
Imagens de Barra do Piraí, Estado do Rio de Janeiro... Fotos de Barra do Piraí, RJ - e DOCES POESIAS importadas de quedocespoesias.blogspot.com - Vicente Siqueira
domingo, 5 de janeiro de 2014
segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
ESSÊNCIA DO QUE RESISTE
Essência do Que Resiste
Há em mim a essência do
que resiste.
Não a força bruta que se
impõe,
nem a rocha que não se
move.
Mas a fibra tênue do capim
que dobra ao vento e volta
ao lugar.
É o musgo que se agarra,
a pequena flor que rompe o
asfalto,
a chama que treme mas não
se apaga
na madrugada mais fria.
É a teimosia silenciosa
do que se recusa a sumir,
a pequena fé que sussurra
quando tudo grita
desamparo.
Essa essência não faz
alarde.
Ela simplesmente está,
pulsa baixinho no avesso
das coisas.
A memória de que, mesmo em
ruínas,
há sempre um germe de vida
que se agarra,
que espera,
que permanece.
quinta-feira, 5 de setembro de 2013
A CORRENTE INVISÍVEL
A Corrente Invisível
O tempo é um rio,
dizemos.
Mas não um rio que
observamos
da margem,
com a certeza de que ele
sempre esteve ali.
É um rio que nos toma.
Uma corrente invisível
que não pergunta se
queremos ir,
se a paisagem à frente nos
agrada.
Cada segundo, uma nova
gota
que se soma, que nos
arrasta.
E as margens, que antes
eram familiares,
se desfazem atrás de nós,
em bruma.
Não há volta. Não há
âncora.
Apenas o fluxo constante,
levando-nos para onde a
água nunca foi tocada,
para a cor e a profundidade
que ainda não conhecemos.
E é nesse arrasto, nesse
desconhecido imposto,
que a vida se faz.
Porque o rio sabe que a
estagnação é o fim,
e a única margem segura
é a que se move conosco.
sexta-feira, 5 de julho de 2013
CORES INVISÍVEIS DA PAIXÃO
Cores Invisíveis da Paixão
Eu
observo a tela em branco,
o
pincel suspenso entre meus dedos,
e
me pergunto como pintar o que não tem cor.
Não
a paixão que grita, que incendeia,
mas
aquela que reside nas entrelinhas,
nos
silêncios que dizem tudo.
É
uma paleta de tons invisíveis,
percebida
apenas pela alma.
Eu
sinto o frio na barriga antes de um encontro,
aquela
eletricidade sutil que anuncia.
Ouço
a voz que, por alguma razão,
me
acalma e ao mesmo tempo me desordena.
É
o risco de um toque,
a
promessa contida num olhar demorado.
Não
há vermelho vibrante aqui,
mas
um calor interno, uma combustão lenta.
É
a dedicação silenciosa,
o
cuidado que se manifesta nos pequenos gestos.
A
xícara de café deixada na mesa,
o
cobertor estendido nos pés,
o
ouvir atento a uma história mil vezes contada.
Não
é o drama da tela grande,
mas
a intimidade do cotidiano,
pintada
em matizes que só o coração compreende.
Eu
me pego sorrindo sozinho ao pensar em algo,
um
fragmento de memória,
um
plano futuro.
Há
uma doçura agridoce,
um
medo leve de que tudo possa se esvair,
mas
também uma coragem estranha que me impulsiona.
É
a vulnerabilidade de se entregar,
a
força de amar sem garantias.
E
então, eu pinto.
Não
com tintas, mas com a respiração,
com
a batida do meu próprio pulso.
Eu
desenho os contornos da ausência quando ela aperta,
e
a luz que irradia quando a presença preenche.
Minha
tela invisível está sempre sendo preenchida
com
as cores inaudíveis da paixão,
aquelas
que não se veem,
mas
que se sentem profundamente,
e
que dão sentido a cada nuance do meu ser.
quarta-feira, 19 de junho de 2013
AMORES QUE NÃO SABEM QUE FORAM
Amores que Não Sabem se Foram
Não houve adeus marcado,
nem porta batida com estrondo.
Apenas um silêncio alongado
que se espalhou entre nós,
como névoa ao amanhecer.
Eles pairam, esses amores,
como canções esquecidas no rádio,
mas que de repente tocam,
e a melodia enche o ar
de um tempo que ainda vive.
São risos que ressoam
em corredores vazios,
toques que a pele ainda lembra,
perfumes que o vento,
cruelmente, às vezes traz.
Não se sabe se morreram,
se adormeceram profundamente,
ou se apenas mudaram de endereço,
morando agora
na penumbra dos pensamentos,
na cicatriz que não dói,
mas que nunca sumirá.
E assim, carregamos essas sombras leves,
essas presenças ausentes,
amores que se recusam a ser passado,
eternamente suspensos
entre o que foi e o que não é mais,
sem nunca saberem
se, de fato, partiram.
sábado, 15 de junho de 2013
O VAZIO QUE SE AUTO-PREENCHE
O Vazio Que Se
Auto-Preenche
E o vazio que se
auto-preenche, um paradoxo
que desfaz a lógica do que
é ausência.
Não é um nada que espera
ser completo,
mas uma plenitude que
surge de si,
uma existência que se
basta sem ter.
É como a vastidão do céu
noturno,
que parece vazio, mas é
infinito em estrelas invisíveis,
uma profundidade que se
revela em sua própria essência.
Não há necessidade de
adição, de preenchimento externo,
pois a essência já está
ali, em cada não-coisa.
Nesse espaço, a paz é a
própria matéria,
o silêncio, a voz mais
alta que se pode ouvir.
É a libertação do conceito
de falta,
a descoberta de que o
vazio não é carência,
mas a forma mais pura de
ser, a totalidade em sua vastidão.
A AUSÊNCIA E A PRISÃO
A Ausência e a Prisão
E a luz, um mero boato,
uma lenda distante.
Aqui, só a escuridão se
estende,
pesada e sem promessas.
Não é sombra, é ausência,
um vazio que engole cores
e esperanças.
E nesse escuro, a prisão.
Não há grades, não há
muros visíveis,
mas as paredes apertam,
o ar rarefeito sufoca.
É uma celas invisível,
tecida de incertezas e de
"nãos".
Cada passo é um tropeço no
breu,
cada respiração, um grito
abafado.
E a saída, um eco que não
chega,
uma porta trancada por
dentro,
sem chave, sem maçaneta,
apenas o silêncio
opressor.
quinta-feira, 6 de junho de 2013
LABIRINTOS
Labirintos
Sim. Meu universo interior não é um cômodo vazio onde o eco de um só
passo ressoa. É antes um casarão antigo, de portas entreabertas para quartos
que não se veem, labirintos de uma consciência que se dobra sobre si mesma. E
ali, sentada no limiar de uma das frestas, está a que observa.
Ela não julga, não sentencia. Apenas fita, com uma lentidão que a
própria eternidade talvez desconheça. Seu olhar, pesado de não-compreensão,
desliza sobre os outros que habitam em mim. Há a que chora por uma dor que
nunca foi nomeada, a que urra um silêncio insuportável, a que tece fios de ar
para prender o que escorre, a que ri sem razão, com uma felicidade quase
indecente para a seriedade do ser.
E a que observa se assombra. Como podem tantas vozes coexistir neste
corpo, nesta mente que se diz "eu"? Que arquitetura insólita é essa
que permite o contraditório, o avesso e o verso, sem que tudo exploda num caos
de significados? A cada movimento de um desses habitantes secretos, um tremor
percorre a que observa, um arrepio de reconhecimento e, ao mesmo tempo, de
completa estranheza.
Ela não entende a lógica de suas danças, a melodia de seus
murmúrios. Vê-os surgir do nada, tomarem o palco da alma por um instante e
depois se recolherem às sombras, talvez para sempre, talvez para um retorno
súbito. E nesse movimento de vaivém, a que observa sente o pavor gélido da
descoberta: que o "eu" é uma multidão, um ajuntamento de estrangeiros
com os quais nunca se fez as pazes. E que, talvez, a única verdade seja esse
perpétuo e assombroso estrangeirismo de si mesma.
quarta-feira, 22 de maio de 2013
PÉTALAS AO VENTO
Pétalas ao Vento
Há coisas
em mim
que não resistem à pressa
delicadezas que se soltam
como pétalas
ao menor sopro
nem tudo
foi feito
pra durar inteiro
algumas belezas vivem
no instante em que passam
e isso basta
carrego
no peito
flores que já foram
mas o vento
ainda espalha perfume
de lembrança
não tento
mais segurar
o que voa
aprendi que há leveza
em deixar partir
e que
pétalas ao vento
ainda fazem primavera
em algum lugar
MAR QUE MORA NO PEITO
Mar que Mora no Peito
carrego
um mar
sem costa nem mapa
que bate em ondas calmas
ou se agita sem razão
não se vê
na superfície
mas se ouve —
num silêncio molhado
que molha os olhos
esse mar
em mim
não tem fim nem fundo
tem memórias afundadas
tem correntezas que voltam
mesmo quando já foram
às vezes
sou barquinho
às vezes naufrágio
às vezes farol
mas
sempre,
o mar mora aqui
e mesmo
quando tudo seca,
mesmo quando a alma racha,
ele pulsa —
salgado e vivo
feito verdade
é no
peito que ele habita
como se minha carne fosse areia
e minha respiração, maré