quinta-feira, 11 de julho de 2019

A ETERNA SEDE DO VIAJANTE

 A Eterna Sede do Viajante

(Espero que capture a amplitude e a perenidade da busca)


Desde o orvalho na folha do campo até a fumaça densa nos bares da madrugada. Pelos becos estreitos onde a sombra se esconde, nas avenidas largas que engolem o horizonte. Nas praias onde a onda desfaz e refaz promessas.

Em todas as casas de paredes finas ou fortes, nas cavernas que guardam segredos primevos, nas palhoças frágeis erguidas contra o vento.

Por todo o tempo que foi, pelo tempo que é, e pelo tempo que virá, existirão, como sempre existiram, os seres.

Com a sede inextinguível nos olhos, com as mãos estendidas no vazio ou na pressa, com o coração batendo no ritmo de um anseio. Em busca de algo cujo nome escapa, uma verdade talvez, um refúgio, um sentido. Ou em busca de alguém, um olhar que compreenda, um toque que acalme, uma presença que preencha o espaço vasto da solidão.

Essa busca é a respiração secreta do mundo dentro de mim, o murmúrio constante sob o ruído dos dias. Ela atravessa paisagens e épocas, veste diferentes roupagens, mas a essência é a mesma: o ser eterno a procurar, a esperar, a estender-se rumo a algo ou alguém.




terça-feira, 9 de julho de 2019

MUDEZ INTERIOR

 

Mudez Interior

 

Minhas palavras não têm som.

Elas nascem e morrem

no avesso da garganta,

um grito mudo que só eu entendo.

 

Não há eco,

nem melodia.

Apenas o silêncio denso

do que não se diz,

do que se desintegra antes de tocar o ar.

 

São como ondas sem praia,

chuva que não atinge o chão,

um sussurro que se perde

no próprio abismo.

 

E talvez seja melhor assim.

Que elas habitem o não-dito,

esse espaço secreto

onde a verdade não precisa

de voz para existir.

 

sexta-feira, 28 de junho de 2019

PÁGINA EM BRANCO

 

Página em Branco

 

Não escrevi nenhuma história.

Minha vida é um livro

de páginas lisas,

intocadas.

 

Nenhum enredo de aventura,

nem drama, nem riso alto.

As canetas secaram,

as palavras calaram

antes de virar tinta.

 

Sou o começo que não explodiu,

o meio que não teceu,

o fim que nem chegou a ser ponto.

Um rascunho de alma

sem linhas para preencher.

 

Mas talvez na ausência,

na tela vazia,

esteja a minha verdade.

A quietude de quem vive

sem precisar contar.

Onde a história é só o sopro,

o ar que se respira,

e se dissipa sem deixar vestígios.



 

terça-feira, 25 de junho de 2019