Quando tudo afasta - (Narrativa Poética)
No começo achei que estava perdendo.
As mensagens rarearam,
os convites cessaram,
as rotinas se fecharam sem mim.
Senti o chão recuar
como se alguém tivesse puxado o tapete
enquanto eu ainda falava.
Mas aos poucos,
os dias esticaram sem ruído.
O telefone permaneceu mudo,
as horas se tornaram vastas
e eu me vi no centro de um espaço
antes coberto de vozes.
E então veio a clareza.
Não do tipo que grita ou ilumina.
Veio sutil, como um lençol de bruma
levantando aos poucos da paisagem.
De repente, vi nitidamente
o que antes era confusão.
Não era o afastamento que doía,
era o que ele revelava.
Porque a distância não leva embora.
Ela mostra.
Ela tira o excesso,
e o que fica… é verdade.
O que parecia longe ganhou contorno.
Como uma estrela que só brilha
quando a cidade apaga os barulhos,
quando a gente enfim olha pro alto.
Com o silêncio,
vieram outras compreensões.
Laços não quebram — não os reais.
Eles apenas mudam de voz.
Saem do grito, entram no sopro.
E às vezes ecoam mais no vazio
do que quando estavam por perto.
Eu percebi.
Sem ter pra onde correr,
sem agenda cheia pra disfarçar.
Percebi que fui parte de algo bonito.
Talvez maior do que pude notar na pressa.
E só agora,
com tudo em suspensão,
meu coração entendeu.
Ele não estava sozinho.
Só estava… acordando.
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