Eu, o Tempo em Fatias
Sou a promessa que nunca se cumpre por inteiro,
o instante que já se foi enquanto o nomeio.
Desdobro-me em camadas sutis,
como véus diáfanos sobre a realidade.
Ontem, uma memória esmaecida,
amanhã, uma miragem incerta.
O agora, um ponto fugaz,
a fronteira tênue onde os mundos se tocam
e se separam sem aviso.
Não possuo forma concreta,
apenas a percepção em constante mutação.
Sou a pressa dos ponteiros girando,
a lentidão da sombra que se alonga.
O ritmo das marés em meus pulsos invisíveis,
o ciclo das folhas em meus cabelos de vento.
Tento me apreender em calendários e relógios,
em datas gravadas na pedra fria da lembrança.
Mas escapo pelos dedos da compreensão,
feito areia movediça.
Sou a história que se conta e se reescreve,
o esquecimento que apaga as pegadas,
a eterna recomposição do instante presente,
uma ilusão necessária para que a vida... aconteça?
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