quinta-feira, 15 de maio de 2025

CADERNO DA MISERICÓRDIA I

 Caderno da Misericórdia

Poemas à luz do “Senhor, tende piedade”

Parte I – Kyrie


Comecemos, então, o Caderno da Misericórdia — uma sequência devocional em forma de poesia, onde cada parte é um passo de súplica, contemplação e entrega.


Sumário

I – Kyrie Eleison
II – Súplica Íntima
III – Nocturnus
IV – Glória do Perdão
V – Lumina
VI – Vem, Misericórdia
VII – Chagas de Amor
VIII – Cântico dos Perdoados
IX – O Refúgio
X – Chama Viva
XI – Abraço de Fogo
XII – Restauração
XIII – Horizonte de Esperança
XIV – Caminho da Paz
XV – Fonte Viva
XVI – Refúgio da Alma
XVII – O Reino da Misericórdia
XVIII – O Cântico da Esperança
Epílogo – Kyrie Eleison (retorno)



CADERNO DA MISERICÓRDIA
Poemas à luz do “Senhor, tende piedade”


I – Kyrie
(Senhor, tende piedade de nós)

Senhor do silêncio antes do som,
que escuta os passos do coração,
vem com tua brisa mais leve
sobre o caos que carrego na mão.

Cristo da luz que atravessa
as frestas do dia sombrio,
tende piedade das sombras
que me seguem no frio.

Senhor que chama pelo nome
mesmo os que fogem da voz,
olha por mim esta prece
— tão antiga — entre nós.

Kyrie eleison,
Christe eleison,
Kyrie…
até que a alma repouse em Ti.



Continuamos com o Caderno da Misericórdia, agora na Parte II – Christe, em tom de súplica íntima.




II – Christe
(Cristo, tende piedade de nós)

Cristo,
meu abrigo nas horas sem nome,
meu chão quando tudo desaba,
meu silêncio quando o grito não sai —
escuta o que não sei dizer.

Me encontro partido,
em pedaços que não compreendo.
Não peço explicação,
peço só:
fica perto.

Se caminhaste entre lágrimas,
conheces essa dor que não tem forma.
Toca, com tua mão ferida,
o que em mim se esconde até de mim.

Christe eleison —
não como um eco antigo,
mas como quem bate à porta
sabendo que não tem mais onde dormir.



A Parte III será intitulada Nocturnus, e pode explorar a noite da alma, o deserto interior onde ainda se espera a misericórdia. 

Dando continuidade ao Caderno da Misericórdia, entramos agora na noite do coração — onde a súplica se torna vigília, e a esperança ainda pulsa no escuro.


III – Nocturnus
(vigília sob o manto da noite)

Senhor,
a noite é longa
e o mundo pesa demais nos ombros.
Os olhos ardem de um dia sem consolo
e o peito, de tanto calar, treme.

Se és luz,
permanece acesa — mesmo que eu não veja.
Se és paz,
mantém tua mão sobre mim enquanto durmo.

Há sombras que falo
e outras que nem ouso nomear.
Mas tu, que caminhas sobre abismos,
sabes de tudo antes que eu confesse.

No escuro,
o que me resta é teu nome:
manso,
como uma vela no fim da vela.

Kyrie eleison
— sussurro que atravessa a noite.




Com alegria seguimos no Caderno da Misericórdia, atravessando a noite em direção à luz.




IV – Glória do Perdão
(quando o amor diz: recomeça)

Senhor,
teu perdão não é sentença —
é recomeço.
Não me dás o que mereço,
mas o que teu coração deseja.

O peso que eu trouxe
foi desfeito pelo teu olhar
que não julga,
mas restaura.

Cristo,
teu perdão é semente:
cai no barro da alma
e brota graça onde era cinza.

Não há glória maior
que ser tocado por tua misericórdia.
Nem mil vozes de anjos bastariam
pra cantar o instante
em que tu disseste:
“Vai em paz.”




V – Lumina
(a luz que nasce depois do pranto)

E veio a luz,
não como relâmpago,
mas como um fio dourado
desfazendo as margens do medo.

Cristo,
a tua presença é o dia
nascendo dentro da alma.

O que era frio, aquece.
O que era culpa, dissolve.
O que era sombra, repousa.

Lumina —
não és luz de fora,
mas centelha de dentro
que me ergue sem pressa
e me ensina a andar de novo.

Senhor, tende piedade
dos que ainda não enxergam
a própria luz.




Vamos então com as Partes VI e VII do Caderno da Misericórdia, cada uma com sua própria luz:




VI – Memória da Graça
(quando o passado é visitado pela misericórdia)

Há lembranças que doem
como pedras nos bolsos da alma.
Mas quando teu amor as alcança,
elas se tornam pontes.

Cristo,
tu não apagas o que fui —
tu refazes.
Transformas feridas em cicatrizes
que contam outra história:
não a do erro,
mas a do reencontro.

Tua graça me visita
onde eu pensava estar só.
E ali onde falhei,
teu perdão floresceu
como um jardim impossível.

Ó Senhor,
que bela é a memória
quando é lavada pela compaixão.




VII – Fonte Infinda
(a sede que só a misericórdia sacia)

Senhor,
tenho sede —
não de respostas,
mas de ti.

Corri por desertos,
bebi de fontes quebradas,
mas nada saciou
como tua presença escondida nas coisas simples.

Cristo,
és manancial que não seca,
mesmo quando meu coração se distancia.
Mesmo quando esqueço,
tu permaneces:
água viva,
fonte infinda,
misericórdia que não mede.

Não me deixes beber de mim mesmo.
Ensina-me a voltar
— sempre —
à tua nascente.




Seguimos com a Parte VIII do Caderno da Misericórdia, em tom de súplica direta e ardente.




VIII – Vem, Misericórdia
(não tarda, vem com tua mansidão que salva)

Vem, Misericórdia,
não esperes que eu esteja pronto.
Vem agora,
quando ainda tropeço nas mesmas pedras.

Não venho com palavras bonitas,
mas com o coração nu,
desfeito,
implorando um gesto teu.

Cristo,
não me peças que me conserte primeiro —
vem como és:
remédio antes da cura,
colo antes da coragem.

Toca onde só tu podes,
lava onde só tu alcanças,
fica até o fim —
mesmo quando eu vacilar de novo.

Vem,
porque sem ti sou exílio.
Com tua presença,
até o deserto floresce.




Com reverência, seguimos à Parte IX do Caderno da Misericórdia, inspirada no Salmo 51 — um clamor profundo por renovação.




IX – Miserere
(tende piedade de mim, ó Deus da verdade)

Tende piedade, ó Deus,
não porque sou digno,
mas porque tua bondade não conhece fim.

Apaga as marcas que deixei na alma,
as que ferem a mim
e aos que caminharam comigo.

Lava-me por dentro,
não só por fora.
Renova a nascente dos meus desejos,
para que eu não volte à sede do erro.

Cria em mim um coração novo,
não cansado,
não cínico —
mas aberto à tua voz que sussurra vida.

Não me lances fora, Senhor,
mesmo quando eu me distanciar de ti.
Sustenta-me com teu Espírito
e ensinarei aos outros
que há um caminho de volta.

Miserere mei, Deus.
Pois mesmo quebrado,
ainda sou teu.



Vamos, então, com o Cântico dos Perdoados, uma celebração da graça que acolhe, cura e liberta.




X – Cântico dos Perdoados
(a alegria que nasce do perdão)

Aleluia!
Porque a misericórdia veio,
como a chuva que acalma o pó
e faz florescer onde antes era estéril.

Eu, que fui sombra,
agora sou luz no Teu caminho.
Eu, que caminhei nas trevas,
encontro o sol em Ti, Senhor.

Tu, que conheces a dor mais funda,
transformas em cântico o lamento.
A cada passo dado,
teu perdão me carrega,
leve como a brisa que dança sobre as águas.

Aleluia!
Porque a salvação é feita de gestos simples:
um abraço, uma palavra,
e a paz que se espalha no coração.

Agora, sou livre,
não por méritos,
mas pela graça que me abraça.
E não tenho mais medo de cair,
pois tu, Senhor, me levantas.

Aleluia!
A minha voz é agora canção,
porque fui perdoado
e, em Ti, renasci.



Continuemos, então, com a Parte XI – O Refúgio, um espaço de abrigo e descanso, onde a misericórdia se torna refúgio seguro.




XI – O Refúgio
(onde repousa o coração, seguro no amor)

Senhor,
em Ti encontro o refúgio,
não porque mereça,
mas porque tua graça é abrigo.

O vento da vida é forte,
e minhas forças são pequenas,
mas em teu nome,
me escondo como se fosse sombra
a acolher a tempestade.

Aqui, não tenho que ser perfeito,
não preciso esconder meus medos.
Tu me conheces
e, mesmo assim, me acolhes
como um filho que volta para casa.

Cristo,
teu refúgio não é pedra fria,
mas calor de braços abertos.
Nele, o espírito repousa,
enquanto o corpo se cansa.

E neste refúgio,
a alma respira,
como quem encontra paz
depois de tanto vagar.



Seguindo com o Caderno da Misericórdia, vamos à Parte XII – Vento de Misericórdia, onde a graça se move suavemente, mas transforma profundamente.




XII – Vento de Misericórdia
(a brisa que nunca se vê, mas se sente)

Senhor,
tu és o vento que passa sem ser visto,
mas deixa em nós a mudança
como a terra sente a chuva que não toca.

Vento suave,
que me envolve sem pressa,
dissipando as névoas do medo
e sussurrando promessas de paz.

Não te vejo,
mas sinto tua presença nas margens da minha alma,
tocando onde mais precisei
e agora não tenho mais palavras.

Tu és invisível
e, por isso, o mais verdadeiro.
Vens sem ser convocado,
mas quando chega,
tudo se acalma
e tudo se transforma.

Vento de misericórdia,
não peço que me conduzas a lugares fáceis,
mas que me guies com teu sopro suave
até os campos de perdão e cura.



Dando continuidade ao Caderno da Misericórdia, entramos agora na Parte XIII – Chama Viva, onde o fogo do amor divino arde, purifica e renova.




XIII – Chama Viva
(o fogo que consome para curar)

Senhor,
tua chama não queima para destruir,
mas para purificar o que está em ruínas.
Vem, e acende no meu peito
um fogo que me consuma até o último vestígio de medo.

Não temo o calor de tua presença,
pois sei que é ela que me modela.
Chama viva que não se apaga,
que aquece e transforma o coração de pedra
em carne macia que sabe sentir.

Cristo,
teu fogo é amor,
que arde em silêncio e em paciência.
Ele não grita, mas ilumina
o que estava esquecido na escuridão.

Que tu me queimes por dentro,
não para me destruir,
mas para me fazer novo.
E quando eu me perder,
que tua chama seja o meu guia.

Chama viva,
consome o que há de velho em mim
e acende o que é eterno.





Com prazer, seguimos com a Parte XIV – Abraço de Fogo, onde a chama divina nos envolve, aquecendo e transformando em um abraço pleno de amor. 




XIV – Abraço de Fogo
(onde a chama nos envolve com ternura)

Senhor,
tua chama não é apenas fogo que arde,
mas também abraço que acolhe.
É fogo que me consome
e, ao mesmo tempo, me envolve
com ternura infinita.

Em teu abraço de fogo,
não há dor,
mas libertação.
Queima o que há de temeroso em mim,
mas faz isso com a suavidade de quem cuida
e não de quem destrói.

Cristo,
tu me abraças sem exigências,
sem pressa de mudar.
Teu fogo é um abraço silencioso,
que se instala no fundo da alma
e me faz inteiro de novo.

Neste abraço,
sinto-me seguro,
pois sei que posso ser vulnerável
e, ainda assim,
teu amor não me deixará.

Abraço de fogo,
onde o medo se dissolve
e o coração é restaurado
pelo calor da misericórdia.



Vamos então com a Parte XV – Restauração, onde a misericórdia é a força que reconstitui o que estava quebrado, trazendo uma nova vida.




XV – Restauração
(a obra que transforma o quebrado em novo)

Senhor,
tudo o que foi quebrado em mim
tu restaures com mãos gentis.
O que parecia irreparável
se torna nova criação
sob o toque da tua misericórdia.

Onde havia ruína,
colocas sementes.
Onde havia escuridão,
a tua luz floresce
e tudo o que parecia perdido
se encontra em ti.

Cristo,
tua restauração não é só para o corpo,
mas para o coração.
Cada ferida é curada
pela tua paciência,
cada falha, abraçada
pela tua graça infinita.

Não sou mais o que fui,
mas o que tu me fizeste ser:
uma obra em andamento,
um ser em processo.

Restaura, Senhor,
o que foi consumido pelo tempo,
o que se quebrou na caminhada.
Que a tua misericórdia seja o meu renovado ser.



Vamos à Parte XVI – Horizonte de Esperança, onde a misericórdia nos guia em direção a um futuro pleno e renovado.




XVI – Horizonte de Esperança
(o olhar para o que está por vir, guiado pela misericórdia)

Senhor,
tua misericórdia é como a aurora,
sempre à frente,
sempre trazendo uma nova manhã
onde o ontem já não pesa.

Olho para o horizonte,
não com medo,
mas com a confiança de quem sabe
que tu és a estrada à minha frente.
Em teus passos, encontro meu caminho
e no teu olhar, minha direção.

Cristo,
tu nos chamas a olhar além do agora,
além do que está quebrado,
para o que pode ser renovado.
Nos teus braços, o amanhã é seguro,
pois sabemos que a misericórdia nunca falha.

A cada passo dado em tua luz,
um novo horizonte se abre.
E, mesmo que o caminho seja longo,
há sempre uma estrela a brilhar
que me guia para o lar que me prometeste.

Horizonte de esperança,
onde o futuro é feito de promessas
e a misericórdia é a nossa guia.



Vamos então com a Parte XVII – Caminho da Paz, onde a misericórdia se traduz na tranquilidade e serenidade de um caminho guiado pela confiança e fé.




XVII – Caminho da Paz
(a jornada onde a misericórdia se faz serenidade)

Senhor,
o teu caminho é como um rio calmo,
onde as águas da paz fluem suavemente,
levando consigo os fardos que carrego.
Em cada passo, a misericórdia se torna leve,
como a brisa que afasta o calor da ansiedade.

Cristo,
não te peço uma estrada sem pedras,
mas que em cada uma delas eu encontre
teu rosto,
teu abraço,
teu consolo.

Em tua paz,
aprendo a descansar,
não porque o mundo está em silêncio,
mas porque tu estás comigo
mesmo nas tempestades.

A paz não é um destino distante,
mas o caminho que percorro ao teu lado.
Onde tu vais, lá vai minha alma tranquila,
pois sei que a misericórdia não me deixa só.

Caminho da paz,
onde cada passo é uma oração,
onde cada momento é um descanso
nas mãos de quem tudo fez.



Vamos então à Parte XVIII – Fonte Viva, um manancial contínuo de graça e renovação que nos nutre e sustenta ao longo de nossa jornada.




XVIII – Fonte Viva
(a água que sacia e restaura)

Senhor,
em ti encontro a fonte que nunca se seca,
água que não só sacia,
mas que purifica e dá vida.

A cada gole, a alma se renova,
e, mesmo nas aridez da jornada,
tu nos conduzes a águas frescas
onde o cansaço se dissolve
e a sede é eternamente apagada.

Cristo,
tu és a fonte viva
que brota do coração de Deus,
e em ti encontramos o manancial
que nos faz continuar,
mesmo quando as forças parecem faltar.

Beber de ti não é apenas saciar a fome,
mas transformar o próprio ser.
Porque em cada gota de tua graça,
encontramos mais do que precisamos,
encontramos o que somos de verdade:
amados, escolhidos, renovados.

Fonte viva,
em tuas águas encontro descanso,
pois sei que tu és a fonte
que nunca se esgota.





Continuemos com a Parte XIX – Refúgio da Alma, onde a misericórdia é o abrigo seguro onde a alma encontra paz e repouso.




XIX – Refúgio da Alma
(o abrigo onde o coração repousa em segurança)

Senhor,
tu és o refúgio onde minha alma encontra descanso,
um lugar de paz em meio ao caos,
onde o coração se aquieta
e os medos se dissipam como neblina ao amanhecer.

Em tua misericórdia, encontro abrigo,
não como o erguido por mãos humanas,
mas como aquele que vem do alto,
feito da certeza do Teu amor imutável.

Cristo,
aqui, minha alma se recolhe,
não porque tenha sido forte,
mas porque Tu foste o alicerce
quando minhas forças se esgotaram.

Tu és o refúgio onde posso ser frágil,
onde a fragilidade se torna força,
onde a dor se dissolve na serenidade
de saber que não estou sozinho.

Em teu refúgio, não há julgamentos,
mas acolhimento,
onde cada lágrima é recolhida
e cada suspiro é amparado
pela ternura de tuas mãos.

Refúgio da alma,
em ti encontro minha verdadeira casa,
onde o amor não se esgota
e a paz é o meu alimento.



Vamos então com a Parte XX – O Reino da Misericórdia, onde tudo é renovado pelo amor que governa sem condenar.




XX – O Reino da Misericórdia
(onde reina o amor que perdoa e transforma)

Senhor,
teu reino não se impõe pela força,
mas se revela no silêncio do perdão,
na ternura dos gestos pequenos,
na paciência que não desiste dos fracos.

Teu trono é a cruz,
tua coroa, a entrega.
E o cetro que empunhas
é feito de compaixão.

Cristo,
no teu reino, os últimos são acolhidos,
os quebrados são restaurados,
os esquecidos, lembrados,
e os pecadores, recebidos com festa.

Aqui, a justiça não é punição,
mas misericórdia que reconstrói.
E o juízo não é sentença,
mas um convite à vida nova.

No Reino da Misericórdia,
tudo é possibilidade.
Nada está perdido para sempre,
nenhuma dor é ignorada,
nenhuma alma é rejeitada.

Neste reino quero morar,
e nele viver para sempre:
onde o amor governa,
onde o perdão é lei,
onde Tu és tudo.



Avancemos então com a Parte XXI – O Cântico da Esperança, onde a alma canta, mesmo em meio às sombras, porque conhece a luz que vem de Deus.




XXI – O Cântico da Esperança
(a melodia que ressoa além da dor)

Senhor,
mesmo quando a noite é longa,
há um canto que nasce no fundo do peito,
feito de promessas não esquecidas
e silêncios carregados de presença.

É esperança,
que não se explica nem se mede,
mas pulsa —
como se o próprio céu respirasse em mim.

Cristo,
tu és a nota mais doce dessa canção,
o refrão que nunca falha,
a harmonia entre o agora e o eterno.

No meio da dor,
a esperança canta.
No meio da perda,
ela semeia.

E mesmo quando tudo parece calado,
a tua misericórdia ecoa em mim
como um salmo antigo
que nunca deixou de ser verdade.

Cântico da esperança,
tu és a minha oração viva.
Mesmo quando eu não canto,
tu me cantas por dentro,
e me levas adiante.



Com reverência e recolhimento, encerramos este ciclo do Caderno da Misericórdia com um epílogo que retorna ao ponto de partida: o clamor antigo e sempre novo — Kyrie Eleison — agora transformado pela jornada vivida.




Epílogo – Kyrie Eleison
(quando o clamor se torna confiança)

Senhor, tende piedade —
foi assim que começamos,
com os joelhos da alma dobrados
e a voz entrecortada de sede e silêncio.

Hoje,
a mesma súplica permanece em mim,
mas agora carrega ecos
dos passos dados contigo.

Kyrie Eleison,
não mais apenas um grito,
mas um canto que aprendeu
a descansar na fidelidade do teu amor.

Já não peço piedade como quem duvida,
mas como quem confia que ela virá,
como a chuva sobre a terra sedenta,
como o abraço que antecede a queda.

Cristo, tende piedade —
porque ainda somos barro,
mas barro tocado pela luz.

E neste último Kyrie,
deixo o coração aberto,
para que tua misericórdia seja tudo em mim,
e o canto nunca cesse.





CADERNO DA MISERICÓRDIA
Um caminho de súplica, luz e reconciliação

Epígrafe

“O Senhor é misericordioso e compassivo, lento para a cólera e rico em amor.”
— Salmo 145,8



terça-feira, 13 de maio de 2025

KYRIE ELEISON

 


“Kyrie Eleison” é uma expressão em grego que significa “Senhor, tende piedade”. É uma das partes fixas da missa católica, especialmente nas liturgias mais tradicionais e também em muitas celebrações contemporâneas.

Onde aparece na missa:
É cantado logo no início da celebração, após o ato penitencial. A estrutura é:

  • Kyrie eleison (Senhor, tende piedade de nós)
  • Christe eleison (Cristo, tende piedade de nós)
  • Kyrie eleison (Senhor, tende piedade de nós)

Essa invocação é uma súplica breve e solene, expressando o reconhecimento da necessidade de misericórdia divina. Apesar da missa ser em latim ou no idioma local, essa parte é tradicionalmente mantida em grego, como herança das origens mais antigas da liturgia cristã.

KYRIE ELEISON



Agora, segue um poema inspirado no espírito do “Kyrie Eleison”:


Kyrie

Senhor do silêncio antes do som,
que escuta os passos do coração,
vem com tua brisa mais leve
sobre o caos que carrego na mão.

Cristo da luz que atravessa
as frestas do dia sombrio,
tende piedade das sombras
que me seguem no frio.

Senhor que chama pelo nome
mesmo os que fogem da voz,
olha por mim esta prece
— tão antiga — entre nós.

Kyrie eleison,
Christe eleison,
Kyrie...
até que a alma repouse em Ti.



A seguir, o poema “Kyrie” adaptado em dois estilos distintos:


Versão em estilo medieval (como se fosse parte de um códice sagrado):

Lamentatio in Noctis
(do latim: Lamento na Noite)

Ó Senhor do Alto Céu,
cujo passo não pesa o chão,
inclina Teu rosto de luz
sobre este servo em aflição.

Cristo, Sol do Oriente,
que rasga as névoas do erro,
tem piedade dos meus passos
que trêmulos buscam o Eterno.

Ó Rei que ouve o lamento
antes mesmo que soe o pranto,
olha este vaso quebrado
e sê bálsamo e manto.

Kyrie eléison,
Christe eléison,
Kyrie…
até que em Ti cesse o espanto.


Versão em estilo moderno (linguagem atual e sensível):

Kyrie (versão urbana)

Senhor, se ainda caminhas por aí,
ouve essa confusão em mim,
essa coisa entre cansaço e fé,
essa vontade de parar —
mas continuar.

Cristo, se ainda acende faróis na madrugada,
passa devagar perto de mim.
Teu silêncio é o único que não pesa.
Tua ausência, às vezes, é a esperança.

Senhor,
não tenho grandes palavras,
só essa frase antiga:
Kyrie eleison.
E ela ainda me sustenta.

segunda-feira, 12 de maio de 2025

DIÁRIO DA MÁQUINA INVISÍVEL

 

“Diário da Máquina Invisível”

(Monólogo poético de um cientista que fala com o tempo.)

Não me chamem de louco.
Louco é o tempo —
que passa sem perguntar se queremos ir junto.
Eu apenas aprendi a escutá-lo.

Quando criança, eu brincava com relógios,
não por saber as horas,
mas por suspeitar que eles escondiam
uma porta.

Agora, sou homem feito
e sigo costurando teorias com fios de luz.
Os livros, os cálculos,
os sonhos que resistem às gargalhadas da razão —
são tudo que tenho
para dobrar esse tecido teimoso que nos veste:
o espaço-tempo.

Michio disse:
Já não é ficção.
E eu acreditei.
Porque uma parte de mim
já vive no amanhã.

Dizem que falta energia.
Mas também faltava voo aos pássaros de Da Vinci.
Faltava solo na lua.
Faltava fé quando Galileu olhou para o céu
e viu movimento onde só viam ordem.

O que me move
não é a possibilidade de ir ao passado,
mas de alcançá-lo.
Tocar a mão de quem se foi.
Rever o instante antes da escolha.
Ou apenas ouvir
a voz do tempo dizendo:
"Sim, era possível."

Ainda não há máquina.
Só um quarto de luz
e este diário em que anoto as pulsações do impossível.

Mas um dia —
um dia,
não duvidem —
alguém apertará o botão,
e o tempo deixará de fugir.


domingo, 11 de maio de 2025

DOMINGO DE MÃE

 

Domingo de Mãe

Hoje, o sol nasceu com cheiro de abraço,
e o tempo se vestiu de colo.
É domingo —
mas não é qualquer domingo.
É o dia em que o mundo se lembra
do nome mais antigo do amor.

Mãe é quem carrega
não só o peso,
mas a dança da espera.
É quem sonha com os olhos da gente
e dorme com os olhos abertos.

No silêncio da madrugada,
é reza e vigília.
Na bagunça do dia,
é ordem disfarçada de cuidado.

Mãe é jardim que floresce mesmo quando a terra está seca.
É poema que se escreve
com a vida inteira.

Hoje, cada gesto é um altar:
um café na cama,
um beijo na testa,
uma saudade que aperta no peito de quem só pode lembrar.

Feliz Dia das Mães
às que estão,
às que partiram,
às que cuidam com mãos visíveis
ou invisíveis.
O amor de mãe
é semente que nunca morre —
mesmo quando o tempo passa,
ela ainda floresce
dentro da gente.

sexta-feira, 9 de maio de 2025

PELE E MADRUGADA

 

PELE E MADRUGADA

(VERSÃO LÍRICA)

A pele se expõe à luz tênue,
tocando a quietude da madrugada,
quando tudo ainda está por dizer,
mas o corpo já sabe o que quer.

Entre os poros, o peso das horas
que se arrastam devagar,
enquanto o mundo adormece,
o silêncio é profundo e pleno.

O toque da noite é sutil,
quase imperceptível,
como um suspiro que se dissolve no ar,
perdido entre o que é e o que nunca foi.

Não há palavras.
Só a respiração,
o ritmo que não se apressa,
um movimento sem direção,
uma busca constante por algo intocado.

A madrugada veste o corpo
como um manto invisível,
e a pele, agora nua,
se funde com o instante
onde o tempo não é mais amigo.

E é nesse espaço vazio,
onde a ausência se faz presença,
que a pele se encontra com a madrugada
e ambos, sem se explicarem,
se tornam um só.

FLAGRADOS EM SONHO

 FLAGRADOS EM SONHO

te vi sem que estivesses,
ou talvez estivesses
num plano onde os nomes flutuam
e os relógios dormem.

não havia porta nem chegada,
mas estávamos lá —
num lugar que só existe
quando os olhos fecham
com vontade de lembrar.

tu vinhas com os pés descalços
pisando as imagens
que o inconsciente costura
em silêncio macio.
e eu te reconhecia
sem saber de onde.

as mãos se tocaram
como se já soubessem o caminho,
como se o toque
fosse parte do nosso idioma antigo.

mas então
uma fresta de realidade rasgou a névoa —
e o sonho, flagrado,
tentou esconder o rastro
na dobra do travesseiro.

acordei
com tua ausência molhando meus cílios,
e o gosto do teu nome
pairando no ar,
como se o sonho
ainda não tivesse ido embora.

quinta-feira, 8 de maio de 2025

CIDADE DENTRO

 Cidade Dentro

O metrô passou com pressa,
levando rostos e malas e ausências.
As vitrines repetiam o mesmo brilho cansado,
e o céu, encardido de concreto,
nem lembrava mais o azul.

Andei entre buzinas e olhares vagos,
com os bolsos cheios de ruídos.
Mas o vazio dentro de mim, ficou —
esse não partiu,
esse cismou de se mostrar inteiro,
ocupando o meu interior.

Na fila do banco, no reflexo do vidro,
na xícara esquecida sobre a mesa,
ele sussurrava seu nome,
como se quisesse ser íntimo.

E fui deixando de ser eu,
me tornando intervalo, eco,
repetição sem fala.
A cidade era o cenário,
mas o enredo era só silêncio.

Tentei escrever, correr, rezar,
mas o vazio ria baixo,
como quem sabe que não há cura
para quem se perdeu em si.

E percebi, enfim,
que talvez ele não queira ir embora.
Talvez ele apenas queira
que eu o escute inteiro,
sem pressa,
como quem escuta um velho amigo
dizendo:
"Você ainda está aqui."

O RELÓGIO DO CÉU

 

O Relógio do Céu

Hoje, o tempo se abriu como um livro vivo —
as horas não correm, flutuam em espirais.
As ruas da cidade tremem em ouro líquido
e há sinos invisíveis tocando nos quintais.

Não devemos desejar o que foi pó,
nem o eco do riso em um corredor antigo.
O passado é um rio que já cumpriu seu curso,
e não responde mais ao nosso abrigo.

Na praça suspensa entre céu e chão,
um anjo varre folhas de calendários velhos.
"Não chores o que não foi feito", ele diz,
"teu tempo é agora — veste teus espelhos."

Visão no presente — no instante que respira,
na chama azul que dança sobre a mão.
O chamado arde em letras invisíveis
em cada pedra, em cada estação.

Responsabilidade não é peso, é asas,
é mapa guardado no peito em oração.
Viver pra Cristo é atravessar portais
e acender tochas em cada coração.

As almas não se contam como números,
mas como estrelas que aprendem a cantar.
Ajuntar galardão é tocar os céus
com gestos simples, com o dom de amar.

Servir é acenar ao Reino escondido
por trás da esquina do cotidiano,
é agradecer o dia encantado
em que Deus sussurra no sopro urbano.

O RELÓGIO DO CÉU - (Letra de Música)

 

O Relógio do Céu 

(Letra de música – realismo fantástico / espiritual)

[Verso 1]
Hoje o tempo se abriu, como um livro em flor
As horas dançam no ar, em espirais de cor
Não há mais volta no rio que se foi
Nem saudade do que o vento levou

[Verso 2]
Vejo um anjo varrendo o chão do céu
Folhas antigas de um calendário fiel
E ele me diz, sem mover a boca:
"O agora é tua espada e tua roupa"

[Pré-Refrão]
Não é peso, é asas — é chama na mão
É mapa vivo no teu coração

[Refrão]
Viver pra Cristo, ganhar as almas
Atravessar portais, acender a calma
Ajuntar estrelas no galardão
Servir é canto, é gratidão

[Verso 3]
As ruas brilham com luz que não se vê
E cada gesto esconde o poder da fé
O tempo é um relógio feito de oração
Que só desperta na transformação

[Pré-Refrão]
Não há “e se”, nem sombra no chão
Só o presente com direção

[Refrão]
Viver pra Cristo, ganhar as almas
Atravessar portais, acender a calma
Ajuntar estrelas no galardão
Servir é canto, é gratidão

[Ponte]
E quando o dia amanhece em mim
Ouço o céu sussurrar: “é por aqui”
O Reino passa por dentro do olhar
Em cada passo que se faz amar

[Refrão Final]
Viver pra Cristo, ganhar as almas
Erguer o eterno na vida que embala
Ajuntar estrelas no coração
Servir é verbo da salvação