quarta-feira, 4 de junho de 2025

RECUERDOS

 

RECUERDOS

 

e te encontrei

em meio aos naufrágios

na ânsia de tanto esquecer

os desprezos

os desmazelos

as lancinantes

espetadas

do/no

coração

 

porque era a hora

do lanche apressado

para se fazer presente na reunião.

 

e todas as possíveis palavras

improváveis

ficaram para o momento

que não veio

que não viria

para não aumentarem

a confusão.

terça-feira, 3 de junho de 2025

PONTO PROS MENINOS

 

PONTO PROS MENINOS

 

não quis falar

nem sequer pensei no que havia

pra te dizer

porque ainda não sabia como

nem o que dizer.

tenho isso comigo

é meu jeito

é meu modo de ser

de intercalar tagarelices com longos

silêncios.

 

ouvi de mim os segredos que ousara sonhar

na mais crescente confusão de sentidos

como em qualquer outro momento

mas não compartilhei as idéias

só as sedes e fomes dos amores

das irisadas ilusões mais ousadas

por isso me calei

 

e minhas idéias quedaram-se

como estradas de uma via só

como vontades sorrateiras

que preferi ocultar

como  monólogo recitado

no mais completo ermo

para não se espalhar.

 

agora aplaudo minha decisão.

porque te conheço

(muito)

melhor.

GRANDES NAVEGAÇÕES

 

GRANDES NAVEGAÇÕES

 

surpreendi-me ao notar que a natureza

reagia à diferença.

surpreendi-me sem necessidade.

sequer ousei tentar compreender

pois considerava tudo pessoal.

por isso envolvi-me em tuas definições.

usei códigos que não ousara desvendar

ou mesmo inventar.

surpreendi-me ao olhar ao meu redor

ao olhar para dentro

ao descobrir os movimentos

que me levaram até você.

 

a gente sempre sabe dos efeitos

e dos defeitos dos outros

mas se surpreende com os próprios.

com os que

principalmente

apontam para os desdobramentos do ego.

por isso a surpresa ao perceber

que eu não vivo sem você

 


POLÍTICA INCENDIÁRIA

Política Incendiária

A
transgressão é a
política do corpo em chamas.

não por gosto,
mas porque arde.
arde a carne que recusa moldes,
arde o gesto que desobedece
sem pedir desculpas.

um corpo que dança fora do compasso
não erra —
inventa.

e a pele que se recusa à norma
vira manifesto,
linha vermelha
que a cidade tenta apagar
mas nunca consegue.

queimar, aqui,
não é fim:
é voz.

a transgressão é isso —
um grito que passa pela espinha
e sai
com cheiro de mundo novo.


CORAÇÃO EM PEDAÇOS

 

CORAÇÃO EM PEDAÇOS

 

e a lanchonete lamuriosa

de presença e de graça.

ela  me pede

encarecida

meu coração.

 

aproveitando sua ida

ao toalete

a caneta bic

frenética

risca o guardanapo

em papel de segunda.

curva daqui

entorta ali

preenche em cima

delineia em baixo

sombreia

dá volume

acerta

e

pronto

 

eis...

 

atônita

ela me olha

não acreditando

na ousadia.

rasga furiosa

e joga em pedaços

ao chão

meu melhor coração.

.

BALA PERDIDA

 

BALA PERDIDA

 

dizem que o tiro certeiro

que lhe atingiu em cheio

a cabeça

a pressa

o cuidado

a esperança

e a lembrança

veio do fuzil distante

que combatia o mau combate.

 

a perícia não apontou

o autor do disparo

que ceifou

duas vidas

em meio ao trânsito de passantes

(transeuntes comuns

e ela

grávida de luz

dos últimos dias de gravidez)

 

se fosse preso o atirador

discutiríamos

e defenderíamos

em ânimos acirrados

seus direitos

a uma vida

digna.              


"O futuro,

esse espaço que desejamos mais luminoso,

não brota do acaso,

nem da inércia dos sonhos.

É a semente que lançamos,

o suor que rega,

a dedicação que nos toma no presente,

que o faz florescer."

 

                        Vicente

 



segunda-feira, 2 de junho de 2025

AS SEMENTES E O TEMPO

 

As sementes e o Tempo

 

As sementes cochicham segredos ao chão,

palavras que só as raízes entendem.

Dormem sob a pele da terra,

sonham com florestas impossíveis.

O vento tenta convencê-las a desistir,

mas elas gargalham sem boca,

respiram silêncio e insistência,

pois sabem que o impossível é apenas

uma estação passageira.

 

Então, numa manhã que não existe,

crescem.

E o céu, surpreso,

se curva para vê-las.


O tempo não avisa,

apenas chega.

 

Passa os dedos pela pele,

desenha marcas que ninguém pediu,

leva embora nomes que um dia foram mundo.

 

O tempo não espera,

mas também não corre.

Observa, paciente,

como as folhas caem,

como os rios mudam de caminho,

como o silêncio se torna memória.

 

E quando tudo parece imóvel, ele ri,

porque sabe: até o eterno muda.


Hoje a palavra é tua,

é teu o gesto que decide.

Pela sala quase emudecida 

só se ouve a tua voz.


Mas há olhos no canto da sala: 

Olhos que gritam,

e silêncios que dizem

mais que a ordem contida.

                                                                                                                             VICENTE 



domingo, 1 de junho de 2025

PORTAIS DE NEBLINA E MEMÓRIA

 

Portais de Neblina e Memória

 

O orvalho da manhã, véu no chão,

Desenha portais onde o tempo se esvai.

Neblina que abraça, suave ilusão,

Guarda segredos que a alma retrai.

 

Em cada névoa, um sussurro desfeito,

Um eco distante de um riso que foi.

São mapas internos de um peito,

Onde a lembrança jamais se corrói.

 

Memória em espiral, dança sem fim,

Flutua em fragmentos de um ontem tão vasto.

Imagens que voltam, perto de mim,

Num jogo de luz e um amor que foi gasto.

 

A neblina dissolve, o sol já se avista,

Mas os portais não se fecham jamais.

E a cada suspiro, na curva da pista,

Sinto a memória e seus eternos cais.

sábado, 31 de maio de 2025

O TEMPO ME ENSINOU

 

O tempo me ensinou

O tempo me ensinou
a não esperar promessas de volta,
a recolher as palavras ditas ao vento
sem querer prendê-las ao chão.

Ensinou-me o ritmo das ausências,
o dom de ficar sem partir,
e a beleza de um olhar quieto
que já não exige ser visto.

Mostrou que o amor,
quando verdadeiro,
não grita.
Permanece, mesmo no silêncio.

O tempo me ensinou
a deixar ir
sem despedaçar o que fui,
a entender que feridas
também sabem florescer.

E me ensinou, por fim,
que a saudade não é fraqueza —
é só o rastro
de quem amou demais
e aprendeu a continuar.

QUE

 

 

Que

 

Que a vida revele seus pequenos milagres no simples respirar,

E que tua mão encontre o chão, para plantar uma semente minúscula que seja,

Na certeza de que cada gesto simples pode florescer em um jardim.

 

Que a leveza te abrace quando a vida tropeçar,

Que o riso brote, mesmo diante de um dia que não amanheceu perfeito.

Há beleza na falha, um novo ritmo na pausa inesperada.

Que a gratidão seja tua bússola, apontando para o que permanece,

E que a alegria se faça presente no que já és, no que já tens.

 

Que a tua voz seja a mais pura canção de quem tu és,

Sem o disfarce que a vida, por vezes, tenta nos impor.

Que a verdade em teus olhos seja o espelho da tua alma,

E que em cada abraço, em cada palavra, a integridade se revele,

Pois a beleza maior reside em seres que realmente deves ser.

 

Que a espera seja tua aliada e o tempo, um mestre gentil,

Que as árvores, mesmo nuas, saibam que a primavera virá.

Nos dias de cinza, que a paciência semeie a certeza do novo broto.

Que a resiliência te ensine a arte de curar cada ferida,

E a fé te faça entender que tudo floresce no momento exato.

 

Que um abraço sincero te encontre quando a alma se cala,

Que um olhar compreenda o silêncio e a história que ele carrega.

No toque das mãos, que a cumplicidade teça fios de ternura.

Que o afeto seja a ponte que conecta corações sem alarde,

E que tuas relações floresçam na gentileza que se entrega.

 

Que teu amor seja livre, sem amarras que o prendam,

Que a liberdade de voar seja a essência de cada partida e chegada.

Sem o receio de partir, sem o peso do que não te pertence.

Que cada passo seja um ato de coragem, uma escolha tua,

E que a vasta imensidão da vida te acolha em seu próprio compasso.

 

Enfim, que cada dia seja a dádiva em teu viver,

Um convite à entrega, à dança que o presente te oferece.

Que o amor, em suas múltiplas faces, seja teu eterno abrigo,

E que a paz que buscas já resida em ti, um farol a florescer,

Na certeza de que, ao amar e ser, a vida te devolverá o que é teu.