Horizontes Fechados — Parte III
A Chave que Respira
Quis ver se a chave não era ele mesmo.
E ali, onde todos os caminhos negavam passagem,
voltou-se para dentro
com olhos que ainda não sabia usar.
Despiu-se dos nomes,
das vontades herdadas,
das perguntas vestidas de certezas.
Ficou nu diante do mistério.
Não para vencê-lo,
mas para deixar que o mistério o visse —
sem defesas,
sem disfarces.
E então percebeu:
os horizontes não estavam trancados.
Estavam espelhados.
Fechavam-se, sim —
mas apenas para quem batia com força,
para quem pedia uma estrada que não era sua.
Quando enfim se calou,
quando a busca cedeu lugar à escuta,
uma fresta respirou no horizonte.
Não um portal.
Não um milagre.
Mas uma brisa.
E foi o bastante.
Pois quem se torna chave
não precisa mais de portas.
Atravessa com o gesto,
com o silêncio,
com o simples estar.
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