“Diário da Máquina Invisível”
(Monólogo poético de um cientista que fala com o tempo.)Não me
chamem de louco.
Louco é o tempo —
que passa sem perguntar se queremos ir junto.
Eu apenas aprendi a escutá-lo.
Quando
criança, eu brincava com relógios,
não por saber as horas,
mas por suspeitar que eles escondiam
uma porta.
Agora,
sou homem feito
e sigo costurando teorias com fios de luz.
Os livros, os cálculos,
os sonhos que resistem às gargalhadas da razão —
são tudo que tenho
para dobrar esse tecido teimoso que nos veste:
o espaço-tempo.
Michio disse:
Já não é ficção.
E eu acreditei.
Porque uma parte de mim
já vive no amanhã.
Dizem que
falta energia.
Mas também faltava voo aos pássaros de Da Vinci.
Faltava solo na lua.
Faltava fé quando Galileu olhou para o céu
e viu movimento onde só viam ordem.
O que me
move
não é a possibilidade de ir ao passado,
mas de alcançá-lo.
Tocar a mão de quem se foi.
Rever o instante antes da escolha.
Ou apenas ouvir
a voz do tempo dizendo:
"Sim, era possível."
Ainda não
há máquina.
Só um quarto de luz
e este diário em que anoto as pulsações do impossível.
Mas um
dia —
um dia,
não duvidem —
alguém apertará o botão,
e o tempo deixará de fugir.
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