Linguagem dos Invisíveis
É preciso atravessar
a borda de mim —
onde o espelho hesita
e o silêncio respira devagar.
Lá,
os nomes se desfazem nos ombros,
os caminhos desaprendem os pés,
e o céu, de tão ausente,
fica dentro dos olhos.
Há uma língua que me chama
sem voz,
sem pressa.
Feita de vento,
de gestos que não se tocam,
de presenças sem corpo.
Quem escuta?
Quem entende
a sombra de um pássaro
passando por dentro do peito?
Preciso me esvaziar,
me perder do tempo,
virar eco de algo que nunca vivi
mas que insiste em me sonhar.
Só então, talvez,
a estrela do meio-dia
me encontre —
e me chame
por um nome que ainda pulsa
no escuro.