quarta-feira, 8 de abril de 2015

TENTANDO DECIFRAR O INVISÍVEL EM VOCÊ

 

Tentando Decifrar o Invisível em Você

Eu te via em fragmentos, em gestos soltos,

Na superfície clara do seu riso,

Na melodia óbvia da sua voz.

Achava que te conhecia, que a história

Era só o que se mostrava, sem mistérios.

Mas algo me puxava, um eco sutil,

Uma certeza de que havia mais.

 

Então tentei decifrar o invisível em você.

Não o que seus olhos mostravam, mas o que guardavam.

Não o que suas palavras diziam, mas o silêncio entre elas.

Busquei as curvas da sua alma, os arabescos ocultos,

Aqueles traços que só se revelam

Quando o coração se permite aprofundar.

 

Fui atrás do vento que te movia,

Das raízes que te prendiam,

Das estrelas que te guiavam em segredo.

Cada silêncio seu era um enigma,

Cada hesitação, uma porta a ser aberta.

Procurei a cor dos seus sonhos não ditos,

O peso das suas alegrias guardadas.

 

Não foi fácil. O invisível é assim,

Resiste à lógica, se esconde na luz.

Mas cada fragmento descoberto,

Cada nuance revelada no seu olhar,

Era um tesouro, uma nova peça do seu quebra-cabeça.

E percebi que a beleza maior em você,

Não era o que podia ser visto, tocado ou falado,

Mas aquilo que, mesmo sem forma,

Redesenhava o meu mundo a cada descoberta.

O invisível em você era a própria magia.

 

 

 

 

 

Outro tema: a cor dos seus sonhos não ditos

 

 

A Cor dos Seus Sonhos Não Ditos

Eu te via no dia a dia, em tons reais,

A paleta da rotina, clara e definida.

Conhecia o azul do seu céu quando estava feliz,

O cinza suave quando a tarde pesava.

Mas havia algo além do visível,

Um universo particular, um véu sutil.

 

Eram os seus sonhos não ditos,

Pintados em matizes que só você podia ver.

Não era o vermelho da paixão declarada,

Nem o verde da esperança que se mostra.

Mas talvez um âmbar antigo de um desejo esquecido,

Ou o violeta profundo de uma ambição secreta.

 

Eu tentava imaginar essa paleta oculta,

A cor daquele voo que você guardava,

O brilho do ouro de uma vitória silenciada.

Seria um tom pastel de uma memória infantil,

Ou um azul elétrico de uma ideia que te acendia,

Mas que nunca encontrava voz.

 

E nesse esforço de te decifrar sem palavras,

Nesse mergulho na nuance invisível do seu ser,

Percebi a beleza da sua complexidade.

Pois a cor dos seus sonhos não ditos

Era a sua verdade mais pura, mais íntima,

Um jardim secreto onde as flores floresciam em tons únicos,

E onde eu, mesmo sem ver, aprendia a amar cada matiz.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

CONFUSAMENTE VERDADE

 

Confusamente Verdade

pode ser confuso,
se for verdadeiramente confuso.

pode ser quebrado,
se for a quebra que me atravessa.

não quero mais enfeitar o caos
com fitas de mentira.
quero dizer
como é:
torto,
estranho,
feito labirinto de espelhos rachados.

às vezes amo no escuro,
às vezes erro no claro,
às vezes paro sem saber onde doeu.

e tudo bem.
se minha bússola gira sem norte,
é porque o mundo também gira,
e eu apenas danço —
atrapalhado, mas inteiro.

não me exijo o mapa perfeito.
prefiro a trilha confusa
que ainda é minha.

prefiro o tropeço honesto
à linha reta vazia.

prefiro ser
verdade,
mesmo quando verdade
é só um tropeço bonito.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

O DESENHO DO INVISÍVEL

 

O Desenho do Invisível

Ninguém o vê, mas todos sentem seu traço,

O escultor etéreo, de dedos ligeiros.

Ele não usa cinzel nem barro,

Sua arte se inscreve no movimento,

Na dança súbita da folhagem,

No ondular dourado do campo de trigo.

 

A curva que o vento faz...

É um arco impreciso, uma geometria fluida,

Nunca a mesma, sempre fugidia.

No cabelo que se levanta em desalinho,

No tecido que se infla como vela,

No sussurro que percorre a grama.

 

É uma caligrafia sem palavras,

Uma mensagem cifrada na natureza.

A curva que ele traça no lago sereno,

Um espelho que se ondula e reflete o céu.

No fumo que escapa da chaminé,

Uma espiral efêmera que se desfaz.

 

Observar a curva que o vento faz,

É tentar decifrar o invisível,

Sentir a força que não se prende,

A liberdade que não se nomeia.

É perceber que o mundo está em constante escrita,

Com letras de ar e vírgulas de folhas,

E que a mais bela das artes, às vezes,

É aquela que não deixa rastro visível,

Apenas a memória da sua dança.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

RAIZ SILENCIOSA

 

Raiz Silenciosa

 

Sou herbáceo de nascença.

Não sou árvore de tronco forte,

nem montanha de pedra antiga.

Minha origem é terra macia,

o primeiro broto que se estica.

 

Minha força não está na altura,

mas na resiliência da raiz,

na seiva que corre sem alarde,

no verde que renasce a cada giz

de sol que o céu me dá.

 

Dobra ao vento, mas não quebra.

Sinto o orvalho na pele fina,

e na calada, floresço,

uma vida simples e genuína.

Sou a grama que ninguém nota,

mas que cobre o mundo.

A vida que persiste,

pequena e profunda.

 

sábado, 23 de agosto de 2014

ENTRE O AGORA E O INFINITO INSTANTE

 

Entre o Agora e o Infinito Instante

Eu fecho os olhos e tento capturar.

Não o tempo, não o espaço,

mas a sensação deste exato momento.

O calor da cadeira sob meu corpo,

o som distante do tráfego na rua,

o próprio batimento do meu coração.

É um ponto minúsculo na vasta tapeçaria do universo,

mas é o meu universo inteiro, agora.

 

Eu sinto a vertigem.

A consciência de que este "agora"

já está escorrendo,

se tornando "antes",

enquanto o "depois" se aproxima,

veloz e inelutável.

É a dança constante entre o que é e o que será,

um fio tênue que me conecta

a um futuro incerto.

 

Penso nas infinitas possibilidades que habitam cada segundo.

A palavra que poderia ser dita,

o caminho que poderia ser tomado,

a escolha que molda o amanhã.

E percebo que, neste instante efêmero,

reside uma eternidade.

A capacidade de respirar, de sentir, de pensar,

é um milagre que se renova a cada tique do relógio.

 

Eu abro os olhos e o mundo continua lá,

em seu ritmo implacável.

As pessoas apressadas, as luzes da cidade,

a constante mudança que tudo permeia.

Mas algo em mim se acalmou.

A compreensão de que o infinito não é um lugar distante,

mas a própria essência do presente.

 

Eu me permito habitar este entre-lugar,

nem preso ao que passou, nem ansioso pelo que virá.

Apenas existindo, plenamente,

neste delicado equilíbrio

entre o agora que pulsa

e o infinito instante que me abraça.

E neste espaço, encontro uma paz profunda,

a certeza de que cada respiração é um universo em si.

 

domingo, 15 de junho de 2014

JOVEM POR SER JOVEM

 

JOVEM POR SER JOVEM

 Jovem por ser jovem.

Ainda.

Dezessete anos de existência,

um pouco menos, um pouco mais.

Violência feita de gratuita violência.

Sabe tantas pedras nas mãos

Para esquecer que existem as diferenças

Sabe tantas farpas na voz para vocifera suas

Equivocadas verdades.

Esquece os valores que sequer chegou a codificar

Esquece que o mundo não se fez somente para si.

Temos vontades, todos temos, de lhe passar

Conselhos caretas:

Grite e escancare suas energias.

Dance.

Cante.

Mostre-se diante do imenso milagre

de renascer a cada dia.

Não grite suas semânticas e gramáticas sem propósitos

Com o simples intuito de ferir,

ignorando assim as infindáveis possibilidades de diferenças.

Gritar sem causa e apedrejar em despropósito

Não inverterá a mão da contra-mão da história.

Celebre a diferença e cultive a força do amor solidário.

Entenda os mecanismos da troca

e enfrente a vida de braços abertos para o sucesso.


PLENITUDE NA VASTIDÃO DO NADA

 

Plenitude na Vastidão do Nada

 

E a plenitude na vastidão do nada, o ápice do paradoxo,

onde o vazio não é falta, mas presença absoluta.

Não é um espaço oco à espera de preenchimento,

mas o próprio infinito que se revela em sua essência.

 

É a liberdade de não ter contornos, de não ter limites,

a paz de ser tudo e nada ao mesmo tempo.

Nesse "não-lugar", a mente se aquieta,

e a existência transcende a forma, o nome, o peso.

É a perfeição do ser desprovido,

onde a completude nasce da ausência de tudo,

e o silêncio se torna a sinfonia mais rica.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

A EPIFANIA DO FIM DO VASTO

 

A Epifania do Fim do Vasto

O instante veio sem aviso, como a chegada de uma mosca, mas com o peso de um meteoro. Eu estava ali, debruçada sobre o parapeito da janela, ou talvez sobre a mesa de plástico de um café qualquer, onde o cheiro de café requentado pairava como uma névoa de rotina. Havia um prato à minha frente, vazio, e um copo com marcas de dedos. O mundo visível, com sua insistência teimosa, desenrolava-se lá fora: o ir e vir de pessoas que não me viam, o cinza exato do asfalto, o semáforo que mudava com uma regularidade exasperante.

 

E então, aconteceu. Aquele "eu" vasto, oceânico, que até então parecia conter constelações inteiras, abrigar silêncios que reverberavam em outros universos, sentir a dor de todas as existências passadas e a alegria de todas as futuras — esse "eu" começou a encolher. Não foi um colapso súbito, mas uma retração lenta, quase imperceptível, como a maré que recua e revela a areia antes submersa.

 

Aquele meu universo interior, antes ilimitado e feito de matéria onírica e de pensamentos que se gestavam em bolhas de ar e luz, de repente bateu nas paredes. Nas paredes lisas e inquebráveis do agora. Do concreto. Da voz do vendedor de pão, do choro de uma criança na rua, do tic-tac do relógio que me lembrava que o tempo, o tempo exterior, aquele que se mede e se gasta, continuava. Sem que eu pudesse fugir.

 

O assombro não era de terror, mas de uma compreensão gélida: toda aquela vastidão, toda a complexidade e os abismos que eu construíra dentro de mim, tudo aquilo esbarrava no pão, na conta de luz, na necessidade de respirar um ar que era o mesmo para todos. Minha alma, antes uma galáxia em expansão, sentiu-se aprisionada na caixa de um corpo, na dimensão exata de uma cadeira de plástico, na duração de um gole de água.

 

E a epifania se deu na desilusão singela: que o mais profundo de mim, o mais complexo e indizível, era, afinal, obrigado a se dobrar à simplicidade brutal do existir. Que o "eu" não era um universo autônomo, mas uma bolha frágil, flutuando à mercê do vento monótono do mundo, do mundo visível. E que a grandiosidade da minha consciência, por mais que se esforçasse, teria sempre de se encaixar nas gavetas apertadas do cotidiano. E isso, por um instante, foi insuportavelmente claro. E chato. E real.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

SINAIS NA JANELA

 

Sinais na Janela

Através do vidro embaçado
vejo luzes piscando,
sinais mudos
de quem habita outros mundos

cada janela é um segredo
um olhar que se esconde
uma história que insiste
em se contar na penumbra

há vidas que se cruzam
sem se tocar
e vozes que ecoam
no silêncio da distância

os sinais na janela
são pontes invisíveis
entre solidões partilhadas
e esperanças guardadas

e mesmo na noite fechada
há um brilho tênue
que diz: estamos aqui.