Horizontes Fechados — Parte V
Portas Invisíveis
Atravessou.
Mas não como se atravessa um limiar —
não houve passo,
não houve som.
Foi um deslizamento sutil,
como o pensamento que se reconhece verdade,
ou o instante em que o medo se cala.
Era uma porta sem bordas,
sem madeira,
sem tranca.
Feita do exato momento em que deixou de buscar.
Do outro lado,
não havia paisagem nova.
Era o mesmo mundo —
mas inteiro.
As folhas tremiam diferente.
O céu respirava mais perto.
Até as pedras pareciam ter algo a dizer.
E o mais estranho:
ninguém notou que ele havia cruzado.
Pois quem vê com olhos não sabidos
torna-se invisível aos que só enxergam com pressa.
Lá,
na quietude do que se abriu sem esforço,
descobriu que atravessar
nunca foi sair —
foi permitir que o dentro
encontrasse o fora.
E onde antes havia um horizonte fechado,
agora havia espaço.
Um espaço tão simples
que só podia ser infinito.
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