Existe Vida Após o Ponto
Final?
Não a vida que se respira,
nem a que se toca.
Mas uma persistência.
A palavra dita,
mesmo encerrada,
vibra no ar.
É a memória do que foi
lido,
o rastro deixado na mente,
o eco de uma ideia.
O ponto final não é um
túmulo,
mas um portal.
Ele lança a frase
para a eternidade do
pensamento.
Ali, no silêncio que se
segue,
a vida da frase se
expande.
Ela se torna parte do
leitor,
se mistura às suas
próprias verdades,
se transforma em semente.
Então sim,
existe uma vida.
Não na tinta, nem no
papel,
mas na ressonância.
Uma vida que não se apaga,
que se propaga,
infinitamente,
além do que o olho vê
e o ouvido escuta.
Meu espelho agora começou
a me observar quando eu o encaro.
Seus olhos de vidro, antes
inertes,
parecem absorver minha
imagem,
refratar minha alma.
Não há reflexo, mas um
registro.
Uma tela viva
onde o que foi,
e o que se torna,
permanece.
E a vida, então,
não é apenas o que se
move,
mas o que se reflete e se
guarda,
em cada instante,
após o ponto final.