Horizontes Fechados — Parte VI
O Espaço Que Ouve
No espaço que não dizia nada,
ele sentiu-se ouvido pela primeira vez.
Não julgado,
não moldado —
apenas escutado em silêncio absoluto.
Era como se o mundo,
agora permeável,
o deixasse existir sem medida.
Sem moldura,
sem fim.
E quanto mais não fazia,
mais o espaço respondia.
A própria quietude do lugar
era uma linguagem que o tocava por dentro,
desfazendo ruídos antigos,
reabrindo passagens que o medo calou.
Ali, percebeu:
não era ele quem caminhava.
Era o espaço que se abria sob seus passos.
Cada gesto pequeno —
um portal.
Cada pausa —
um retorno ao que sempre esteve.
Começou a andar
como quem não carrega o corpo.
Como se fosse feito da própria escuta,
como se o ar já soubesse seu nome antes dele pronunciar.
E enfim compreendeu:
o caminho não levava a um lugar.
O caminho era um estado.
Era ser.
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