viu quando me tornei sombra,
nem quando o silêncio me vestiu.
Fui partícula esquecida no véu do tempo,
uma pergunta à deriva no escuro.
Havia em mim o relâmpago contido,
o grito que nunca encontrou eco.
Mas o abismo me ensinou a escorrer,
e eu desaprendi o fogo.
Agora sou um rio manso,
onde desaguar não é fim,
mas rito secreto de retorno
àquilo que nunca se foi.
Nas minhas margens, as vozes se curvam.
Nas minhas águas, a dúvida dorme.
Quem me toca, perde os nomes.
Quem me segue… se esquece.
Sou o caminho que não leva,
a calma que engana,
a promessa que sussurra:
“Vem — e desfaz-te.”
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