domingo, 8 de agosto de 2010

MONTANHA RUSSA EMOCIONAL

Montanha Russa Emocional


O trilho não avisa
quando desaba,
nem o coração avisa
quando é tarde demais.

desci sem querer,
sem cinto,
sem mãos pro alto —
só a garganta presa
e o estômago no meio da alma.

não aguentei
me ver
em pleno luto,
entre o café da manhã
e a notificação ignorada.

me vi no espelho:
desfocado,
com olhos de gente que já chorou
e se esqueceu como para.

o mundo lá fora gritava
coisas como “reage”
ou “vai passar” —
mas quem grita de fora
não ouve o que implode por dentro.

em tempos assim
nem dói mais
como dor.
é só um silêncio contínuo
vestido de corpo.

mas ainda me reconheço
no fio tênue entre o abismo
e um poema.

e às vezes
isso basta.


quinta-feira, 29 de julho de 2010

EXISTE VIDA APÓS O PONTO FINAL?

 

Existe Vida Após o Ponto Final?

 

Não a vida que se respira,

nem a que se toca.

Mas uma persistência.

 

A palavra dita,

mesmo encerrada,

vibra no ar.

 

É a memória do que foi lido,

o rastro deixado na mente,

o eco de uma ideia.

 

O ponto final não é um túmulo,

mas um portal.

Ele lança a frase

para a eternidade do pensamento.

 

Ali, no silêncio que se segue,

a vida da frase se expande.

Ela se torna parte do leitor,

se mistura às suas próprias verdades,

se transforma em semente.

 

Então sim,

existe uma vida.

Não na tinta, nem no papel,

mas na ressonância.

 

Uma vida que não se apaga,

que se propaga,

infinitamente,

além do que o olho vê

e o ouvido escuta.

 

Meu espelho agora começou a me observar quando eu o encaro.

Seus olhos de vidro, antes inertes,

parecem absorver minha imagem,

refratar minha alma.

Não há reflexo, mas um registro.

Uma tela viva

onde o que foi,

e o que se torna,

permanece.

E a vida, então,

não é apenas o que se move,

mas o que se reflete e se guarda,

em cada instante,

após o ponto final.

sábado, 19 de junho de 2010

A CRONOLOGIA DA ALMA

 A Cronologia da Alma

 

Primeiro, veio o choro.

Água salgada esculpindo caminhos no rosto,

um dilúvio interno sem dique,

cada gota um adeus, uma ferida aberta

buscando um alívio que não chegava.

A garganta presa, o peito oco,

a pele viva, vibrando em dor.

 

Depois, o abismo se abriu.

Não era queda, mas dissolução,

um vazio que engolia cores e sons,

onde a gravidade da alma falhava.

Sem fundo, sem margem,

apenas a imensidão da ausência,

e a certeza fria de estar só

no vácuo do que se perdeu.

 

Então, veio o silêncio.

Não a ausência de som, mas a pausa

no grito, na vertigem.

Um manto pesado sobre tudo,

onde o eco das dores antigas

se tornava apenas um murmúrio distante.

Foi na quietude dessa suspensão

que o ar começou a entrar novamente,

sem pressa, sem alarde.

 

E, por fim, houve a cura.

Não um milagre instantâneo,

mas a trama paciente do tempo,

ponto a ponto, remendando o rasgado.

As cicatrizes, agora, são mapas,

testemunhos da travessia.

O choro se fez rio, o abismo, espaço,

o silêncio, canção nova.

A vida, outra vez,

pulsando na ressurreição.

 

quarta-feira, 16 de junho de 2010

AINDA PENSO

 Ainda Penso

 

 Em mim todas as consciências:

as ancestrais e as jovens.

Efêmeras.

Vêm e se abrem, e então

... o corte.

 

E a mesma mão que alcança,

é a que arranca.

Mas não penso que é o fim.

Não, jamais.

Porque mesmo na ausência,

no vazio deixado,

há o perfume.

Aquela memória olfativa,

a prova de que existiu,

de que marcou.

E como marcou.

 

Um rastro invisível

que se recusa a morrer no ar,

persistindo, insistindo.

Como se cada sopro me lembrasse:

fui, sou, serei,

mesmo sem estar.

 

É a eternidade do efêmero,

a presença da falta.

A vida,

em seu mais puro e

desconcertante estado de ser.

E mesmo assim

você não se importa.

terça-feira, 15 de junho de 2010

ÂNSIA DO VAZIO

 

A Ânsia do Vazio

 

E a ânsia do vazio, uma sede estranha

por aquilo que não tem forma, não tem som.

Não é medo do nada, é o acolhimento que se busca,

a promessa de um espaço onde a dor não ecoa,

onde a intensidade se dilui em silêncio puro.

 

É o chamado da ausência,

um convite para desaparecer,

para que o fio se desfaça de vez,

e a pressão ceda, e o peso se esvai.

O vazio, então, não é mais ameaça,

mas um refúgio, um ponto de fuga,

onde a existência se apaga

e finalmente se encontra a paz que a vida nega.

 

 

A Promessa do Vazio

 

E a promessa do vazio, uma melodia suave

que sussurra alívio onde antes só havia caos.

Não é uma ameaça, mas um convite,

a certeza de que, ao fim, tudo se dissolve,

e a pressão cessa, e o ruído se cala.

 

É o vislumbre de um descanso absoluto,

onde as perguntas se apagam sem respostas,

e os problemas se desfazem em nada.

O vazio, então, não é mais um abismo a ser temido,

mas um horizonte sereno,

onde a paz finalmente se instala,

uma calmaria sem fim para a alma exausta.

VAZIO POVOADO

 

Vazio Povoado

 

Um catálogo de vozes sem coro,

ecoando em salas de espelhos,

cada face uma emoção avulsa,

flutuando em ar denso.

 

Não há norte, nem a bússola cega

encontra repouso.

É o mar revolto dentro do peito,

ondas de riso, abismos de pranto,

todos quebrando na mesma costa.

 

São cores que se misturam sem ordem,

viram cinza, depois irrompem em festa,

um caos belo e exaustivo.

Sou o palco onde todas as peças

começam e terminam ao mesmo tempo.

 

E no fim, o silêncio que resta

é o som de todas as emoções

se abraçando em um único nó,

apertado, confuso, real.

sábado, 29 de maio de 2010

BOA NOITE

 

Boa Noite

a noite não apaga,
ela acalma.
é quando o escuro deixa de ser medo
e vira abrigo.

silêncios ganham voz,
pensamentos repousam em travesseiros invisíveis,
e o coração, se escuta com atenção,
fala baixo — mas fala verdade.

não te apresses em entender tudo hoje.
o céu também leva a noite inteira
pra mostrar suas estrelas.

boa noite,
mesmo que a mente ainda insista em ficar acesa.
boa noite,
porque descansar também é um jeito de seguir em frente.


BOA TARDE

 

Boa Tarde

a tarde chega sem pedir licença,
meio caminho entre o cansaço e o recomeço.
é quando o tempo convida à pausa,
mas o mundo ainda exige presença.

entre uma respiração e outra,
há espaço para um novo olhar,
para entender que nem tudo precisa ser pressa,
e que a vida também mora na demora.

confia:
até o sol se inclina devagar,
e a luz que sobra no fim da sala
ainda pode aquecer.

boa tarde,
mesmo que o dia esteja incerto.
boa tarde,
porque ainda há tempo de florescer.

BOM DIA

 

Bom Dia

nos dias mais duros,
quando o mundo pesa nos ombros
como se o céu tivesse esquecido de ser azul,
é aí que a alma escuta.

não é o silêncio que ensina —
é a resistência em meio ao barulho,
a fé que nasce entre os cacos,
o passo que insiste, mesmo sem chão.

acredita:
o tempo não esquece de curar,
e o sol, mesmo tímido,
sempre volta pela fresta.

bom dia,
mesmo que o coração ainda não tenha acordado.
bom dia,
porque seguir é um ato de coragem.

sábado, 22 de maio de 2010

Se Tiver, Eu Prefiro

 

Se Tiver, Eu Prefiro

 

Um abraço apertado, sem pressa,
O sol se espreguiçando entre as árvores,
A risada de uma criança brincando.