Línguas de Pedra
A terra respira.
Não com pulmões de carne,
mas com o lento inchaço
de montanhas
erguidas sobre milênios.
Sua voz não é som,
não é palavra gritada no vento.
É o peso da rocha,
a ruga no flanco da colina,
o granito calado na base do tempo.
A língua da pedra.
Gravada em estratos,
em fósseis que foram vida,
em minerais que guardam a memória
de fogos primordiais.
É a textura áspera sob a mão,
o frio ancestral que emana
do coração da montanha.
Cada fissura, cada veia quartzo,
uma sílaba esquecida,
um verso petrificado.
E o silêncio.
Ah, o silêncio da terra!
Não o vazio,
mas a plenitude que não precisa de som.
O vasto deserto sob o sol impiedoso.
A floresta densa antes do amanhecer.
As cavernas escuras e profundas.
É o silêncio que precede a tempestade,
o silêncio que guarda segredos
de Eras Glaciais,
de mares que secaram,
de seres que andaram por aqui
e se tornaram pó.
A terra fala em línguas de pedra,
com a solidez imemorial
que desafia nossa brevidade.
Fala em silêncio,
com a quietude profunda
que nos convida
a ouvir
além do barulho.
Basta parar.
Sentir o chão sob os pés.
Ver a montanha ao longe.
Estar no vasto.
E a terra, então,
começa a contar
sua história antiga,
em sua própria e silenciosa linguagem.