quinta-feira, 8 de maio de 2025

LUZ QUE ESCORRE

 

Luz que Escorre

A criação começa
quando a luz escorre —
não pela janela,
mas entre as ideias.

Um clarão súbito,
um raio calmo,
um brilho que invade
sem pedir palma.

É quando o olho
vê o que não há,
mas sabe que existe
no vão do olhar.

Luz que colore
o que ainda é vago,
que acende o traço
num tempo devagar.

Criar é acender
a sombra do mundo
com uma lanterna
dentro do peito.

A COR QUE SE ESCONDE

 

A Cor Que Se Esconde

A cor não grita —
ela espera, escondida
no canto do verso,
na dobra do dia.

Às vezes, vem cinza
feito céu sem resposta,
às vezes, explode
num azul que aposta.

É o vermelho
do susto ou do sangue,
o amarelo
que dança na língua,
o verde do tempo
que nunca se cansa.

Criar é manchar o vazio
com o tom que se sente,
pintar com o pulso
aquilo que mente.

Porque há cores que nascem
só quando se escreve.

A FORMA DO INVISÍVEL

  A Forma do Invisível

Nem tudo tem contorno.
Às vezes, o poema
é só vento que pensa,
é mar sem costura.

Mas a forma chega
como quem molda o ar,
um gesto que curva
o que se quer tocar.

É o corpo do som,
a linha do espaço,
o peso da pausa
no fim de um abraço.

Criar é inventar contornos
praquilo que escapa,
dar forma ao silêncio
sem que ele se quebre.

Porque o invisível,
quando ouvido com cuidado,
tem um rosto possível.

O CHEIRO DA CRIAÇÃO

 O Cheiro da Criação

Criar tem o cheiro
do pó das palavras,
um perfume antigo
que a tinta espalha.

Às vezes é terra molhada,
ou flores em botão,
ou o doce do instante
que escapa da mão.

É o aroma do próprio medo,
a essência do começo,
um cheiro que lembra
tudo o que é impreciso.

Criar é sentir no ar
o que não se vê,
é inspirar o vazio
e respirar o que virá

SOBRE O PERDÃO III - (Versão Filosófica)

Sobre o Perdão III
versão filosófica e reflexiva: "o perdão não tem forma"

o perdão não tem forma.
às vezes é um gesto,
outras vezes,
é um silêncio que aceita ficar.

pedir perdão não apaga,
mas ilumina.
revela a parte nossa
que ainda se importa.

não existe técnica pra isso —
só entrega.
uma vulnerabilidade que se oferece
sem saber se será acolhida.

perdão é um território
sem mapa.
mas quando duas almas se encontram ali,
algo que estava torto
se endireita devagar.

SOBRE O PERDÃO II - (Nova versão)

Sobre o Perdão II 
versão do ponto de vista de quem precisa perdoar: "te esperei voltar"

eu te esperei voltar
não pra te punir,
mas pra ver se teu silêncio
vinha com arrependimento.

não queria que ajoelhasse,
nem que chorasse —
só que reconhecesse
que doeu.

quando você disse "me perdoa",
não foi a frase.
foi o jeito.
foi o espaço que abriu
pra minha mágoa respirar.

perdoar não é esquecer,
é aceitar que o outro também erra
e ainda assim
pode merecer um recomeço.

SOBRE O PERDÃO - (Versão Confessional)

Sobre o perdão 
versão confessional: "me enrosquei em mim"

me enrosquei em mim
tantas vezes
que machuquei quem tentava me abraçar.

custei a entender
que nem tudo é defesa,
que pedir perdão
não é me diminuir,
é desatar os nós do orgulho.

não é sobre ter razão —
é sobre ver o estrago que causei
mesmo sem querer.
e querer reparar,
mesmo sem saber como.

minha voz treme.
minha garganta arranha.
mas eu digo:
me perdoa?

e deixo a resposta vir
como vier —
porque pedir perdão
é um risco que vale
a paz que talvez volte.

APRENDER A PEDIR PERDÃO

 

aprender a pedir perdão

não foi de primeira.
demorou a entender
que pedir perdão
não é se humilhar,
é se humanizar.

levei tempo
pra soltar a armadura,
pra não falar “desculpa”
como quem cumpre tabela,
pra não engolir o orgulho
com gosto de veneno.

tem um silêncio
que vem antes do perdão.
um lugar sem palavra,
onde a culpa e o amor
sentam frente a frente
e não sabem o que dizer.

pedir perdão
é perder o controle do roteiro.
é admitir que feri
mesmo sem intenção.
é dizer:
“não quero vencer —
quero voltar a caber no teu abraço.”

aprendi devagar.
com a dor do outro,
com o espelho embaçado,
com a voz que treme
antes de confessar.

e ainda erro.
mas agora sei:
perdão não é fim de nada.
é a única forma
de continuar.

QUANDO A FÉ FICOU PEQUENA

 

. quando a fé ficou pequena (poema moderno)

teve um dia
que a fé ficou pequena.
cabia num bolso,
num grão de dúvida,
num suspiro tímido.

não iluminava nada.
só seguia comigo,
como quem diz:
“não sou milagre,
mas não vou embora.”

e eu, que esperava
colunas de fogo,
aceitei a brasa.
e aprendi a amar
o pouco que fica
quando tudo o mais se vai.

EM SILÊNCIO TAMB[EM É ORAÇÃO

 

em silêncio também é oração (letra de música)

[Verso 1]
não falei nada hoje,
mas meu corpo gritou.
minha alma calada
foi quem orou.
sem joelho no chão,
sem palavra bonita,
só o silêncio
e a fé ferida.

[Refrão]
em silêncio
também é oração.
quando tudo trava,
até o coração.
se não sai voz,
ainda tem intenção —
e às vezes Deus entende
o que é só respiração.

[Verso 2]
já tentei rezar certo,
seguir o script,
mas a dor não cabe
numa prece que edite.
então fecho os olhos
e só fico ali —
sem saber se peço,
ou se só existo
.