segunda-feira, 19 de maio de 2025

INÍCIO SEM ROTEIRO

 

INÍCIO SEM ROTEIRO

não me dês tua história inteira
diz só o que gostas de ser chamado
o resto eu decifro nos silêncios
nos sorrisos tortos
nas pausas entre um gesto e outro

não te peço ordem
nem juízo
só presença

porque há em mim um incêndio
quieto
à espera de teu nome
pra ganhar cor e sentido

não me interessa tua geografia
mas o jeito como te deitas no mundo
— ou nele tropeças

quero apenas isso:
a chance de te observar
quando pensas que ninguém olha
de reconhecer tua beleza
na distração

de colher tua risada
antes que ela se apague
como quem colhe o que floresce
sem saber se dura

e se não dura,
que ao menos aconteça.

PRIMEIRO, TALVEZ, ÚNICO

 

PRIMEIRO, TALVEZ, ÚNICO

não foi só o corpo
que me abriste —
foi o instante inteiro
em que deixaste de temer o toque
fui aquele
que nomeou tuas sombras
com um sussurro
aquele que viu tua nudez
não como cena
mas como revelação
não te pedi segredos
mas os recebeste como quem entrega um mapa
de si
e agora,
com o tempo coagulando promessas
e os dias escorrendo por frestas que não previmos
eu te pergunto
não com urgência
mas com ternura:
ainda me reconheces
quando fecho os olhos?

RASTRO

 

RASTRO

ninguém notou
mas eu vi quando ela partiu
com os calcanhares dizendo adeus
em silêncio

era a despedida mais bonita
que alguém podia deixar

levou nada
e mesmo assim
esvaziou a rua

olhei como quem aprende
a perder com dignidade
como quem lê
nos intervalos do som
uma nova forma
de ficar

meu olhar?
não era sapiens —
era só um bicho
querendo memória
em forma de mulher.

CONFISSÃO INVOLUNTÁRIA

 

CONFISSÃO INVOLUNTÁRIA

quis só guardar
um recorte do instante
pra lembrar depois

mas escrever demais
acaba revelando mais
do que devia

e no vai e vem das palavras
ele leu
nas entrelinhas
o que escondíamos no riso

um carinho que se disfarçava
de nada demais
mas era tudo

e quando caiu a máscara
da nossa inocência planejada
descobrimos
que o cuidado demais
também é forma de desejar

o flagra veio de leve
mas nos arde até hoje.

SE TIVER, EU PREFIRO

 

Se tiver, eu prefiro

 

Prefiro a conversa fiada com o vizinho na calçada,

sobre o tempo, sobre a vida,

sem pressa de chegar a lugar algum.

Se tiver, eu prefiro.

QUARTO DE HÓSPEDE

 

QUARTO DE HÓSPEDE

chegou devagar
como quem pede licença
pra ficar só um fim de semana

instalou-se entre as lembranças
fez morada no canto mais claro
e foi ficando

primeiro trouxe as malas
depois espalhou suas roupas
e logo decorou o silêncio

parecia visita
mas tinha raízes

nos desencontrou das rotinas
nos bagunçou os retratos
nos virou pelo avesso

não gritou seu nome
mas todo mundo soube
era amor
esse hóspede clandestino
que nunca vai embora.

domingo, 18 de maio de 2025

O RELÓGIO DO CÉU (Letra de Música)

 

O Relógio do Céu

(Letra de música – realismo fantástico / espiritual)

[Verso 1]
Hoje o tempo se abriu, como um livro em flor
As horas dançam no ar, em espirais de cor
Não há mais volta no rio que se foi
Nem saudade do que o vento levou

[Verso 2]
Vejo um anjo varrendo o chão do céu
Folhas antigas de um calendário fiel
E ele me diz, sem mover a boca:
"O agora é tua espada e tua roupa"

[Pré-Refrão]
Não é peso, é asas — é chama na mão
É mapa vivo no teu coração

[Refrão]
Viver pra Cristo, ganhar as almas
Atravessar portais, acender a calma
Ajuntar estrelas no galardão
Servir é canto, é gratidão

[Verso 3]
As ruas brilham com luz que não se vê
E cada gesto esconde o poder da fé
O tempo é um relógio feito de oração
Que só desperta na transformação

[Pré-Refrão]
Não há “e se”, nem sombra no chão
Só o presente com direção

[Refrão]
Viver pra Cristo, ganhar as almas
Atravessar portais, acender a calma
Ajuntar estrelas no galardão
Servir é canto, é gratidão

[Ponte]
E quando o dia amanhece em mim
Ouço o céu sussurrar: “é por aqui”
O Reino passa por dentro do olhar
Em cada passo que se faz amar

[Refrão Final]
Viver pra Cristo, ganhar as almas
Erguer o eterno na vida que embala
Ajuntar estrelas no coração
Servir é verbo da salvação


TEMPO NOVO

 

Tempo Novo

Hoje nós vivemos um tempo novo,
não se olha pra trás como quem perdeu,
nem se deseja o que já passou,
nem se chora o que não aconteceu.

O passado é página virada,
não se habita mais em "e se eu tivesse...",
porque a vida pulsa é no agora,
e no agora o propósito cresce.

Visão no presente, pés no caminho,
olhos firmados na direção,
coração rendido ao chamado divino,
vida vivida com transformação.

Responsabilidade que nos foi dada:
ser sal e luz neste mundo vão,
viver pra Cristo, ganhar almas,
ajuntar galardão na eternidade, então.

Viver pra servir, pra agradecer,
e reconhecer cada dia abençoado
como chance nova de obedecer
ao Senhor fiel e amado.

sábado, 17 de maio de 2025

A TRAVESSIA DOS SÉCULOS

 

"A Travessia dos Séculos"

Numa sala sem portas, onde o tempo repousa,
um viajante ergue a mão — e o mundo se dobra.
Ali, o ontem e o amanhã são irmãos que se evitam,
duas serpentes que circulam a mesma chama.

Ele marcha por trilhas que ainda não nasceram,
e colhe frutos em árvores já esquecidas.
Cada passo é um eco, cada escolha um abismo:
trocar um suspiro por uma eternidade perdida.

No passado, o rosto da mãe que não envelhece.
No futuro, cidades de vidro que desmoronam ao vento.
Em qual margem repousa a verdadeira existência?
Em qual tempo mora o que somos, ou o que sonhamos ser?

O viajante descobre:
o tempo não é linha, nem círculo, nem ponte —
é lágrima que escorre para todos os lados,
é espelho que reflete versões que não tocamos.

E ao final da estrada —
não há triunfo, nem retorno, nem repouso.
Só um viajante que, ao mirar o infinito,
compreende:
não era o tempo que precisava vencer.
Era a si mesmo.


RELÓGIOS PARTIDOS

 

"Relógios Partidos"

No fio tênue entre o ontem e o agora,
caminho sem bússola, sem mapa, sem demora.
Se o tempo é rio, por que não navegar?
Se é espiral, por que não recomeçar?

Cada instante que passa, morre e renasce,
somos poeira de lembranças que o futuro disfarce.
Um passo à frente — eco no passado,
um suspiro perdido — um amanhã moldado.

Se eu voltar ao berço da minha própria história,
mudarei o que sou... ou apenas a memória?
E se correr adiante, vencendo o porvir,
acharei novas dores ou esquecerei de existir?

O tempo é prisão ou é ponte vazia?
É lágrima antiga ou promessa tardia?
Viajar no tempo é viajar no ser —
é buscar no infinito o que nunca quis perder.

Relógios partidos não medem saudade,
apenas recordam que a vida é metade:
parte sonho, parte arrependimento,
parte silêncio, parte movimento.

Então sigo:
não como quem domina o tempo,
mas como quem o respeita,
como quem dança com ele —
sem nunca saber a música inteira.