quinta-feira, 5 de junho de 2025

E O CORPO PEDE MOVIMENTO

 



E o corpo pede movimento

Mesmo quieto,
há algo em mim que pulsa,
que sussurra com urgência:
vai.

O corpo pede movimento —
não só o dos passos,
mas o da alma que dança,
do coração que se abre,
do pensamento que desamarra.

É uma febre mansa
que mora nos ombros,
nas mãos que não querem mais ficar paradas,
na respiração que muda
quando o mundo lá fora chama
e algo em mim responde:
estou aqui.

Não é pressa,
é fluxo.
É o corpo dizendo que cansou de caber
numa moldura parada.

Quero o balé das possibilidades,
o tropeço bonito da tentativa,
a vertigem boa de ser caminho
e não destino.

E se o corpo pede movimento,
que eu ouça.
Que eu não o traia com rotinas áridas
ou com promessas de depois.

Porque às vezes,
a cura começa
no exato instante
em que se dá o primeiro passo.  

 

"Quero o balé das possibilidades,

o tropeço bonito da tentativa,

a vertigem boa de ser caminho

e não destino."        Vicente


 



 


QUE DO SEU CORPO SE FAÇA LUZ

 


QUE DO SEU CORPO SE FAÇA LUZ

 

Se for ela:

que chegue de bem.

Se for ele:

que seja bem-vindo.

 

Que ele tenha

sido feito com muito amor

e possa perceber

que esse amor

supera as convenções;

que ele é

a causa de sua nova imagem,

e que essa

imagem de mulher

gerando VIDA,

há de ser simplesmente

linda.

 

Que ele venha

sorridente,

como luz aspergida

por esses

caminhos afora.

 

Que ele se sinta

esperado

e que essa espera

seja prenúncio

de belos dias

coloridos,

porque esse mundo

que o receberá é BELO.

 

Que ele se faça

imprescindível

em seu coração,

preencha cada

espaço,

cada momento,

e esteja

nas suas

orações protetoras.

 

Que ele não se

considere

estranho em seu ventre,

mas, ao contrário,

integre-se ao

seu ser,

tornando-se

inseparável

enquanto dure a

gestação.

 

Que o seu sangue

flua

no coração dele,

levando vida,

carinho e afeto,

na demonstração

do seu amor

incondicional

por ele.

 

Que ele receba

de você um mundo

comparável à Via Láctea,

cheio de

estrelas reluzentes

de variadas

grandezas,

para que tenha

um céu iluminado

e transforme as noites

em dias claros

de bênçãos,

com coragem,

com destemor,

com decisão de vencer.

 

Que ele perceba

o calor de seus braços,

de seus

músculos,

o aconchego do

seu peito;

alimentando-se

em seu seio,

do seu viver

e da sua paz,

percebendo a

fonte de vida

que flui,

ininterrupta,

para os lábios

dele.

 

Que ele sinta

que chegou em

porto seguro

e se beneficie

dessa luz

dourada e

magnífica

que esplende de

você.

 

Que ele persiga

a felicidade

e seja por ela

alcançado,

e demonstre

a cada instante

que é feliz,

e se alegre pela

oportunidade

de ter nascido

de você.

 

Que ele cresça

se orgulhando

sempre

de ser seu

filho.

 

Que Deus abençoe

a você

pelo momento que

está vivendo;

pela

oportunidade

que está dando à

criação,

de ver recriado em

seu corpo

o emocionante

mistério da vida;

por estar diante

da imensa graça

e

responsabilidade

de ser MÃE.




AGORA É BASTA (Revolta Presente)

 






AGORA É BASTA

(Revolta Presente)

 

O "não" ecoa, mas não me surpreende mais.

Não há recuo, nem virada em direção contrária

à minha natureza, ao que me faz ser.

Seu "não" retumba, mas não me cala.

O eco que outrora tamborilava no ego desnudo

Hoje é grito que rasga o silêncio.

A contundência da recusa não me dispersa,

Não me torna nuvem passageira,

Mas sim tempestade que se forma,

Um catálogo de sentimentos que não mais reprimo.

A irritação transborda, a mágua salta aos olhos.

Nesse olhar que antes me desprezava,

Agora há o fogo da minha própria revolta.

Não mais aceito, não mais me rendo.

É basta.

 

E NESSE BASTA, A TERRA TREME

Porque essa revolta não é um mero surto.

Ela brotou do solo árido de anos de silêncio,

Adubado pela paciência esgotada e pela esperança pisoteada.

Não é de ontem, nem de hoje.

É a explosão de uma semente que teimava em não morrer,

Mas que agora, em vez de flor, se fez vulção.

Não há mais "nuvem passageira" para dissipar a dor,

Só a rocha em erupção, o magma que queima e transborda.

E se antes meu ego era desnudo e calado,

Agora ele se veste de fúria e de verdade.

O desprezo que percebi no seu olhar,

Hoje se reflete no espelho da minha própria determinação.

Não é só um basta dito, é um basta sentido até a alma.

É a quebra da corrente, a libertação do silêncio,

A voz que por tempo demais foi sufocada,

E que agora, finalmente, explode.


AGORA É NÃO

 



AGORA É NÃO

 (Memória Ancestral)


surpreendi-me com a minha reação

que me empurrava em direção contrária

à minha própria natureza

ao meu mais comum raciocínio

assim que percebi seu imenso

“não” reverberando por todos os

meus ouvidos.

calou fundo o eco que tamborilava agudo

no ego mais desnudo.

o efeito da contundência

entretanto

dispersou-se em zilhares de fragmentos

tornando-se nuvem passageira

e nem mesmo cataloguei

o sentimento da recusa

nem mencionei qualquer irritação

naquele olhar de puro desprezo.

 

TEIA INEXPLICÁVEL

 


Teia Inexplicável

 

Dentro de mim,

onde a sombra da pele se encontra

com a luz que sou,

há uma teia.

 

Não a teia do orvalho da manhã

brilhando em fios visíveis,

nem a da aranha paciente

tecendo sua armadilha sutil.

 

Esta é outra.

Feita de ecos de sonhos,

de sussurros de um passado que não lembro,

e a promessa de um futuro que ainda não me chamou.

 

Ela se estende, infinita,

conectando cada fibra,

cada pensamento fugaz,

cada pulsação silenciosa.

 

É a arquitetura de ser,

um mapa sem legenda,

uma sinfonia sem maestro.

 

E nela, respiro.

Nessa poesia que não se escreve,

mas que simplesmente existe,

profundamente,

inexplicavelmente,

em mim.

 

 

A COLHEITA DA LUZ

 


A Colheita da Luz


A esperança não é um raio que rompe a nuvem,

um presente que despenca do alto,

pronto e sem custo.

Ela é um solo que se prepara,

um campo que se cultiva

com a paciência da terra.


O futuro,


esse espaço que desejamos mais luminoso,

não brota do acaso,

nem da inércia dos sonhos.

É a semente que lançamos,

o suor que rega,

a dedicação que nos toma no presente,

que o faz florescer.



A colheita farta,

a abundância que o olhar alcança,

não é um milagre,

mas a ressonância exata

do trabalho de agora.

É o eco fiel de cada mão que planta,

de cada esforço que se doa,

no silêncio produtivo do hoje.



"A esperança é um campo cultivado, não um dom que cai do céu. O futuro mais luminoso é aquele que regamos com esforço e dedicação no presente. A colheita farta é o eco do trabalho de agora."

                                Vicente




GRITO



Grito

 

O eco do nada

na garganta seca.

um berro mudo

que rasga o ar

e não encontra ouvido.

 

o sol de junho,

mesmo em barra do piraí,

não aquece o vazio

deste grito sem rumo,

sem porto.

 

é a voz do deserto em mim,

areia fina que escorre

entre os dedos da memória.

não há lamento,

não há revolta

nem volta.

apenas o som puro

de uma existência

que se recusa a calar,

mesmo sem ter o que dizer.

 

é o ruído branco da alma,

um sussurro amplificado

pela ausência de sentido.

e ainda assim, grito.

grito sem causa,

grito sem propósito.

apenas para saber

que ainda posso.






ISSO É NORMAL

 

ISSO É NORMAL

 

vez por outra estou às voltas com

a pieguice suprema de

precisar de lucidez

e beber o meu único instante lúcido.

de sentir-me cabeça que pensa

de ser coração que corresponde

aos corações

de precisar criar coisas como todo mundo

(coisas que sirvam de base de troca.

coisas que possam ser vistas como algo bom).

eu queria que outras pessoas

além de mim mesmo

pudessem ler o que escrevo

e conversar comigo

com voz amiga

e sentimento materno

e falassem com clareza

que agora já sou lúcido

MOEDA

 

MOEDA

 

Louca coisa (difícil)

essa coisa dinheiro.

Não se chega a um acordo

Mesmo que aproximadamente.

Comparado a alguns,

eu não tenho bastante

e devo querer mais

e trabalhar.

Comparado a outros,

eu tenho demasiado

(e devo sentir que isso é mal,

porque dinheiro não traz felicidade?).

quarta-feira, 4 de junho de 2025

REGRESSO

 

REGRESSO

 

foi a um só tempo mar e chuva

e refez em mim

dias sem cores

delineando-os em prata e dourado

para aquecer vazios de céu e terra.

 

molhou-me a pele pálida

e descansou deitada em mim

tocando-me simultaneamente

meu passado e meu futuro

pedindo-me apenas 

que eu fosse seu.

 

assim o fiz

porque quisera que assim o fosse

enlaçando-a

adentrando seus complexos propósitos

de estar segura em meus braços

que formassem laços

e destacassem

que agora eu seguiria

porque ela também iria

em todos os nossos passos.