sexta-feira, 27 de junho de 2025

VESTÍGIOS SILENCIOSOS

 


Vestígios Silenciosos

 

As palavras, pesadas ou leves,

moldam o ar que respiramos.

Ferem com a mesma agudeza

com que curam, se ditas a tempo.

Cada fonema, um vestígio,

de um pensamento que se fez ponte,

ou um abismo, entre o eu e o mundo.

No emaranhado de sentidos,

a verdade se dobra, se esconde,

um jogo de espelhos e ecos.

 

E a memória, um tecido frágil,

bordada com os fios da linguagem.

O que se diz, o que se cala,

redefine o ontem, refaz o presente.

Cenas embaçadas, vozes distantes,

reanimadas por um termo, um gesto.

Um léxico particular,

gravado nas entranhas do ser,

onde cada palavra é um relicário.

 

O tempo, implacável artesão,

esculpe as frases no vazio.

Apaga algumas, ressalta outras,

dando-lhes novos contornos.

O que foi dito, para sempre flutua,

no espaço entre o antes e o agora.

E o peso das palavras,

revelado na ausência,

no silêncio que se estende,

muito além de qualquer som.

 


 

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