quarta-feira, 16 de maio de 2018

CAMISA DE FORÇA DA OBRIGAÇÃO

 

Camisa de Força da Obrigação

 

Não te veste, mas te prende.

Um tecido invisível, fio a fio,

Tecido com os "deverias", os "tens que",

Amarrando o corpo, roubando o ar, o pio.

 

Sufoca o grito que quer ser canção,

Apaga a cor que o desejo pintou.

Cada nó, um "não" à intenção,

À liberdade que um dia sonhou.

 

É o peso do amanhã, o temor do "se",

A sombra que se estende sobre o agora.

E a alma, apertada, tenta mover-se,

Prisioneira em sua própria demora.

 

Mas sinto a fibra ceder, frágil,

A cada "não" que o coração permite.

Rasgando a trama, um gesto ágil,

Buscando o espaço que a vida me remite.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

Foto de Barra do Piraí - Rua João Batista - Bairro de Santana - 14-01-2018 - Vicente Siqueira

 

Foto de Barra do Piraí -

Rua João Batista -

Bairro de Santana -  

14-01-2018 -

Vicente Siqueira

SOL NEGRO

     Sol Negro 

Sob o sol negro de um éon olvidado, 

onde a grama espectral sussurra lamentos antigos, 

os Desprovidos, almas errantes sem o farol celeste, 

irão provar o fel da noite eterna.


Lágrimas de obsidiana, não de contrição,

 mas de angústia cósmica, 

verterão dos seus olhos vazios, 

poças de sombra na terra desolada.


O ar rarefeito vibrará com um único som: 

o gemido gutural da perda primordial, 

ressoando pelas ruínas de mundos extintos.


Ódio, serpente de escamas fuliginosas, 

erguerá a cabeça hedionda, e sua voz, 

um raspar de pedras tumulares, 

será a única canção na vastidão sombria.


Dor, espectro de mil pontas geladas, 

dançará em torno dos Desprovidos, 

tecendo um sudário de agonia infinita 

na escuridão que os engolirá por completo.

Não haverá aurora, nem sussurro de perdão,

apenas o reino espectral da Noite sem deuses, 

sem Deus,

onde o sofrimento é a moeda corrente ,

e o eco dos gemidos, a única litania.

A BÚSSOLA DA FÉ

 

       A Bússola da Fé

Haverá um dia, prenhe de um silêncio carregado, em que aqueles que percorrem os caminhos da existência alheios à presença divina sentirão o peso da ausência como um manto de chumbo. As lágrimas, antes represadas pela ilusão da autossuficiência, jorrarão como fontes amargas, inundando a alma com a percepção tardia de um vazio insondável. A luz se extinguirá para eles, e a escuridão, outrora ignorada, se fará morada constante, fria e opressora.

Naquele tempo sombrio, a melodia da vida se transformará em um coro de gemidos lancinantes. O riso emudecerá, substituído pelo eco doloroso da constatação. O ódio, cultivado nos recantos sombrios do espírito, e a dor, sua fiel companheira, romperão as barreiras do silêncio, propagando-se em ondas de aflição. A escuridão não será apenas a ausência de luz, mas a própria manifestação do sofrimento, um lugar onde a alma se debate em vão, prisioneira das consequências de um caminho percorrido sem a bússola da fé.