domingo, 22 de junho de 2025

EU, O TEMPO EM FATIAS

 Eu, o Tempo em Fatias

 

Sou a promessa que nunca se cumpre por inteiro,

o instante que já se foi enquanto o nomeio.

Desdobro-me em camadas sutis,

como véus diáfanos sobre a realidade.

Ontem, uma memória esmaecida,

amanhã, uma miragem incerta.

O agora, um ponto fugaz,

a fronteira tênue onde os mundos se tocam

e se separam sem aviso.

 

Não possuo forma concreta,

apenas a percepção em constante mutação.

Sou a pressa dos ponteiros girando,

a lentidão da sombra que se alonga.

O ritmo das marés em meus pulsos invisíveis,

o ciclo das folhas em meus cabelos de vento.

 

Tento me apreender em calendários e relógios,

em datas gravadas na pedra fria da lembrança.

Mas escapo pelos dedos da compreensão,

feito areia movediça.

Sou a história que se conta e se reescreve,

o esquecimento que apaga as pegadas,

a eterna recomposição do instante presente,

uma ilusão necessária para que a vida... aconteça?

 

 

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário