quinta-feira, 22 de maio de 2025

ENREDO Letra para Música)

 Enredo

(Letra para Música)

Verso 1
De manhã, deixas silêncio
Na caneca, o teu sinal
Teu perfume vai primeiro
Mas demora o teu final

Verso 2
Pelas ruas sigo mudo
Feito alguém que já cantou
A canção perdeu o rumo
Mas o tom ainda ficou

Refrão
E eu te esqueço no segredo
Mas meu peito vira enredo
Onde a dor se faz canção
Se me escondo no sossego
Tua ausência é meu brinquedo
Feito rima sem refrão

Verso 3
Teu relógio marca o tempo
Do que nunca começou
E eu ensaio o esquecimento
Mas a cena me pegou

Refrão final
E eu te esqueço no degredo
Mas meu peito vira enredo
Onde a dor se faz canção
Feito um samba em desapego
Teu silêncio é o meu apego
Nessa estrada sem perdão

quarta-feira, 21 de maio de 2025

AQUELA LINHA TÊNUE

 Aquela Linha Tênue

Aquela linha tênue —
sutil, quase ausência —
separa o eu de mim,
como névoa entre dois espelhos
que já não se encaram.

Separar o eu de mim
é tarefa de vigília,
de quem sobe à torre
todas as noites,
com olhos que nunca dormem
e um coração em sentinela.

Lá do alto,
vigio as fronteiras do que sinto,
marcando com o olhar
onde termina a máscara
e começa a pele.

Há um abismo discreto
entre o que digo e o que me cala.
E essa linha fina,
tensa como corda de harpa,
às vezes canta.
Às vezes corta.

Separar o eu de mim
é arte de quem já se perdeu
e aprendeu a permanecer.
Mesmo vigiando,
mesmo partido,
ainda inteiro

FINAL DA MÁSCARA

 

Final da Máscara

Final da máscara, início da pele —
onde a mentira escorrega
e a verdade começa a arder.
Ali, eu andei descalço,
num estreito de mim mesmo,
sem margem,
sem muro,
sem véu.

Meus pés tocaram o frio do chão
como quem reencontra um altar antigo,
e cada passo
era uma confissão sussurrada
ao silêncio que não julga.

Entre o que escondi por anos
e o que restou quando caiu o pano,
eu encontrei um nome
que ainda sabia dizer.

Andei descalço,
sobre pedras que lembravam
o quanto doeu ser outro,
o quanto custou voltar.

No estreito, não havia fuga.
Mas havia passagem.
E do outro lado —
pele viva,
cicatriz sem vergonha,
alma porosa,
e a coragem tênue
de ser.

DESENHANDO UM SORRISO (E uma desculpa qualquer)

 

Desenhando um sorriso 

(e uma desculpa qualquer)

Desenhei um sorriso —
leve, mas torto,
como quem aprendeu a moldar silêncios
com um lápis de cor gasto demais.

Inventei uma desculpa qualquer,
vestida de vento,
que saiu da minha boca sem pedir licença:
“Foi só o tempo, entende?”

Mas quem entende?
Se o que ficou não foi o motivo,
foi o gesto mal costurado
no meio da minha frase.

Desenhei um sorriso —
meio tarde, meio cedo,
na esperança de que a curva nos meus lábios
enganasse o que minha alma ainda carrega.

E a desculpa qualquer,
que nasceu sem raiz,
ficou plantada no chão da minha memória,
como flor que ninguém rega mais.

Mas eu sorri.
Como quem treina o perdão no espelho
e tenta, todo dia,
fingir que não doeu tanto assim.

E NEM PRECISA DE RIMA

 

E Nem Precisa de Rima

Fragmentos de conversas perdidas pairam no espaço da lembrança. São imagens desconexas de um filme inacabado.

Um gesto da mão, um olhar de soslaio, o murmúrio de um segredo qualquer. A mente tenta reconstruir o diálogo, mas as peças não se encaixam bem.

Eram projetos acalentados, palavras lançadas ao vento. Eram opiniões trocadas, a busca por um entendimento.

O tempo esgarçou as bordas, desbotou as cores daquele instante. Sobraram apenas pedaços soltos, uma vaga sensação distante.

A voz que preenchia os dias agora reside no silêncio. Em cada objeto, uma sombra, de um encontro que não se fez eterno.

AS COISAS QUE NÃO TERMINAM

 As coisas que não terminam

Tem gente que vai embora
como se fosse simples —
fechar a porta, virar o rosto,
levar a xícara preferida.

Mas esquece um rastro.
Esquece o nome no espelho
e um verso que ninguém escreveu.

Fica o passo na madeira.
O cheiro preso no armário.
O riso guardado num talher.

Fica até a briga mal resolvida,
pendurada na maçaneta
feito lenço que ninguém recolhe.

E eu?
Eu vou juntando os fragmentos,
fingindo que são cacos de um vaso antigo
e não do meu coração.

Fico ensaiando despedidas
pra quando não doer mais.
Mas meu peito vira enredo
toda vez que o silêncio respira teu nome.

SE TIVER, EU PREFIRO

 

Se tiver, eu prefiro

 

Prefiro a música baixa no rádio enquanto lavo a louça,

e de repente, uma canção antiga

que me leva para outro tempo, um sorriso leve.

Se tiver, eu prefiro

terça-feira, 20 de maio de 2025

A CERTEZA SILENCIOSA DE NÃO PERTENCER

 

A Certeza Silenciosa de Não Pertencer

Era como estar no centro de uma sala
cheia de vozes
e não ser chamado por nenhuma.

Os copos tilintavam,
os risos vinham em ondas,
mas o som não me atravessava.

Olhos passavam por mim
como por vitrines vazias,
procurando algo que não sou.

Sentei no chão invisível da minha ausência,
enquanto o mundo seguia
com seus gestos coreografados,
suas verdades acordadas em grupo.

Ali,
entre o bater do coração
e o eco das conversas alheias,
surgiu uma calma incômoda,
fina como névoa:

a certeza silenciosa
de não pertencer.

Não como quem foi expulso,
mas como quem sempre esteve
no lugar errado do mapa.

Ainda assim, respirei.
Não como quem espera,
mas como quem aceita
ser intervalo.

E fiquei.

segunda-feira, 19 de maio de 2025

FLORES NO LIXO DA ESTAÇÃO (Letra de Música)

 

Flores no Lixo da Estação

(Letra de Música)

(Verso 1)
Você foi embora
Deixou perfume no vento
E um buquê no meu desespero

Eu fiquei ali parado
Tentando convencer os trilhos
A me levarem pra trás

(Pré-Refrão)
Mas o trem passou
Levou tua ausência
Sem pedir desculpas

(Refrão)
Mas o tempo veio, devagar
Me ensinou a esperar
Flores rejeitadas não morrem, não
Viraram semente no chão

(Verso 2)
E agora tô aqui, de mãos dadas
Num outro domingo, outra estação
Ninguém sabe, ninguém vê
O jardim que plantei em mim

(Pré-Refrão)
O trem passou
Levou tua ausência
Sem pedir desculpas

(Refrão)
Mas o tempo veio, devagar
Me ensinou a esperar
Flores rejeitadas não morrem, não
Viraram semente no chão

(Ponte)
Tudo que a gente deixa pra trás
Pode renascer, pode florescer
No silêncio de um novo olhar
No jardim que eu aprendi a cuidar

(Refrão final)
O tempo veio, devagar
Me ensinou a esperar
Flores rejeitadas não morrem, não
Viraram semente no chão

FLORES NO LIXO DA ESTAÇÃO

 

FLORES NO LIXO DA ESTAÇÃO

você foi embora
deixou perfume no vento
e um buquê no meu desespero

e eu fiquei lá
tentando convencer os trilhos
a me levarem pra trás

mas o trem passou
e levou tua ausência
sem pedir desculpas

o tempo veio depois
sem pressa
e me ensinou
que flores rejeitadas
não morrem — viram semente

e agora estou aqui
de mãos dadas
num outro domingo
com outra estação

ninguém sabe
mas plantei aquele buquê no jardim
do que sou hoje.