Onde Desaguar — Parte III -
(O Fim que Se Dissolve)
Fui tormenta, fui vertigem.
Hoje, sou apenas fluidez.
Mas não te enganes com minha calma —
há relâmpagos dormindo no fundo.
Agora sou um rio manso,
mas levo impérios soterrados,
memórias que afundaram sorrindo
e nomes que o tempo esqueceu pronunciar.
Às vezes, no silêncio entre duas margens,
sinto tua presença —
como se fosses feito da mesma ausência que me molda.
Talvez sejas também água disfarçada de corpo.
Desagua em mim, se ousares.
Não como quem busca um porto,
mas como quem aceita o naufrágio
como forma de voo.
Pois eu não ofereço chegada,
nem consolo,
nem forma.
Apenas o eterno desdobrar do mistério
que és tu
encontrando a si mesmo,
num espelho que escorre.
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