quarta-feira, 15 de junho de 2011

O FIO TÊNUE

 

O Fio Tênue

 

E no fio tênue, a dança.

Não é leve, não é livre,

é a dança da hesitação.

Cada passo, um cálculo,

um sopro de ar, uma ameaça.

 

Respirar dói,

como se o ar fosse agulhas finas

costurando a incerteza na pele.

E o vazio, ali embaixo,

não é um convite,

é uma verdade que espera.

 

O equilíbrio é precário,

uma miragem.

E a cada balanço, a sensação

de que o fio se desfaz,

pedaço por pedaço,

dissolvendo-se no nada.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

NOVA CALIGRAFIA DA ALMA

 

Nova Caligrafia da Alma

 

Eu escrevia a minha história com traços hesitantes,

Uma letra miúda, quase ilegível,

Cheia de vírgulas de dúvida e pontos finais de medo.

As margens, apertadas, mal permitiam respirar,

E o enredo, ah, o enredo era só o que esperavam de mim.

 

Mas então veio um sopro, uma brisa nova,

Que não pediu licença, apenas chegou.

E, de repente, a pena que eu segurava,

Não era mais a mesma.

Não era uma quebra, era um redesenho.

 

Você chegou, ou talvez foi a vida em si,

E mostrou que existiam outras tintas,

Cores vibrantes que eu não ousava usar.

A caligrafia da minha alma mudou.

Os garranchos viraram curvas suaves,

As linhas retas, agora dançam em arabescos.

 

Não é mais um texto a ser lido em voz baixa.

É um poema de traços largos, em negrito,

Com espaços para o imprevisível,

E uma fluidez que eu nem sabia que tinha.

A tinta é a coragem, o papel é a liberdade,

E cada palavra é um passo novo, sem receio.

 

Hoje, minha alma escreve sem pausas forçadas,

Com um estilo que é só meu, sem cópias.

Os erros viraram rascunhos de aprendizado,

E as páginas em branco, convites à criação.

É um novo eu, com uma nova caligrafia,

Mais autêntica, mais bonita, mais eu.

E o melhor? A história está apenas começando.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

CREPÚSCULO DO EU DESPEDAÇADO

 

Crepúsculo do eu despedaçado

No crepúsculo do eu despedaçado,
a luz se parte em tons indecisos,
meus cacos brilham como espelhos gastos
de um tempo que já não me reconhece.

Há algo de sagrado na ruína —
um cansaço que se curva em silêncio,
um adeus que não sabe do fim,
mas ainda insiste em acenar.

Cada fragmento do que fui
se deita sobre a sombra longa
de um dia que não quis terminar,
como se a noite pedisse perdão
por chegar tão tarde.

No crepúsculo do eu despedaçado,
descubro que sangrar também é forma
de ver beleza onde ninguém vê —
e que a dor, quando se põe,
deixa um fio dourado
entre o que sobrou
e o que virá.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

UNIVERSO SILENCIOSO

 Universo Silencioso

Dentro de mim,
um universo de palavras sufocadas
gira em silêncio.

Não explode,
não reclama,
mas pulsa —
como estrela que ninguém vê.

Há frases inteiras
presas na garganta,
com o peso de constelações.

Segredos antigos,
nomes que nunca chamei,
despedidas que não couberam no tempo.

Tudo orbitando
no espaço estreito
entre o que sinto
e o que deixo escapar.

Às vezes,
me sento no centro do peito
e escuto.

As palavras querem nascer,
mas temem o ar,
a forma,
o depois.

Então ficam.
E esse ficar
vai me tornando
galáxia calada,
coração com céu demais

sexta-feira, 20 de maio de 2011

SE TIVER, EU PREFIRO

 

Se Tiver, Eu Prefiro

 

Músicas que dançam no ar,
A leveza de um dia sem planos,
A brisa suave acariciando a pele.

Se tiver, eu prefiro.


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

RECONHECIMENTO

 Reconhecimento

 

Reconheci algo familiar no espelho.

Não o traço exato de ontem,

nem a promessa de amanhã.

Mas um brilho no fundo do olhar,

uma ruga que contava uma história

que só eu conhecia.

 

Não era a perfeição que se busca,

nem o estranho que a vida nos impõe.

Era a essência que resiste,

o fragmento de um eu antigo

que teima em permanecer.

 

Naquele reflexo,

o tempo e as transformações se fundiam.

E ali, entre o novo e o que sempre foi,

encontrei a paz de saber

que, apesar de tudo,

ainda sou eu,

com as marcas e os mistérios,

mas com a mesma alma

que sempre me habitou.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

INCRUSTAÇÕES

 

Incrustações

Tuas ausências
ficaram incrustadas em mim —
não como cicatriz,
mas como mineral raro,
silencioso,
duro.

não sangram,
mas pesam.
não gritam,
mas moldam o tom
com que digo o teu nome
(ou não digo).

às vezes me movo
e ouço o som
delas dentro de mim,
como se a memória
fosse feita de cacos
reverberando em ossos.

teu não-gesto,
tua não-presença,
se fizeram matéria.
e hoje carrego
teu vazio
como quem carrega
um medalhão
sem retrato.

domingo, 26 de dezembro de 2010

ECO FIEL

 

O Eco Fiel

 

Eu sou um reflexo de mim,

parecido com o original.

Não a cópia exata, sem alma,

mas a sombra que dança,

o espelho que me devolve

com uma nuance sutil.

 

Há algo de familiar no meu traço,

na curva do meu olhar,

como se eu fosse a memória viva

de quem um dia eu fui.

Mas também há um brilho novo,

uma leveza que a idade traz,

ou a dor que a gente aprende

a carregar sem peso.

 

Sou a versão reeditada,

o mesmo livro com outra capa.

Reconheço o autor,

e a história segue a mesma.

Mas a cada página virada,

a tinta parece mais minha,

e a voz, mesmo que eco,

ganha uma melodia

que só o tempo ensina.

domingo, 8 de agosto de 2010

MONTANHA RUSSA EMOCIONAL

Montanha Russa Emocional


O trilho não avisa
quando desaba,
nem o coração avisa
quando é tarde demais.

desci sem querer,
sem cinto,
sem mãos pro alto —
só a garganta presa
e o estômago no meio da alma.

não aguentei
me ver
em pleno luto,
entre o café da manhã
e a notificação ignorada.

me vi no espelho:
desfocado,
com olhos de gente que já chorou
e se esqueceu como para.

o mundo lá fora gritava
coisas como “reage”
ou “vai passar” —
mas quem grita de fora
não ouve o que implode por dentro.

em tempos assim
nem dói mais
como dor.
é só um silêncio contínuo
vestido de corpo.

mas ainda me reconheço
no fio tênue entre o abismo
e um poema.

e às vezes
isso basta.


quinta-feira, 29 de julho de 2010

EXISTE VIDA APÓS O PONTO FINAL?

 

Existe Vida Após o Ponto Final?

 

Não a vida que se respira,

nem a que se toca.

Mas uma persistência.

 

A palavra dita,

mesmo encerrada,

vibra no ar.

 

É a memória do que foi lido,

o rastro deixado na mente,

o eco de uma ideia.

 

O ponto final não é um túmulo,

mas um portal.

Ele lança a frase

para a eternidade do pensamento.

 

Ali, no silêncio que se segue,

a vida da frase se expande.

Ela se torna parte do leitor,

se mistura às suas próprias verdades,

se transforma em semente.

 

Então sim,

existe uma vida.

Não na tinta, nem no papel,

mas na ressonância.

 

Uma vida que não se apaga,

que se propaga,

infinitamente,

além do que o olho vê

e o ouvido escuta.

 

Meu espelho agora começou a me observar quando eu o encaro.

Seus olhos de vidro, antes inertes,

parecem absorver minha imagem,

refratar minha alma.

Não há reflexo, mas um registro.

Uma tela viva

onde o que foi,

e o que se torna,

permanece.

E a vida, então,

não é apenas o que se move,

mas o que se reflete e se guarda,

em cada instante,

após o ponto final.