O Belo Sem Moldura
Como explicar
o belo que não precisa de moldura,
se o cuidado se dissolve
na ignorância das coisas simples?
O botão que desabrocha
sem testemunhas,
a gota que insiste em cair
de um galho esquecido —
são mais belos
justamente porque não pedem olhos.
Há beleza no que escapa,
no que não se entende,
no que vive sem saber
que está sendo visto.
Mas o gesto de moldurar,
de preservar com zelo,
é também uma forma de amar —
mesmo que falhe,
mesmo que a beleza fuja
no instante seguinte.
Talvez o segredo
seja aceitar:
há beleza que só existe
enquanto passa,
e cuidado que não salva,
mas toca.
E isso, no fundo,
já basta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário