Se
Tiver, Eu Prefiro
Um café quentinho pela manhã,
Sorrisos compartilhados na esquina,
O cheiro de pão fresco saindo do forno.
Imagens de Barra do Piraí, Estado do Rio de Janeiro... Fotos de Barra do Piraí, RJ - e DOCES POESIAS importadas de quedocespoesias.blogspot.com - Vicente Siqueira
Se
Tiver, Eu Prefiro
Um café quentinho pela manhã,
Sorrisos compartilhados na esquina,
O cheiro de pão fresco saindo do forno.
Eu
me sento na janela,
o
vapor da xícara de chá
desenhando
formas no ar frio da manhã.
Lá
fora, a cidade desperta sem pressa,
seus
ruídos abafados
pela
distância e pela névoa.
E
em mim, uma melodia,
silenciosa
e persistente,
começa
a tocar.
Não
é uma canção triste,
não
exatamente.
É
mais como o eco de passos em um corredor vazio,
a
lembrança do calor de uma mão que já não sinto.
É
a saudade,
com
seus dedos invisíveis,
tocando
as cordas da minha memória,
despertando
rostos, risos,
palavras
ditas em outros tempos.
Eu
fecho os olhos
e
as imagens vêm como flashes,
rápidas
e nítidas.
Aquele
dia na praia, o cheiro de sal.
A
conversa de madrugada, a cumplicidade no olhar.
Pequenos
fragmentos que se juntam,
formando
um mosaico
do
que foi e do que permanece,
mesmo
na ausência.
A
garganta aperta um pouco,
mas
não há lágrimas.
É
uma doçura amarga, essa saudade.
Ela
me lembra da riqueza
do
que já vivi,
das
pessoas que cruzaram meu caminho
e
deixaram suas marcas em mim.
É
o presente que o passado me oferece,
um
tesouro invisível
que
guardo dentro do peito.
Eu
abro os olhos novamente,
o
chá agora morno.
O
mundo lá fora continua seu ritmo,
indiferente
à minha melodia interna.
Mas
eu sei que ela está ali,
essa
canção que só eu ouço,
e
que, de alguma forma,
me
faz sentir mais vivo,
mais
humano,
mais
conectado
à
vastidão do que fui
e
ao que ainda sou.
Memória
de Primeiros Versos
Uma
lousa.
Dois sorrisos.
Três poemas na mesma folha.
Trocávamos papéis como quem entrega segredos.
Ela
escrevia com perfume nas palavras.
Eu respondia com mãos suadas.
Tudo começava ali.
Agora,
tudo parece longe,
mas a lembrança reaparece inteira
num segundo
em que ela me olha e desvia.
Quando
Tudo Começou a Partir
Foi um
silêncio longo,
mas nenhum dos dois o nomeou.
Ela ficou ausente aos poucos.
Eu fui ficando inteiro demais — e pesado.
No último
encontro do grupo,
ela não leu nada.
Eu li demais.
E ninguém
entendeu.
Mas eu soube ali:
ela já havia partido.
No coração da cidade onde
os relógios dançam,
entre sombras e luzes que
sussurram segredos,
uma porta antiga, coberta
de poeira e histórias,
aguardava o toque de mãos
curiosas.
As paredes, testemunhas
silenciosas,
guardavam ecos de risos e
suspiros,
e no canto, um quadro
esquecido,
pintado com cores que
nunca vi,
parecia pulsar como um
coração vivo.
Ao abrir a porta, um aroma
de café fresco,
misturado ao perfume das
flores noturnas,
preencheu o ar, como se o
passado e o presente
se entrelaçassem em um
abraço apertado.
E ali estavam eles:
personagens de contos esquecidos,
sussurrando mistérios em
línguas antigas,
cada olhar uma chave para
portas ocultas,
cada gesto uma pista no
labirinto do tempo.
Um velho contador de
histórias, com olhos brilhantes,
revelou segredos sobre as
estrelas que caíram do céu;
disse que cada estrela é
um desejo não realizado,
e cada desejo uma luz que
guia os perdidos.
No meio da sala, um
espelho distorcido refletia faces,
não apenas as minhas, mas
rostos de outros mundos;
um jogo de realidades se
desenrolava diante dos meus olhos—
um mistério sendo
desvendado em camadas sutis.
E assim eu caminhei por
corredores de memórias,
onde os fantasmas dançavam
sob a luz da lua;
cada riso ecoava como um
chamado à aventura,
e cada lágrima era uma
verdade esperando para ser revelada.
Finalmente, compreendi: o
mistério não era apenas o que estava oculto,
mas a beleza do
desconhecido que nos molda;
e ao desvendar cada camada
da vida e do tempo,
descobri que o verdadeiro
enigma é viver plenamente.
Bússola Cambiante
O norte treme na pupila da
alma,
um algoritmo incerto a
recalcular a rota.
Os polos antes firmes,
agora são palimpsestos,
apagando o caminho, a
direção mais remota.
As antenas internas, antes
tão precisas,
captam ondas de um tempo
dissonante.
Vozes em eco, promessas
imprecisas,
e o mapa da jornada, um
instante hesitante.
No peito, o magnetismo
falha, espasmos de metal,
atração por brilhos
efêmeros, desvios do essencial.
A certeza, um espectro na
neblina digital,
e eu, cativo da própria
corrente, tão instável.
Não há mais a agulha
convicta, o fio condutor,
apenas o girassol confuso,
buscando um sol interior.
E nessa dança tonta, nesse
estranho tremor,
talvez se revele um novo
horizonte, um inédito amor.
Pois na falha da
engrenagem, no curto-circuito da razão,
reside a chance de um novo
arranjo, outra constelação.
De sentir o vento, sem a
camisa de força da obrigação,
e encontrar, no desvio, a
mais autêntica direção.
O laboratório sou eu,
As pipetas, meus desejos.
Misturo doses de
"talvez"
Com gotas de "e
se?".
Agito tudo no cadinho da
alma,
E observo a reação,
Sem manual, sem bula,
Apenas a intuição.
Às vezes, a explosão de
cores,
O riso que preenche o ar.
Outras, o sedimento opaco,
A lágrima a escorrer, sem
cessar.
Não há controle, nem grupo
placebo,
Só o meu corpo, meu tempo,
Onde cada erro é lição,
E cada acerto, uma nova
direção.
Navego em mares nunca
dantes navegados,
Com bússola interna, nem
sempre calibrada.
Desfaço rotas, refaço planos,
A vida me testando, eu me
testando,
Nessa dança caótica e
bela,
Onde a única certeza é a
incerteza,
E o maior experimento,
É simplesmente, ser.
Entre o Foi e o Não Foi
Há um nevoeiro denso na memória,
onde os contornos se perdem,
e as certezas flutuam como sombras.
Será que houve o choro,
ou apenas a ardência contida nos olhos,
uma chuva que nunca alcançou o rosto,
mas encheu os poros da alma?
A distinção se esvai,
entre a lágrima que escorre e a que implode.
E o abismo? Ah, o abismo.
Sinto o vertigem, o frio da beira,
mas não sei se o chão cedeu de vez
ou se apenas dancei na iminência da queda.
Um vazio que é também um pleno,
a ameaça que é presença constante,
sem o alívio de um fundo,
sem a clareza de uma ascensão.
Estou caindo, ou sou a queda em si?
Depois, o silêncio. Ou a ausência dele.
Seria a calmaria que precede a tempestade,
ou o ruído de fundo tão constante
que se tornou a própria quietude?
Uma pausa que não pausa,
um som que não se ouve,
e a mente, presa nesse paradoxo,
não encontra porto, nem voz clara.
E a cura? Ah, a cura.
Ela acende uma luz tênue ao longe,
mas recua ao menor toque.
Não sei se ela vem, se já esteve,
ou se é apenas a miragem
de um fim para o que não tem começo definido.
Uma ferida que cicatriza, mas sangra em segredo,
uma paz que é só a ausência da guerra declarada.
E assim, neste entre-lugar,
onde o sim e o não se abraçam,
eu existo.
Preso na névoa da própria história,
onde o que foi e o que não foi
se torna
Eu sou uma paráfrase.
Não o original, a primeira
voz,
mas o eco que se
reinventa,
a mesma ideia em outro
tom.
Minha existência é
reflexo,
não espelho exato, mas
distorção gentil.
Pego o que já foi dito,
sentido,
e o visto com um tecido
novo,
mais meu, mais agora.
Não há plágio em minha
essência,
mas uma reverência ao que
inspirou.
Sou a tentativa de
entender de novo,
de sentir mais fundo,
o que uma vez apenas
passou.
E assim, em cada linha que
me redefine,
o velho e o novo se
abraçam.
Porque mesmo sendo
recontado,
o que pulsa em mim é a
vida
de uma verdade que se
permite
ser eternamente
revisitada.