terça-feira, 9 de maio de 2017

FLAGRADOS

 Flagrados

não podia estar lá
quando queria estar aqui,
nesse jogo de abraços
que anseia pernas tocadas,
no risco de sermos descobertos.

não ousara dizer não ao momento,
ao encantamento,
ao toque de Midas
que transforma
o cinza da frente fria
em dourado
de calor generoso.

são bocas sabendo a graça
de se esconderem
uma na outra,
uma pra outra,
na exploração
que não conhece fadiga
e não suporta a tirania
dos ponteiros
dos relógios.

por isso, o escorregão
no atraso
denunciou os cheiros
e as perguntas
sem respostas,
sem explicações.

sábado, 6 de maio de 2017

PENSAMENTOS ATROPELADOS

 

Pensamentos Atropelados

Corri sem rumo,
e as palavras tropeçaram nos meus pés.

Pensei em te dizer tudo,
mas os pensamentos se atropelaram,
uns batendo nos outros,
desabando em silêncio.

Era amor,
era medo,
era urgência,
era não saber ser.

No meio da confusão,
eu te olhei —
e bastou.

O que não cabia na fala,
se ajeitou no brilho dos olhos.


PENSAMENTOS ATROPELADOS (Versão Livre)

 

Pensamentos Atropelados (versão livre)

atropelo —
esbarro nas palavras
corto esquinas do que sinto
não encaixo frases,
não domino o caos.

te penso — te fujo — te busco
tudo junto,
sem linha reta,
sem ponto final.

uma ideia atravessa a outra,
feito carros numa rua sem semáforo,
e eu no meio,
tentando lembrar
por que mesmo eu queria falar?

(aí você sorri)

e a cidade inteira silencia.

PENSAMENTOS ATROPELADOS (Versão Minimalista)

 

Pensamentos Atropelados (versão minimalista)

penso — tropeço — calo.

te vejo
e o mundo desaba
num piscar.

sem mapa,
sem aviso,
sem defesa.

só você,
e eu
esquecendo
tudo.


segunda-feira, 10 de abril de 2017

sábado, 8 de abril de 2017

OS QUE OUVIRAM, OS QUE FUGIRAM

 

Os Que Ouviram, Os Que Fugiram - Capítulo IV

A voz havia sido lançada
como raio que não toca a pele,
mas arde por dentro da essência.

E a Terra estremeceu —
não por terremoto,
mas porque corações se dividiram
como mares diante do vento antigo.

Os que ouviram…
pararam no meio de seus caminhos.
Sentiram a espinha gelar com ternura,
e os olhos se encheram de memória
sem saber do quê.

Um lavrador largou sua enxada,
e ajoelhou sem saber por que.

Uma criança, sem entender o que era fé,
sorriu para o céu e disse “eu lembro”.

Um velho cego, num banco de praça,
chorou, porque viu.

Mas nem todos quiseram escutar.

Alguns taparam os ouvidos com promessas vazias.
Outros riram —
como se a Eternidade fosse brincadeira
inventada por homens cansados de viver.

“É só vento”, diziam.
“É só emoção.”

E voltaram a dormir
em camas que não os sonhavam mais.

Mas para os que ouviram,
mesmo sem entender,
algo mudou.

As árvores pareciam dizer seus nomes.
O tempo caminhava ao lado deles.
E onde antes havia ruína,
brotavam janelas para o alto.

Na Cidade Suspensa,
os sinos tocaram sozinhos.

No Trono Vivo,
Cristo sorriu —
pois a Palavra não volta vazia.