terça-feira, 8 de abril de 2008

SUSSURROS DO IPÊ AMARELO

 

Sussurros do Ipê Amarelo


Eu caminho sob a copa do ipê,

meus pés afundando levemente

na manta amarela das flores caídas.

Cada pétala, uma pequena vela,

apagada pelo vento.

O cheiro de terra úmida

mistura-se ao perfume doce e efêmero

que as abelhas ainda buscam.

 

Eu toco o tronco rugoso,

sinto a vida pulsando em suas raízes profundas,

invisíveis.

Como eu, ele se ergue,

resistindo às estações,

às chuvas que lavam,

ao sol que queima.

Minhas mãos se perdem

nas fissuras da casca,

linhas que contam histórias

de invernos e primaveras renascidas.

 

Olho para o céu,

azul intenso entre os galhos vazios,

e vejo meu próprio reflexo

na folha verde que ainda se agarra, teimosa.

Um sopro, um murmúrio,

e ela também se solta,

girando em sua dança final,

antes de se juntar ao tapete dourado.

Eu me agacho, pego uma flor,

sua textura macia entre meus dedos.

É tão frágil, tão vibrante,

tão presente.

 

É o instante.

O ipê não pergunta

por que suas flores caem.

Ele apenas as entrega.

E eu, em meio a essa beleza que se despede,

sinto uma paz estranha,

como se cada pétala fosse

um pequeno adeus

que me ensina a aceitar

o fluxo constante das coisas.

E meu coração, um pouco mais leve,

sussurra de volta:

"Obrigado."

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

A TINTA DA ALMA

 

A Tinta da Alma

Havia um vazio, um espaço sem cor,

Onde a palavra indelével flutuava,

Sem âncora, sem o peso do real.

Um conceito bonito, sim, mas distante,

Como uma estrela que se vê e não se toca.

 

Mas aí seus olhos cruzaram os meus,

E um estalo, um choque de cores,

Fez o abstrato descer, fincar raízes.

Não foi preciso um juramento solene,

Bastava a curva do seu sorriso, o jeito

Que sua mão se encaixava na minha.

 

Indelével, entendi agora.

É o eco da sua risada nos dias cinzentos,

A lembrança do seu abraço que me aquece a pele,

Mesmo quando a distância tenta nos impor seu frio.

É a melodia de um instante, que ressoa,

Para além do tempo, sem se desmanchar.

 

Não é um rascunho em papel efêmero,

Mas a tatuagem que a vida quis em nós.

Marcada não por dor, mas por amor puro,

Cada detalhe seu, um traço firme,

Infundido na fibra mais íntima do meu ser.

 

Com você, a teoria se dissolveu na prática,

E o dicionário ganhou um novo sentido.

Indelével é o que somos juntos,

A essência que permanece, viva e pulsante,

Mesmo que o mundo tente apagar nossa luz.

É a prova de que certas coisas

Não se desfazem, nunca.

Você é a tinta que coloriu minha alma,

E fez o indelével existir.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

 

06 dezembro 2007

CALÇADAS



eu lhe encontrei
ao abrir-se
de calçadas
e supermercados
conforme o combinado
com os nossos destinos.

encontro.

trouxe chegança de espera
em mim
e me vejo de braços
com a saudade.

você chega e traz a lembrança.

rima fresca
e boa
para
esperança.
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Vicente
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"A vida se mantém um enigma, apesar das tentativas milenares de explicações, justificativas, esclarecimentos, elucidações. .."
Dora Vilela

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publicado originalmente em 06/02/07
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6 comentários:

Andréia . disse...

hummmmm
adorei os doces suculentos.
suculentos como os seus, não tinha provado ainda, rsssss.
muitos ....
poetamigo

Andréia . disse...

rsssss
vc é demais amigos.
Com vc aqui tudo é bem mais legal, obrigada por td.
Sabe que to com muita saudades do blog, sem tempo pra ele,mas não sem tempo pros amigos.
Outros e outros

Anônimo disse...

Vicente! "Estava eu posta em sossego..."rs, porque ninguém é de ferro, e não ando postando e nem comentando os amigos(férias bloguísticas...), quando vou dar uma olhadela rápida e vejo você no meu bloguinho!!! Caramba! Quase caí no teclado...rsrs Exageros à parte, pensei que você andasse longe!!!!!!!
Que delícia que está aqui, com a "doceria" em plena atividade!
E estou escondida (aqui)...porque não devia vir aqui e não ir aos demais...rs
Beijos, Vicente.
Logo voltarei.
Obrigada!!!!!! por tudo!
Dora

Andréia . disse...

aiii
Se vc disse eu acredito...
Tb tenho um pouco de medo de mim, às vezes falo muito, deixo as pessoas acoadas...
Que bom saber que contigo foi diferente.
Muitos beijos amigo

Anônimo disse...

Nao temer as palavras nao é fácil.palavras doces ,sao ótimas;palavras menos doce sao dificeis...mas palavras sao palavras e os poemas precisam de todas elas.Viajo pelos blogs e aqui e ali me encanto,me arrepio,me inqueito,me consolo,desconsolo,rio,quase choro...Sao as palavras(as ideias) que acabam abrindo a alma.Sem preconceito eu as recebo(nem sempre as minhas sao bem recebidas.Ossos do ofiício de poeta e humano!)Tudo bem>que tenham 3 a ouvir as bobeiras que digo...vai bem.Falar é exercicio de viver...difil,meu caro...mas nao temos outra arma tao poderosa como as palavras.Obrigadao pela força(sobreviver é comum aos poetas.)vou sobrevivendo.

diovvani mendonça disse...

Tá vendo amigo Vicente, você quase fez a Dora cair do teclado. Isso é bom, assim ela volta logo. MOntanhosoAbraço.

terça-feira, 19 de junho de 2007

O PESO LEVE DA NOSTALGIA

 

O Peso Leve da Nostalgia


Eu sento no banco da praça,

o sol da tarde pintando as folhas das árvores

com um dourado suave e melancólico.

Vejo as crianças correndo,

suas risadas leves e soltas

como as folhas que o vento carrega.

E em mim, uma sensação familiar se instala,

um peso leve,

quase etéreo,

que reconheço como nostalgia.

 

Não é a tristeza cortante da perda,

nem a angústia do que não foi.

É algo mais sutil,

como a poeira dourada que dança nos raios de luz.

É a lembrança de verões distantes,

de abraços que hoje só existem na memória,

de conversas que se perderam no tempo,

mas que ainda ecoam em meu peito.

 

Eu sinto o cheiro de grama molhada após a chuva,

e sou transportado para a infância,

para os joelhos ralados,

para o gosto de terra e aventura.

Escuto o latido de um cão no quarteirão vizinho,

e me vem à mente o meu primeiro amigo de quatro patas,

sua lealdade incondicional,

seu olhar doce.

 

É um paradoxo, essa nostalgia.

Um fardo que, de alguma forma, me eleva.

Ela me lembra do que já vivi,

da riqueza das experiências que me moldaram.

É a âncora do passado que me mantém conectado

às raízes do meu ser,

às versões de mim mesmo que já não existem,

mas que deixaram suas pegadas no caminho.

 

Eu fecho os olhos,

e por um instante, estou lá,

naqueles dias que já se foram.

Quando os abro,

o sol ainda brilha, as crianças ainda correm,

e o mundo continua em seu fluxo constante.

Mas eu sinto uma doce melancolia no peito,

uma gratidão silenciosa

por todas as memórias que carrego,

tornando o presente mais denso,

mais significativo.