quarta-feira, 7 de maio de 2025

MISTÉRIOS

 Mistérios

meus próprios mistérios,

silenciosos,

livres.

CARREGADO DE SIGNIFICADOS

 

Carregado de Significados

não era só um gesto.
não era só uma palavra.
não era só um olhar.

tudo vinha carregado de significados:
histórias que ninguém contava,
promessas que ninguém cumpria,
feridas que ninguém via.

cada silêncio,
cada riso,
cada recuo,
era uma carta não enviada,
uma memória adormecida,
um amor antigo escondido no bolso.

viver, percebi,
é decifrar esses códigos invisíveis:
o que se diz,
o que se cala,
o que pesa,
o que liberta.

e no fim,
eu também carregava
meus próprios significados,
meus próprios mistérios,
minha própria verdade sem tradução.

PESO EMOCIONAL

 

Peso Emocional

carregava,
sem perceber,
o que não tinha nome,
o que não pedia abrigo,
o que não sabia partir.
era como um peso emocional:
sem forma,
sem rosto,
mas presente em cada passo.
não era dor aguda,
nem tristeza clara —
era só esse cansaço
que amassa os dias,
que apaga as manhãs,
que enfraquece a alma devagar.
e eu seguia,
arrastando o invisível,
sem coragem de soltar,
sem força para carregar.
até que entendi:
alguns pesos não são para lutar,
são para deixar ir.
e naquele instante,
fui mais leve
do que jamais imaginei ser.

VERDADE

 

Verdade

aprendi a dizer
com mais verdade:
menos palavras,
mais alma.      



                    Peso e Liberdade

                            aprendi:
                            verdade pesa,
                            mas liberta.



ECO

 

Eco

e o que eu dizia
voltava.

não como resposta,
mas como ferida
ou como cura.

dependia
do que saía da minha boca.

terça-feira, 6 de maio de 2025

O RETORNO DAS PALAVRAS

 

O Retorno das Palavras

e o que eu dizia
voltava para mim.

não como resposta,
não como castigo,
mas como espelho.

cada palavra lançada
desenhava um contorno novo
em minha própria pele.

o que eu julgava,
me julgava.
o que eu amava,
me amava.
o que eu temia,
me temia.

e assim aprendi:
falar era também ouvir,
gritar era também confessar,
calar era também renunciar.

o que eu dizia
não se perdia no vento —
ele fazia caminho,
dava meia-volta,
e batia na porta do meu peito.

e eu, sem ter para onde fugir,
aprendi a dizer
com mais verdade,
com mais cuidado,
com mais alma.

O ECO E O ESPAÇO

 O Eco e o Espaço

e o espaço era limpo,
como quem varre a alma
de tudo o que foi peso.

não havia móveis velhos,
nem retratos gastos,
nem vozes demais.

só o vazio.
só o branco.
só o respirar.

e no meio desse espaço limpo,
o eco.
não um eco leve,
não um eco esquecido —
mas um eco com peso,
com memória,
com carne.

o que eu dizia voltava para mim,
cheio de verdades que eu temia ouvir.

e o espaço, tão limpo,
não escondia nada.

e o eco, tão pesado,
não perdoava mentira.

entre o silêncio e o som,
eu me encontrei.
e me perdi.
e me encontrei outra vez.

HOUVE O CHORO, HOUVE A CURA

 

Houve o Choro, Houve a Cura

houve o choro.
não disfarçado,
não negado.
chorou-se tudo:
as dores antigas,
as saudades escondidas,
as raivas sem dono.

houve o choro —
e com ele, o desabar necessário,
o despir da alma,
o alívio bruto.

depois,
houve a cura.

não de repente,
não com fogos de artifício.
veio como vem a manhã:
devagar,
suave,
certa.

e ali, onde antes era só cansaço,
nasceu um espaço novo.
leve,
vivo,
possível.

houve o choro.
e porque houve o choro,
houve a cura.

O SOM DA CURA

 O Som da Cura

e ouvi o choro —
não de fora,
mas de dentro.

um choro rouco,
antigo,
feito de palavras que nunca nasceram.

e ouvi o choro
sem medo,
sem pressa,
sem fuga.

depois,
entre uma lágrima e outra,
houve um silêncio.
um silêncio novo,
que não doía mais.

e nesse espaço limpo,
nesse eco sem peso,
ouvi —
pela primeira vez —
a cura.

não veio em forma de grito,
não veio em promessas brilhantes,
não veio em festa.

veio em sussurro,
veio em leveza,
veio em mim.

DESÁGUE

 

Deságue

era velha,
a vontade de chorar.

explodiu.
virou rio.
e eu, vazio.