À Margem do Tempo
(Explorando a ideia de felicidade adormecida na poeira do tempo e no não pertencimento)
Há uma
casa no fim do agora, onde a poeira não se assenta de todo, apenas flutua,
preguiçosa, nos feixes tênues de uma luz que não chega.
Foi lá
que a felicidade dobrou seus lençóis de riso, arrumou a cama com cuidado, e se
deitou para um sono sem pressa, sem despertador, sem sol na janela.
É um
lugar de ninguém, sem nome no mapa dos sentimentos, sem placa indicando a
direção. Um interstício entre o que foi e o que não é mais, uma terra de
fronteira onde as pegadas não deixam rastro.
E ela
dorme, embalada não pelo ritmo do coração que pulsa forte ou do passo que
caminha firme, mas por uma cadência suave de não pertencimento. Um balanço
lento, como um barco à deriva em águas calmas, sem porto de chegada, sem âncora
para fincar.
A poeira
do tempo a cobre como um véu, sutil, quase invisível. Ela respira devagar, um
sopro que não move o ar estagnado. E lá fica a felicidade, adormecida, no
silêncio particular do lugar de ninguém, esperando um chamado que talvez nunca
venha, enquanto o ritmo do não pertencimento ecoa na vastidão vazia.