quarta-feira, 9 de abril de 2014

ESPAÇO VAZIO DENTRO DE MIM

 

ESPAÇO VAZIO DENTRO DE MIM

Há um lugar em mim
onde o silêncio se acumula,
como se o som nunca tivesse sido
realmente permitido entrar.

Os dias passam,
e o vazio cresce
como uma sombra silenciosa
que se estende em cada esquina interna.

Não há pressa para preencher
nem urgência para entender,
apenas uma espera lenta,
um espaço inusitado
que não sei se devo habitar.

A cada suspiro,
o eco se expande
e o vazio toma forma
sem pedir licença.

Eu me observo ali,
nesse buraco que se forma sem querer,
um pequeno vácuo onde as palavras
não chegam a completar o que falta,
onde a sensação de estar
parece se perder na distância do eu.

Nada parece se ajustar,
como se tudo se desencaixasse
e eu fosse,
nesse fragmento de tempo,
uma curva imperfeita,
aguardando uma resposta
que não sei qual é.

Mas o vazio persiste,
não é vazio em si,
é só a falta de algo
que ainda não se tornou
parte de mim.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

ESSÊNCIA DO QUE RESISTE

 

Essência do Que Resiste

 

Há em mim a essência do que resiste.

Não a força bruta que se impõe,

nem a rocha que não se move.

Mas a fibra tênue do capim

que dobra ao vento e volta ao lugar.

 

É o musgo que se agarra,

a pequena flor que rompe o asfalto,

a chama que treme mas não se apaga

na madrugada mais fria.

 

É a teimosia silenciosa

do que se recusa a sumir,

a pequena fé que sussurra

quando tudo grita desamparo.

 

Essa essência não faz alarde.

Ela simplesmente está,

pulsa baixinho no avesso das coisas.

A memória de que, mesmo em ruínas,

há sempre um germe de vida

que se agarra,

que espera,

que permanece.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

A CORRENTE INVISÍVEL

 

A Corrente Invisível


O tempo é um rio, dizemos.

Mas não um rio que observamos

da margem,

com a certeza de que ele sempre esteve ali.

 

É um rio que nos toma.

Uma corrente invisível

que não pergunta se queremos ir,

se a paisagem à frente nos agrada.

 

Cada segundo, uma nova gota

que se soma, que nos arrasta.

E as margens, que antes eram familiares,

se desfazem atrás de nós, em bruma.

 

Não há volta. Não há âncora.

Apenas o fluxo constante,

levando-nos para onde a água nunca foi tocada,

para a cor e a profundidade que ainda não conhecemos.

 

E é nesse arrasto, nesse desconhecido imposto,

que a vida se faz.

Porque o rio sabe que a estagnação é o fim,

e a única margem segura

é a que se move conosco.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

CORES INVISÍVEIS DA PAIXÃO

 

Cores Invisíveis da Paixão


Eu observo a tela em branco,

o pincel suspenso entre meus dedos,

e me pergunto como pintar o que não tem cor.

Não a paixão que grita, que incendeia,

mas aquela que reside nas entrelinhas,

nos silêncios que dizem tudo.

É uma paleta de tons invisíveis,

percebida apenas pela alma.

 

Eu sinto o frio na barriga antes de um encontro,

aquela eletricidade sutil que anuncia.

Ouço a voz que, por alguma razão,

me acalma e ao mesmo tempo me desordena.

É o risco de um toque,

a promessa contida num olhar demorado.

Não há vermelho vibrante aqui,

mas um calor interno, uma combustão lenta.

 

É a dedicação silenciosa,

o cuidado que se manifesta nos pequenos gestos.

A xícara de café deixada na mesa,

o cobertor estendido nos pés,

o ouvir atento a uma história mil vezes contada.

Não é o drama da tela grande,

mas a intimidade do cotidiano,

pintada em matizes que só o coração compreende.

 

Eu me pego sorrindo sozinho ao pensar em algo,

um fragmento de memória,

um plano futuro.

Há uma doçura agridoce,

um medo leve de que tudo possa se esvair,

mas também uma coragem estranha que me impulsiona.

É a vulnerabilidade de se entregar,

a força de amar sem garantias.

 

E então, eu pinto.

Não com tintas, mas com a respiração,

com a batida do meu próprio pulso.

Eu desenho os contornos da ausência quando ela aperta,

e a luz que irradia quando a presença preenche.

Minha tela invisível está sempre sendo preenchida

com as cores inaudíveis da paixão,

aquelas que não se veem,

mas que se sentem profundamente,

e que dão sentido a cada nuance do meu ser.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

AMORES QUE NÃO SABEM QUE FORAM

 Amores que Não Sabem se Foram

 

Não houve adeus marcado,

nem porta batida com estrondo.

Apenas um silêncio alongado

que se espalhou entre nós,

como névoa ao amanhecer.

 

Eles pairam, esses amores,

como canções esquecidas no rádio,

mas que de repente tocam,

e a melodia enche o ar

de um tempo que ainda vive.

 

São risos que ressoam

em corredores vazios,

toques que a pele ainda lembra,

perfumes que o vento,

cruelmente, às vezes traz.

 

Não se sabe se morreram,

se adormeceram profundamente,

ou se apenas mudaram de endereço,

morando agora

na penumbra dos pensamentos,

na cicatriz que não dói,

mas que nunca sumirá.

 

E assim, carregamos essas sombras leves,

essas presenças ausentes,

amores que se recusam a ser passado,

eternamente suspensos

entre o que foi e o que não é mais,

sem nunca saberem

se, de fato, partiram.

 

sábado, 15 de junho de 2013

O VAZIO QUE SE AUTO-PREENCHE

 

O Vazio Que Se Auto-Preenche

 

E o vazio que se auto-preenche, um paradoxo

que desfaz a lógica do que é ausência.

Não é um nada que espera ser completo,

mas uma plenitude que surge de si,

uma existência que se basta sem ter.

 

É como a vastidão do céu noturno,

que parece vazio, mas é infinito em estrelas invisíveis,

uma profundidade que se revela em sua própria essência.

Não há necessidade de adição, de preenchimento externo,

pois a essência já está ali, em cada não-coisa.

 

Nesse espaço, a paz é a própria matéria,

o silêncio, a voz mais alta que se pode ouvir.

É a libertação do conceito de falta,

a descoberta de que o vazio não é carência,

mas a forma mais pura de ser, a totalidade em sua vastidão.