terça-feira, 10 de junho de 2025

DANÇA IMPROVISADA

 

DANÇA IMPROVISADA

 

Improvisada contra a luminosidade do teto.

Uma silhueta de corpo.

Corpo de nuvem

Brisas do vento

Cheiros da chuva

Ruídos do silêncio.

 

Dançam sons de acalanto

E eu nem me espanto em te ver assim

Acima dos medos

Acima dos credos

Além das mentiras

Aquém das verdades.

 

Eu te improvisei em fantasias

Quando te percebi o cheiro de hortelã

A cor da corola rosa

O balanço fresco das cadeiras ágeis.

Afinal, sua silhueta recortada

Reacende em mim motivos de poesias.

E assim termino

Para não te deixar em maus lençóis.

 

segunda-feira, 9 de junho de 2025

POETIZANDO I

 

POETIZANDO I

 

ficou à espera

de qualquer sonho

qualquer glória

qualquer ambição

qualquer quimera

que trouxesse ao coração

qualquer vitória.

 

juntou palavras

apenas

palavras

que fizessem sentido

articuladas

demonstrando delicadezas

mentiras

amenas

verdades

inventadas

 

percebeu-se menos menina

sem choros

(porque às vezes sentia

sim

vontades de chorar)

sem medo

mas a implorar

coisas ao destino.

 

sentiu nela mesma

um vendaval

parecido com um sopro divino

que a libertou das incertezas

e lhe deu novas alegrias

e se fez poetiza

a entregar-se

às poesias.

 

O ELO DA TRAVESSIA

 


O Elo da Travessia

 

Faça-se em mim o elo, a ponte viva
Que une o que foi ao que ainda virá.
Não a ruptura, mas a trama que se tece,
Onde o antigo e o novo se encontram e se abraçam.
 
Que em minhas mãos se preserve a sabedoria dos séculos,
O pólen das memórias, a força dos que me antecederam.
E que em meu olhar desponte a aurora do porvir,
A ânsia da descoberta, o voo para o inédito.
 
Sou o tempo presente, o ponto de encontro,
Onde a história se curva e o futuro se inicia.
Que em cada batida do meu peito,
O passado encontre eco e o amanhã, sua melodia.
 
Faça-se em mim a fusão, a alquimia do ser, A tradição que inova, a raiz que se projeta. Que o velho me dê substância e o novo, direção, Para que eu seja a travessia, o constante renascer.


POR ONDE FORES

 



Por Onde Fores

Anda, ainda que a estrada
se esconda entre névoas e dor.
Não temas a sombra ou a dúvida:
contigo caminha o Senhor.

O mundo é vasto e incerto,
mas teu passo é firmado em luz.
Sê forte, sê corajoso —
quem te guia é quem te conduz.

Há mãos que não se veem,
mas sustentam teu caminhar.
Há voz que sussurra firme:
“Não pares, eu vou te guardar.”

Então vai, alma valente,
com esperança no olhar.
Pois por onde fores, sempre,
Deus contigo há de estar.

CAMINHO DE DENTRO

 

Caminho de Dentro

Nem sempre o dia vem leve,
às vezes o passo dói.
Mas cada pedra vencida
faz do chão um herói.

Há vento que corta o rosto,
e silêncio que pesa demais.
Mas o tempo, em sua dança,
ensina a ser mais capaz.

A vida não vem com mapas,
nem promessas de mar sereno.
Mas no tropeço insistente,
nasce um coração pleno.

Segue, mesmo que lento,
com fé nos gestos pequenos —
pois quem atravessa a noite
traz nos olhos novos acenos.




O GOSTO DO DESAFIO

 



O Gosto do Desfeito

 

O sabor do que se desfez.

Não é amargo, nem doce.

É a memória nas papilas,

um eco químico na língua da alma.

O resíduo do abraço que se soltou,

do riso que escorreu como areia fina.

 

Uma impressão, um resto,

no fundo da boca do tempo.

Não um gosto que se nomeia fácil,

mas a textura do vazio que sobrou.

Do que foi denso, cheio, presente,

e agora é apenas um rastro,

uma diluição no paladar do que não é mais.

 

É o café que esfriou,

o cheiro da chuva que passou.

A ausência tangível,

um paladar da perda

que não pede lágrimas,

apenas o reconhecimento

de que algo se foi.

E o gosto, ah, o gosto,

permanece.

Um sabor sutil e persistente,

do que se desfez em nós.








O SABOR DO QUE SE DESFEZ

 


O Sabor do Que Se Desfez

 

O sabor do que se desfez. Não um gosto na boca, mas uma sensação que reside mais fundo, na memória das papilas da alma. É o amargor da perda, sim, mas também a doçura fugidia do que um dia foi completo. Um paladar complexo, que não se traduz em notas de café ou vinho, mas em fragmentos de tempo e toque.

 

É o resíduo do abraço que se evaporou, da risada que se calou, do plano que desmoronou. Um gosto residual, que se adere ao palato do pensamento e insiste em permanecer. Não é o azedo da raiva, nem a ardência da tristeza. É algo mais sutil, a essência do que não é mais, mas que, de alguma forma, ainda está ali, presente na ausência, no silêncio que se prova líquido. É o sabor da saudade que se diluiu, deixando apenas a impressão de um gosto que não se nomeia, mas se sente profundamente.

PRESENÇA DILUÍDA

 


Presença Diluída

 

Não um silêncio de ausência de som.

Não o vácuo absoluto, o nada que precede o grito.

Mas um silêncio de presença diluída.

Algo que está, mas não se toca, não se vê,

apenas se sente escorrer.

Como a cor que se apaga na água,

ainda ali, mas sem a intensidade, sem o contorno.

 

É a sombra do que foi, espalhada em cada canto,

uma névoa fina que permeia o ar

e adere à pele.

A ausência não como vazio,

mas como ocupação sutil,

um peso que não se pesa,

uma forma que se desfez,

mas que ainda preenche o espaço.

 

É o respiro que não se ouve,

o movimento que não se vê,

mas que impregna a atmosfera.

Um silêncio que se prova amargo,

porque é o sabor do que se desfez,

do que se tornou parte do fundo,

misturado,

indistinguível,

mas eternamente presente

naquilo que sobrou.

SILÊNCIO LÍQUIDO

 


Silêncio Líquido

 

É um silêncio líquido,

que não se ouve com os ouvidos,

mas se sente escorrer.

Como a água que não faz barulho ao cair,

mas inunda, preenche, ocupa cada fresta.

Não um silêncio de ausência de som,

mas de presença diluída,

de algo que se desfez em fluido.

 

É o silêncio do que se dissolveu,

do que se tornou transparente e denso ao mesmo tempo.

O silêncio que umedece os contornos do que foi,

deixando um rastro molhado na memória.

É o suspiro que não se ouve,

a lágrima que não cai,

a palavra que se afoga antes de ser dita.

 

Um silêncio que se bebe,

amargo e pesado,

escorrendo pela garganta da alma.

Um peso aquoso que se instala no peito,

um lago sem ondas, sem vida aparente,

mas que reflete a imensidão do que se calou.

É o silêncio do café esfriando,

da promessa não cumprida,

da espera que se transformou

em vazio flutuante.

O CAFÉ FRIO

 


O Café Frio

 

O café que esfria sem ser tocado.

Não é só a bebida que perde o calor,

mas a promessa do gole,

o convite a um início de dia,

ou a pausa em meio à tarde.

É um silêncio líquido,

condensando-se em gotas no vidro,

uma testemunha muda

de uma presença que se ausentou,

ou que nunca chegou.

 

A xícara intocada,

um pequeno altar para o desencontro.

O vapor que não sobe,

o aroma que não se espalha.

É a vida em suspensão,

um momento que deveria ser,

mas que se perdeu na névoa

do que não aconteceu.

E a gente observa,

com uma pontada no peito,

o líquido escuro

refletindo a luz fria do ambiente,

um espelho da ausência

que agora ocupa o espaço

onde o calor deveria estar.

 

O Café Frio

 

O café que esfria sem ser tocado.

Não é só a bebida que perde o calor,

mas a promessa do gole,

o convite a um início de dia,

ou a pausa em meio à tarde.

É um silêncio líquido,

condensando-se em gotas no vidro,

uma testemunha muda

de uma presença que se ausentou,

ou que nunca chegou.

 

A xícara intocada,

um pequeno altar para o desencontro.

O vapor que não sobe,

o aroma que não se espalha.

É a vida em suspensão,

um momento que deveria ser,

mas que se perdeu na névoa

do que não aconteceu.

E a gente observa,

com uma pontada no peito,

o líquido escuro

refletindo a luz fria do ambiente,

um espelho da ausência

que agora ocupa o espaço

onde o calor deveria estar.