domingo, 9 de maio de 2021

VEM

 

VEM

e a timidez se fez presente,
a te deixar envergonhada
por estar diante das lentes
do meu cristalino,
que desnudavam tuas curvas
enquanto minhas mãos desprendiam,
de teus ombros, as alças
do vestido de algodãozinho.

não parecias saber o que fazer,
o que dizer,
a não ser o natural fechar de pernas,
cobrir os seios com as mãos
e deixar-se submissa,
ser acariciada.

a pele,
porém,
denunciava o desejo quase incontido
de dar-se,
para que corpo se confundisse
com corpo,
para que os movimentos
eternizassem o momento.

costas apoiadas nos lençóis,
olhos semicerrados,
a divisar-me na chegança do bem —
e nada podias dizer
mais lindo e sublime
que o teu desajeitado:
vem.

sábado, 16 de janeiro de 2021

EU NÃO SABIA

EU NÃO SABIA QUE SERIA ASSIM 


Essa tristeza. Não é o frio repentino do susto, nem a pontada aguda da dor. É um peso. Morno. Instalado bem no centro do peito.

Não aperta, não sufoca de repente. Apenas está lá. Como uma pedra lisa aquecida pelo sol, mas que nunca arrefece.

É uma sombra. Mas não a sombra que se alonga ao entardecer, ou que desaparece ao meio-dia.

Essa sombra não se move. Quando a luz do sol gira, quando as lâmpadas se acendem, quando o dia vira noite, ela permanece no mesmo lugar.

Fixa. Ancorada em mim.

Não é o reflexo de algo externo, não é projetada por um obstáculo visível. É a sombra da minha própria paisagem interna, projetada para dentro.

Um peso morno. Uma sombra imóvel. No centro do peito. A tristeza que não sai, que não muda com a luz, apenas habita, silenciosamente, constantemente, em mim.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

O CHAMADO

 

O Chamado Silencioso do Desconhecido

Um sussurro na brisa, um tom que a memória não alcança, mas a pele arrepia em presságio.

Que mistério reside na curva da estrada, no eco distante de um sino?

O olhar se perde em tons de um azul indecifrável, onde o céu encontra a montanha e segredos se aninham.

Um vermelho pulsante na flor silvestre, uma promessa vibrante, um instante de pura entrega.

O farfalhar das folhas, uma conversa antiga, palavras que o vento traduz em canções efêmeras.

E a pergunta teima, insistente e suave, qual o nome desta saudade que o desconhecido me traz?

Será um portal aberto para um tempo esquecido, ou apenas a dança fugaz de sombras e luz em meu sentir?

O desconhecido chama, não com voz audível, mas com a força sutil de um imã na alma. E a exploração começa no território incerto das próprias sensações.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020