Imagens de Barra do Piraí, Estado do Rio de Janeiro... Fotos de Barra do Piraí, RJ - e DOCES POESIAS importadas de quedocespoesias.blogspot.com - Vicente Siqueira
sexta-feira, 7 de março de 2025
domingo, 2 de março de 2025
FLAGRADOS NO TEMPO
FLAGRADOS NO TEMPO
não era mais ontem
mas também não era já,
era aquele meio instante
que se esconde nas frestas
onde o tempo esquece de contar.
nossos olhos, clandestinos,
gravaram na memória
o que o corpo não pôde guardar —
um toque,
um nome não dito,
um quase que ficou inteiro.
as horas correram ao contrário,
os ponteiros, cúmplices,
hesitaram um segundo a mais
só pra nos permitir
a eternidade breve
de um gesto.
depois, tudo voltou:
as vozes, os passos,
a pressa dos outros.
mas nós —
nós fomos flagrados no tempo,
na dobra do relógio,
onde o desejo é fósforo aceso
que ainda brilha
mesmo depois de apagado.
sábado, 1 de março de 2025
MULTIDÃO INTERNA
Multidão Interna
Falei alto nas redes,
nos corredores, nos elevadores.
Meu nome ecoava entre notificações,
mas por dentro — era sussurro.
Porque quem grita com todos
é também quem escuta a si mesmo com medo.
No ruído dos aplausos,
escondi perguntas que não tinham palco.
Sorri para fotos que não me incluíam,
respondi com emojis o que o peito não sabia dizer.
E o mundo me abraçou em pixels,
mas faltava pele,
faltava pausa.
Aprendi a falar bonito,
mas tropecei no silêncio.
Porque há frases que não servem
quando a dor não tem legenda.
Fiquei cercado de vozes,
mas a minha — rouca e tímida —
pedia abrigo, não audiência.
Então um dia parei de gritar.
E no susto do silêncio,
descobri que o eco é sincero
quando não há ninguém para aplaudir.
sexta-feira, 13 de dezembro de 2024
RESPIRA E DESCOMPLICA
Respira e Descomplica
O tempo corre, a tela
brilha,
Mil demandas na mochila.
A mente agita, o corpo
estica,
Mas calma, a vida não
complica.
Desliga o "zap",
esquece o "feed",
Planta uma flor, solta um
creed.
O sol lá fora te convida,
Pra uma pausa na batida.
Um banho morno, uma
canção,
Um livro bom, um abraço
irmão.
A natureza é nosso ninho,
Pra aquietar qualquer
espinho.
Não é defeito, é só
cansaço,
Solta o peso, encontra o
espaço.
Reduz o ritmo, respira
fundo,
Pra colorir de novo o
mundo.
A leveza mora em ti,
É só deixar ela fluir.
Descomplica, desacelera,
quarta-feira, 19 de junho de 2024
VERTIGEM
Vertigem
O chão se desfaz sob os
pés,
não em queda, mas em giro,
um turbilhão de
pensamentos
sem centro, sem Norte.
Ideias flutuam como poeira
cósmica,
partículas de um universo
íntimo
que se expande e se
contrai,
sem lógica aparente.
Há perguntas gravadas no
ar rarefeito,
ecoando sem resposta,
sobre o ser, o tempo,
o fio invisível que nos
prende ao nada.
É a dança incessante da
mente,
onde o eu se dissolve e
renasce
a cada milésimo de dúvida,
a cada pulso de incerteza.
E no olho desse ciclone
particular,
silenciosamente,
eu me pergunto:
qual abismo me chama?
Ou sou eu o abismo
que se abre em mim?
sábado, 15 de junho de 2024
FINALMENTE O VAZIO
Finalmente o Vazio
Enredado,
o nó emaranha o peito,
um silêncio que grita sem
voz.
Não sei o que está
acontecendo,
apenas sinto o chão sumir.
Sou um experimento,
talvez.
Um fio tênue, quase
invisível,
suspenso sobre o abismo,
onde o ar se torna denso
e irrespirável,
sufocante.
A incerteza é a única
paisagem,
e a saída, um eco
distante.
Não há luz no fim do
túnel,
porque não há túnel,
não há espaço,
não há esperança,
apenas a densidade do
escuro
que me abraça
e me consome.
O Fio Tênue
E no fio tênue, a dança.
Não é leve, não é livre,
é a dança da hesitação.
Cada passo, um cálculo,
um sopro de ar, uma
ameaça.
Respirar dói,
como se o ar fosse agulhas
finas
costurando a incerteza na
pele.
E o vazio, ali embaixo,
não é um convite,
é uma verdade que espera.
O equilíbrio é precário,
uma miragem.
E a cada balanço, a
sensação
de que o fio se desfaz,
pedaço por pedaço,
dissolvendo-se no nada.
O Peso da Incerteza
E a incerteza, essa névoa
densa
que cega os olhos e amarra
os pés.
Não é leve, não é
passageira,
é um fardo invisível,
uma âncora que arrasta.
Pesa no ar que respiro,
cada inspiração, um
esforço.
Pesa nos ombros, curvos,
como se levassem o mundo
e todas as suas perguntas
sem resposta.
É o silêncio das
possibilidades,
o sussurro do "e se",
que se torna um grito no
vazio.
É o tempo que se arrasta,
uma ampulheta de areia
movediça,
onde o futuro não se
desenha,
apenas se dissolve.
A Ausência e a Prisão
E a luz, um mero boato,
uma lenda distante.
Aqui, só a escuridão se
estende,
pesada e sem promessas.
Não é sombra, é ausência,
um vazio que engole cores
e esperanças.
E nesse escuro, a prisão.
Não há grades, não há
muros visíveis,
mas as paredes apertam,
o ar rarefeito sufoca.
É uma celas invisível,
tecida de incertezas e de
"nãos".
Cada passo é um tropeço no
breu,
cada respiração, um grito
abafado.
E a saída, um eco que não
chega,
uma porta trancada por
dentro,
sem chave, sem maçaneta,
apenas o silêncio
opressor.
A Porta Trancada Por
Dentro
E a porta trancada por dentro,
não é parede, é barreira.
Não há chave, não há
fresta,
apenas a mão que a segura,
a minha própria,
que não cede, não liberta.
É um ato de auto-prisão,
uma escolha sem nome,
que prende o passo, cala a
voz.
O lado de fora, um
sussurro distante,
o que poderia ser, um
sonho.
E o silêncio aqui dentro,
não é paz, é eco.
O eco das chances
perdidas,
dos caminhos não tomados.
A porta, um espelho turvo,
refletindo a mim mesmo,
o carcereiro, o
prisioneiro.
A Auto-Prisão
E a auto-prisão, essa
estranha liberdade
de me acorrentar sem
grilhões visíveis.
Não há força externa, não
há opressor,
apenas a mão invisível que
me prende.
É um labirinto interno,
cujas paredes se erguem da
minha própria dúvida.
Cada recusa, um tijolo;
cada medo, uma argamassa
que endurece.
A saída, um ponto no
horizonte
que se afasta à medida que
me aproximo.
Sou o construtor da minha
própria jaula,
o carcereiro que veste a
pele do prisioneiro.
O Silêncio Como Eco
E o silêncio aqui dentro,
não é paz, é um eco.
O som das palavras não
ditas,
dos "talvez" que
nunca se concretizaram.
É a ressonância do
arrependimento,
um sussurro constante do
que poderia ter sido.
Cada oportunidade perdida,
um golpe que reverbera nas
paredes da alma.
Não há música, não há voz,
apenas o vazio que
responde a si mesmo,
um eco de "e se"
que se repete infinitamente,
preenchendo o espaço onde
a esperança morava.
A Intensidade dos
Sentimentos
E essa intensidade, um mar
sem fundo,
que não afoga, mas arrasta
e comprime.
Não é uma brisa, é um
furacão interno,
onde as emoções não se
suavizam,
apenas ganham peso,
densidade.
A tristeza não é tristeza,
é um abismo.
A incerteza não é dúvida,
é um grito preso.
Cada fibra do ser vibra
com a sobrecarga,
como um fio que estica até
o limite,
prestes a romper, mas que
não se quebra.
É a vida sentida em carne
viva,
onde cada toque dói, cada
pensamento queima.
Não há anestesia para a
alma,
apenas a plenitude
esmagadora
desses sentimentos que se
agigantam,
preenchendo todo o espaço,
sem ar para respirar.
Vida Sentida em Carne Viva
E a vida sentida em carne
viva,
cada toque, uma pontada.
Não há escudo, não há pele
grossa,
apenas a exposição crua da
alma.
É como se os nervos
estivessem à flor da pele,
captando cada vibração,
cada sussurro do mundo.
O amor, quando surge, é um
incêndio;
a dor, um abismo sem fim.
Não há meios-termos, não
há tons pastéis,
apenas a explosão das
cores mais intensas,
pintando a existência com
traços fortes e violentos.
A sensação é tão real, tão
presente,
que a respiração se torna
um ato consciente,
uma luta para suportar o
que se sente.
O Limite de um Fio
Esticado
E o limite de um fio
esticado,
prestes a romper, mas
teimosamente intacto.
Não é fragilidade, é uma
resistência exaustiva.
Cada puxão, cada tensão,
aproxima do ponto final,
mas a corda ainda vibra,
ainda suporta.
É o limite da alma,
onde a elasticidade já não
existe,
e a ruptura parece a única
lógica.
Mas o fio, teimoso,
mantém-se,
uma metáfora da
persistência imposta,
da força que se nega a
ceder,
mesmo quando tudo clama
por um fim.
Resistência no Limite
E a resistência no limite,
uma batalha silenciosa e
inglória.
Não é força que
impulsiona,
é a última reserva, o
fôlego arranhado
que se nega a ceder, a
desabar.
Os músculos tremem, a mente
vacila,
mas algo insiste, algo
persiste.
É a teimosia da
sobrevivência,
a recusa em aceitar a
derrota,
mesmo quando a vitória é
apenas a não-queda.
Nesse ponto extremo, a dor
se confunde com a inércia,
e o desejo de parar é tão
forte quanto a ânsia de continuar.
É a dignidade do fio
esticado,
que se recusa a se romper,
ainda que cada fibra clame
por alívio.
Vontade de Não Continuar
E a vontade de não
continuar,
um cansaço que transcende
o corpo.
Não é preguiça, não é
desistência covarde,
é a exaustão da alma, o
esgotamento da fé
em cada novo passo, em
cada amanhecer.
Os dias se arrastam,
pesados,
e a perspectiva de mais um
"virá"
é um fardo insuportável.
É o desejo de que o tempo
pare,
que o fio se rompa de vez,
que o silêncio se instale
sem eco.
É a promessa do vazio, que
de repente
parece menos ameaçadora
que a plenitude da dor.
A ânsia de sumir, de
dissolver-se
em um nada que finalmente
traga a paz,
o fim da luta, o descanso
sem sonhos.
A Ânsia do Vazio
E a ânsia do vazio, uma
sede estranha
por aquilo que não tem
forma, não tem som.
Não é medo do nada, é o
acolhimento que se busca,
a promessa de um espaço
onde a dor não ecoa,
onde a intensidade se
dilui em silêncio puro.
É o chamado da ausência,
um convite para
desaparecer,
para que o fio se desfaça
de vez,
e a pressão ceda, e o peso
se esvai.
O vazio, então, não é mais
ameaça,
mas um refúgio, um ponto
de fuga,
onde a existência se apaga
e finalmente se encontra a
paz que a vida nega.
A Promessa do Vazio
E a promessa do vazio, uma
melodia suave
que sussurra alívio onde
antes só havia caos.
Não é uma ameaça, mas um
convite,
a certeza de que, ao fim,
tudo se dissolve,
e a pressão cessa, e o
ruído se cala.
É o vislumbre de um
descanso absoluto,
onde as perguntas se
apagam sem respostas,
e os problemas se desfazem
em nada.
O vazio, então, não é mais
um abismo a ser temido,
mas um horizonte sereno,
onde a paz finalmente se
instala,
uma calmaria sem fim para
a alma exausta.
A Paz Além do Descanso
E a paz além do descanso,
um estado que transcende
o simples alívio de um
peso que se vai.
Não é a quietude que
sucede a tempestade,
mas uma ausência de
necessidade,
onde o anseio e a busca se
dissolvem.
É a serenidade que não
depende de sono,
nem de pausas, nem do fim
de uma jornada.
É o ponto onde a
consciência se aquieta,
livre dos ecos do passado,
das promessas do futuro.
Uma leveza indescritível,
que não é a ausência de
peso, mas a ausência de esforço.
Nesse lugar, a existência
apenas é,
sem a urgência do tempo,
sem a pressão do desejo.
É a dissolução da própria
busca,
a descoberta de que a paz
não é um destino,
mas o próprio vazio
preenchido de si mesmo.
O Vazio Que Se
Auto-Preenche
E o vazio que se
auto-preenche, um paradoxo
que desfaz a lógica do que
é ausência.
Não é um nada que espera
ser completo,
mas uma plenitude que
surge de si,
uma existência que se
basta sem ter.
É como a vastidão do céu
noturno,
que parece vazio, mas é
infinito em estrelas invisíveis,
uma profundidade que se
revela em sua própria essência.
Não há necessidade de
adição, de preenchimento externo,
pois a essência já está
ali, em cada não-coisa.
Nesse espaço, a paz é a
própria matéria,
o silêncio, a voz mais
alta que se pode ouvir.
É a libertação do conceito
de falta,
a descoberta de que o
vazio não é carência,
mas a forma mais pura de
ser, a totalidade em sua vastidão.
Plenitude na Vastidão do
Nada
E a plenitude na vastidão
do nada, o ápice do paradoxo,
onde o vazio não é falta,
mas presença absoluta.
Não é um espaço oco à
espera de preenchimento,
mas o próprio infinito que
se revela em sua essência.
É a liberdade de não ter
contornos, de não ter limites,
a paz de ser tudo e nada
ao mesmo tempo.
Nesse
"não-lugar", a mente se aquieta,
e a existência transcende
a forma, o nome, o peso.
É a perfeição do ser
desprovido,
onde a completude nasce da
ausência de tudo,
e o silêncio se torna a
sinfonia mais rica.
Finalmente, o Silêncio Absoluto
E finalmente, o silêncio
absoluto, não o silêncio que esconde, mas o que revela.
Não é ausência de som, mas
a ausência de todo o ruído interno,
das perguntas incessantes,
das expectativas que pesam.
É a dissolução da própria
mente em sua busca incessante,
um ponto de quietude que
transcende a percepção.
É o fim das oscilações,
das dualidades,
o espaço onde a paz não é
oposta à inquietação,
mas a única verdade que
existe.
Nesse silêncio intocado,
tudo se harmoniza,
e o vazio que se
auto-preenche encontra sua expressão mais pura,
uma calmaria sem ecos, sem
reflexos, apenas ser.
RESISTÊNCIA NO LIMITE
Resistência no Limite
E a resistência no limite,
uma batalha silenciosa e
inglória.
Não é força que
impulsiona,
é a última reserva, o
fôlego arranhado
que se nega a ceder, a
desabar.
Os músculos tremem, a mente
vacila,
mas algo insiste, algo
persiste.
É a teimosia da
sobrevivência,
a recusa em aceitar a
derrota,
mesmo quando a vitória é
apenas a não-queda.
Nesse ponto extremo, a dor
se confunde com a inércia,
e o desejo de parar é tão
forte quanto a ânsia de continuar.
É a dignidade do fio
esticado,
que se recusa a se romper,
ainda que cada fibra clame
por alívio.
sexta-feira, 24 de maio de 2024
A TEIMOSIA DAS SEMENTES
A Teimosia das Sementes
As sementes ignoram o impossível.
Encostam-se à terra dura,
silenciosas,
e lá
ficam, como promessas esquecidas.
O tempo passa, indiferente.
O sol as observa, sem urgência.
A chuva as visita, sem certezas.
Ainda assim, esperam.
Num dia qualquer,
que não era para ser,
elas esticam seus dedos invisíveis,
empurram o peso do mundo e rasgam o chão.
A terra,
antes uma sentença,
agora as embala como mãe.
As sementes venceram,
não pela força,
mas pela teimosia.
ORGANIZEI MINHAS CAIXINHAS INTERNAS
Organizei minhas caixinhas internas
Demorei.
Mas um dia sentei comigo
e fui abrindo as gavetas da alma,
aquelas que eu fingia que não existiam.
Tinha poeira de
antigas promessas,
bilhetes amassados de amores mal passados,
retalhos de silêncios guardados
como se fossem culpa.
Organizei minhas
caixinhas internas
com o cuidado de quem mexe em espelhos.
Não joguei tudo fora —
guardei o que ainda pulsa,
despedacei o que já era peso.
Coloquei
etiquetas invisíveis:
“não insistir”,
“ainda dói, mas passa”,
“lembrança boa, não abrir todo dia”.
Dobrei saudades
com delicadeza,
separei medos por tamanho,
encaixei um futuro pequeno
entre duas esperanças de tamanho médio.
E quando fechei
tudo,
não senti alívio —
senti espaço.
Agora há lugar
dentro de mim
pra uma nova bagunça,
mas com mais consciência,
mais ternura,
menos pressa.
~^^^^^^^^^^^^^^^^^^~~~
Aqui dentro, cabe mais silêncio agora
Depois que mexi
nas gavetas,
alguma coisa se alargou em mim.
Não é ausência,
é espaço.
Não é vazio,
é pausa.
Aqui dentro,
cabe mais silêncio agora —
não o silêncio da fuga,
mas o que escuta,
o que acolhe.
Silêncio que
conversa com o tempo,
que não pressiona respostas,
que sabe que há dores
que só se curam no escuro.
Aprendi a não
preencher tudo.
A não encher as horas de vozes,
os dias de tarefas,
o peito de urgências.
O silêncio agora
é mobília:
me serve de abrigo,
de chão firme,
de ponto de respiro
no meio do mundo que grita.
E às vezes,
no meio desse silêncio novo,
escuto um som pequeno
vindo de dentro —
algo que talvez seja alegria
reaprendendo a crescer.
^^^^^^^^^^^^^^^^
Me tornei casa para mim
Depois de tanta
porta batida,
de tanto teto que ruiu sem aviso,
descobri:
eu podia ser abrigo.
Sem precisar me
explicar.
Sem precisar caber no desenho dos outros.
Me tornei casa para mim,
com janelas que só abro quando quero
e luz acesa no quarto da calma.
Não foi fácil —
aprendi a lixar minhas arestas,
a consertar o que ninguém via,
a pintar paredes internas
com as cores que me faltavam por fora.
Há dias em que
ainda venta por dentro.
Mas hoje,
sei fechar as cortinas,
acender uma vela,
e esperar passar.
Reinaugurei meu
coração
com um tapete de boas-vindas
e uma placa na porta:
“aqui mora quem ficou,
mesmo depois de tudo”.
Me tornei casa
para mim.
E isso não me isola —
me prepara.
Pra receber sem perder,
pra amar sem me deixar do lado de fora.
^^^^^^^^^^^^
A chave ficou comigo
Não tranquei por
medo.
Fechei por cuidado.
A chave ficou comigo
como quem aprende, enfim,
que estar aberto não é estar exposto.
Por muito tempo
deixei portas escancaradas
esperando que alguém entrasse
e me dissesse quem eu era.
Hoje, sei:
quem atravessa sem bater,
às vezes, só vem bagunçar.
A chave ficou
comigo.
E não é segredo,
é escolha.
Aprendi a escutar o som dos passos
antes de destrancar.
Algumas visitas,
deixo no jardim.
Outras, convido pra sentar
no sofá das histórias que doem menos.
Agora sei trancar
sem me fechar,
abrir sem me perder,
ficar sozinho sem me abandonar.
Carrego a chave
comigo
como quem carrega um amuleto:
não pra impedir o mundo,
mas pra lembrar que eu posso voltar
quando quiser.
E isso —
essa liberdade de sair e voltar pra mim —
foi o que me salvou.
AGORA TENHO MENOS LÁGRIMAS
Agora tenho menos lágrimas
Não porque a dor
passou,
mas porque aprendi a regá-la
com menos alarde.
Agora tenho menos
lágrimas —
não por ter vencido,
mas por ter feito as pazes
com o que não sei nomear.
As que restam,
escorrem com mais silêncio,
mais densas,
mais verdadeiras.
Choro menos,
mas sinto mais.
E isso é estranho,
às vezes bonito,
às vezes só… inevitável.
Algumas dores viraram
paisagem,
outras, memória organizada em caixas internas.
Já não preciso que tudo transborde
pra saber que é real.
Aprendi a
respirar no meio do vendaval,
a sorrir com os olhos embaçados,
a caminhar mesmo com um nó na garganta.
Agora tenho menos
lágrimas —
mas cada uma delas
conhece o caminho do meu rosto
como uma prece antiga.