Cidade Dentro
O metrô passou com pressa,
levando rostos e malas e ausências.
As vitrines repetiam o mesmo brilho cansado,
e o céu, encardido de concreto,
nem lembrava mais o azul.
Andei entre buzinas e olhares vagos,
com os bolsos cheios de ruídos.
Mas o vazio dentro de mim, ficou —
esse não partiu,
esse cismou de se mostrar inteiro,
ocupando o meu interior.
Na fila do banco, no reflexo do vidro,
na xícara esquecida sobre a mesa,
ele sussurrava seu nome,
como se quisesse ser íntimo.
E fui deixando de ser eu,
me tornando intervalo, eco,
repetição sem fala.
A cidade era o cenário,
mas o enredo era só silêncio.
Tentei escrever, correr, rezar,
mas o vazio ria baixo,
como quem sabe que não há cura
para quem se perdeu em si.
E percebi, enfim,
que talvez ele não queira ir embora.
Talvez ele apenas queira
que eu o escute inteiro,
sem pressa,
como quem escuta um velho amigo
dizendo:
"Você ainda está aqui."
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