domingo, 15 de junho de 2014

PLENITUDE NA VASTIDÃO DO NADA

 

Plenitude na Vastidão do Nada

 

E a plenitude na vastidão do nada, o ápice do paradoxo,

onde o vazio não é falta, mas presença absoluta.

Não é um espaço oco à espera de preenchimento,

mas o próprio infinito que se revela em sua essência.

 

É a liberdade de não ter contornos, de não ter limites,

a paz de ser tudo e nada ao mesmo tempo.

Nesse "não-lugar", a mente se aquieta,

e a existência transcende a forma, o nome, o peso.

É a perfeição do ser desprovido,

onde a completude nasce da ausência de tudo,

e o silêncio se torna a sinfonia mais rica.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

A EPIFANIA DO FIM DO VASTO

 

A Epifania do Fim do Vasto

O instante veio sem aviso, como a chegada de uma mosca, mas com o peso de um meteoro. Eu estava ali, debruçada sobre o parapeito da janela, ou talvez sobre a mesa de plástico de um café qualquer, onde o cheiro de café requentado pairava como uma névoa de rotina. Havia um prato à minha frente, vazio, e um copo com marcas de dedos. O mundo visível, com sua insistência teimosa, desenrolava-se lá fora: o ir e vir de pessoas que não me viam, o cinza exato do asfalto, o semáforo que mudava com uma regularidade exasperante.

 

E então, aconteceu. Aquele "eu" vasto, oceânico, que até então parecia conter constelações inteiras, abrigar silêncios que reverberavam em outros universos, sentir a dor de todas as existências passadas e a alegria de todas as futuras — esse "eu" começou a encolher. Não foi um colapso súbito, mas uma retração lenta, quase imperceptível, como a maré que recua e revela a areia antes submersa.

 

Aquele meu universo interior, antes ilimitado e feito de matéria onírica e de pensamentos que se gestavam em bolhas de ar e luz, de repente bateu nas paredes. Nas paredes lisas e inquebráveis do agora. Do concreto. Da voz do vendedor de pão, do choro de uma criança na rua, do tic-tac do relógio que me lembrava que o tempo, o tempo exterior, aquele que se mede e se gasta, continuava. Sem que eu pudesse fugir.

 

O assombro não era de terror, mas de uma compreensão gélida: toda aquela vastidão, toda a complexidade e os abismos que eu construíra dentro de mim, tudo aquilo esbarrava no pão, na conta de luz, na necessidade de respirar um ar que era o mesmo para todos. Minha alma, antes uma galáxia em expansão, sentiu-se aprisionada na caixa de um corpo, na dimensão exata de uma cadeira de plástico, na duração de um gole de água.

 

E a epifania se deu na desilusão singela: que o mais profundo de mim, o mais complexo e indizível, era, afinal, obrigado a se dobrar à simplicidade brutal do existir. Que o "eu" não era um universo autônomo, mas uma bolha frágil, flutuando à mercê do vento monótono do mundo, do mundo visível. E que a grandiosidade da minha consciência, por mais que se esforçasse, teria sempre de se encaixar nas gavetas apertadas do cotidiano. E isso, por um instante, foi insuportavelmente claro. E chato. E real.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

SINAIS NA JANELA

 

Sinais na Janela

Através do vidro embaçado
vejo luzes piscando,
sinais mudos
de quem habita outros mundos

cada janela é um segredo
um olhar que se esconde
uma história que insiste
em se contar na penumbra

há vidas que se cruzam
sem se tocar
e vozes que ecoam
no silêncio da distância

os sinais na janela
são pontes invisíveis
entre solidões partilhadas
e esperanças guardadas

e mesmo na noite fechada
há um brilho tênue
que diz: estamos aqui.



quinta-feira, 22 de maio de 2014

AS RAÍZES DO CÉU

 

As Raízes do Céu

não meço o alto
pelos olhos —
mas por aquilo
que me sustenta por dentro

o céu tem raízes
na esperança miúda
que brota no meio da pressa
na fé que insiste
mesmo quando nada responde

há galhos invisíveis
ligando minha alma
a um azul que não se vê
mas sente

me alimento de nuvens
e de silêncios
e de promessas
que ainda não nasceram

o chão é necessário,
mas não definitivo

sou feito também
do que não toca o chão
do que cresce em direção
a algo que me chama
sem explicar

as raízes do céu
me mantêm de pé
mesmo quando tudo em volta
cai

AURORA EM MIM

 

Aurora em Mim

não acordei —
renasci devagar
como quem já chorou
e agora sorri sem pressa

dentro do peito,
o céu abriu
sem alarde,
sem anúncio,
mas cheio de cor

há uma luz nova
me atravessando
não como farol,
mas como brisa
que aquece de dentro

não preciso mais vencer o dia
basta estar
acordado o bastante
para ser inteiro

a noite ainda mora em mim
mas já não manda

porque há aurora
mesmo em olhos
que aprenderam
a ver no escuro

quarta-feira, 9 de abril de 2014

ESPAÇO VAZIO DENTRO DE MIM

 

ESPAÇO VAZIO DENTRO DE MIM

Há um lugar em mim
onde o silêncio se acumula,
como se o som nunca tivesse sido
realmente permitido entrar.

Os dias passam,
e o vazio cresce
como uma sombra silenciosa
que se estende em cada esquina interna.

Não há pressa para preencher
nem urgência para entender,
apenas uma espera lenta,
um espaço inusitado
que não sei se devo habitar.

A cada suspiro,
o eco se expande
e o vazio toma forma
sem pedir licença.

Eu me observo ali,
nesse buraco que se forma sem querer,
um pequeno vácuo onde as palavras
não chegam a completar o que falta,
onde a sensação de estar
parece se perder na distância do eu.

Nada parece se ajustar,
como se tudo se desencaixasse
e eu fosse,
nesse fragmento de tempo,
uma curva imperfeita,
aguardando uma resposta
que não sei qual é.

Mas o vazio persiste,
não é vazio em si,
é só a falta de algo
que ainda não se tornou
parte de mim.