quinta-feira, 8 de maio de 2025

FÉ DE RETALHO (poema/música

 fé de retalho (poema/música)

minha fé
é feita de retalhos.
costurada com medo,
remendada com dúvida,
lavada no choro da noite.

não tem brilho de vitral,
nem firmeza de sermão.
mas me cobre
quando tudo o mais some.

às vezes escapa do varal,
se molha de novo,
fica pesada.
mas seca ao sol,
teimosa,
e volta pra me abraçar.

fé de retalho
não enfeita catedral,
mas me veste
com o pouco que resta.

FÉ EM REPOUSO

 

fé em repouso

não foi dramático.
não teve queda do céu,
nem rompimento com trovões.
a fé só sentou num canto
e disse:
“me dá um tempo.”

tava cansada de prometer milagres
com o corpo em ruínas.
de sorrir com a alma desalinhada.

ficou em repouso,
com os olhos entreabertos,
como quem ainda crê —
mas com febre.

ninguém ensinou que fé também adoece.
que ela precisa de colo,
de silêncio,
de cuidado.

não sumiu,
não quebrou.
só parou de correr
pra não morrer atropelada
pela pressa de crer.

fé em repouso
ainda é fé.
mais lenta,
mais baixa,
mas inteira.

esperando o momento certo
de voltar a andar.

FÉ EM REPOUSO (Letra de Música)

 

fé em repouso
(letra de música)

[Verso 1]
não foi queda,
não teve trovão.
a fé só sentou no canto
e pediu perdão.
tava cansada
de curar ferida
com o corpo em ruínas,
com a alma partida.

[Verso 2]
ninguém contou
que até a fé adoece,
que também sente medo,
que também se esquece.
ela só quis
um pouco de silêncio,
um colo calmo,
um tempo sem exigência.

[Refrão]
fé em repouso
ainda é fé.
tá mais lenta,
mas ainda é.
não sumiu,
só descansou
do peso de crer
quando tudo doeu.

[Verso 3]
não se quebrou,
só desacelerou.
pra não ser atropelada
pela pressa de amar,
pela pressa de rezar,
pela pressa de sentir
o que ainda não veio.

[Refrão final]
fé em repouso
ainda é fé.
tá deitada,
mas não é queda.
é semente
quieta na terra
esperando a hora
de florescer.

quarta-feira, 7 de maio de 2025

FÉ FICOU FERIDA (Spoken World)

 

fé ficou ferida (spoken word)

fé...
ficou ferida.
mas ninguém —
ninguém viu o corte.
foi por dentro,
entre um “vai dar certo”
e o vazio que veio depois.

ficou ali —
quieta,
em silêncio de hospital,
tentando lembrar
por que começou
a acreditar.

foi quando orou…
(nada mudou.)
quando pediu…
(só piorou.)
quando fez tudo certo…
e o mundo
riu.

fé não morreu.
mas parou de correr.
anda arrastando os passos,
sem promessa,
sem hino,
sem resposta automática.

e mesmo assim…
mesmo assim —
ela ficou.

ferida,
mas fiel.
cansada,
mas constante.
sem palco,
sem glória,
só o peso da teimosia
e o sopro da alma que não desistiu.

fé virou carne viva.
sem maquiagem,
sem certeza.
acredita agora
com menos barulho

e mais verdade.


FÉ FICOU FERIDA (Poesia Acústica)

 

Fé Ficou Ferida
(poesia acústica)

fé ficou ferida,
mas ninguém viu o corte.
foi interno,
entre um “vai dar certo”
e o silêncio depois da tentativa.

ficou ali, quieta,
enrolada em gaze,
tentando lembrar
por que começou a acreditar.

foi quando orou
e nada mudou.
foi quando pediu
e só piorou.
foi quando fez tudo certo
e o mundo riu da cara dela.

fé não morreu,
mas parou de correr.
anda devagar,
arrastando um pé atrás do outro,
com um cansaço que não se explica
em versículo.

e mesmo assim…
ela não largou da gente.

ficou, mesmo ferida.
sem aplauso,
sem palco,
sem glória.

ficou por amor,
por teimosia,
por um fio de luz
que ainda atravessa a trinca do peito.

fé ficou ferida,
mas virou carne viva.
e agora acredita
com menos barulho
e mais verdade.

FÉ TAMBÉM FALHA

 

fé também falha

fé também falha.
não é sempre chama,
às vezes vira brasa escondida
debaixo do cinza dos dias.

nem toda fé levanta a gente.
algumas só se arrastam,
puxando o corpo junto,
feito corrente sem âncora.

fé também esquece o caminho.
confunde sinal com ruído,
confunde voz com eco,
confunde milagre com coincidência.

às vezes, ela desliga.
sai pra fumar.
nos deixa sozinhos
com os boletos,
com os exames,
com a mensagem não respondida.

e tudo vira silêncio
onde antes havia mantra.

mas, curioso —
é aí que a fé mostra outro nome:
não força,
não glória,
mas permanência.

ela falha, sim.
mas fica.

se arrasta
ao nosso lado,
mesmo cansada,
mesmo em dúvida,
como quem diz:
“não sou certeza,
mas sou tua.”

FIEL NAS FALHAS - A Respeito da Fé

 fiel nas falhas - a respeito da fé

ela não faz milagres.

não cura com um toque,
não move montanhas
sem empurrar pedra por pedra.

mas anda comigo.
mesmo quando não acredito,
mesmo quando a voz dela
é só um fio rouco dentro de mim.

fé, pra mim,
não é luz que acende o escuro.
é o escuro inteiro,
e o passo ainda assim.

ela hesita,
ela se cala,
ela também quer saber
se vai dar certo.

e mesmo assim,
vai.
não pela certeza,
mas porque parar
seria trair a própria dúvida.

fé é essa amiga
que não sabe consolar,
mas segura minha mão
quando tudo aperta.

não promete final feliz —
mas jura que fica
até o último ponto de interrogação.

FÉ TAMBÉM FALHA (Letra de Música)

 

Fé Também Falha
(Letra de música)

[Verso 1]
Fé também falha,
nem sempre é chama,
às vezes se esconde
no meio da lama.
Não levanta a gente,
não aponta estrada,
só caminha junto
mesmo cansada.

[Verso 2]
Fé também some,
sai pra respirar.
Deixa a gente à toa
sem saber rezar.
Confunde o milagre
com coincidência,
esquece as palavras,
perde a cadência.

[Refrão]
Mas ela fica,
meio torta, meio nua.
Não é certeza,
mas ainda é sua.
Não diz “vai dar certo”,
só diz “tô aqui”.
E às vezes, é isso
que salva de si.

[Ponte]
Ela tropeça,
ela chora baixinho,
mas caminha ao lado,
mesmo sem caminho.

[Refrão final]
Porque fé também falha,
e tudo bem.
Se ela não carrega,
ela vem.
Vem do jeito dela,
meio sombra, meio luz —
mas vem.

ANTÍTESE MODORRENTA

 

Antítese Modorrenta

No vão da tarde entediada,
quando o sol boceja preguiça,
dança lenta a ideia alada
com a razão que nunca se atiça.

É quando o verbo se contradiz
sem pressa, sem convicção —
uma briga que pede bis
no silêncio da contramão.

Antítese modorrenta,
palavra que se espreguiça,
que vive entre o sim e o não
sem querer tomar notícia.

O claro flerta o escuro,
o grito se deita no sussurro,
e o tempo, meio surdo,
esquece o próprio curso.

Nessa rima meio morta,
nessa lógica sonolenta,
tudo é tudo e nada importa
na antítese modorrenta.

LIBERDADE DO MISTÉRIO

 

Liberdade do Mistério

em cada canto oculto,
onde o silêncio mora,
há um mistério interno,
como chave para a liberdade.

não é prisão,
não é fuga,
é o espaço onde sou eu,
sem máscaras, sem véus.

no mistério, encontro
a liberdade que não se encontra,
não se busca,
mas se vive.