sexta-feira, 30 de maio de 2025

FINALMENTE, O VAZIO

 

Finalmente o Vazio

 

Enredado,

o nó emaranha o peito,

um silêncio que grita sem voz.

Não sei o que está acontecendo,

apenas sinto o chão sumir.

 

Sou um experimento, talvez.

Um fio tênue, quase invisível,

suspenso sobre o abismo,

onde o ar se torna denso

e irrespirável,

sufocante.

 

A incerteza é a única paisagem,

e a saída, um eco distante.

Não há luz no fim do túnel,

porque não há túnel,

não há espaço,

não há esperança,

apenas a densidade do escuro

que me abraça

e me consome.

 

O Fio Tênue

 

E no fio tênue, a dança.

Não é leve, não é livre,

é a dança da hesitação.

Cada passo, um cálculo,

um sopro de ar, uma ameaça.

 

Respirar dói,

como se o ar fosse agulhas finas

costurando a incerteza na pele.

E o vazio, ali embaixo,

não é um convite,

é uma verdade que espera.

 

O equilíbrio é precário,

uma miragem.

E a cada balanço, a sensação

de que o fio se desfaz,

pedaço por pedaço,

dissolvendo-se no nada.

 

 

 O Peso da Incerteza

 

E a incerteza, essa névoa densa

que cega os olhos e amarra os pés.

Não é leve, não é passageira,

é um fardo invisível,

uma âncora que arrasta.

 

Pesa no ar que respiro,

cada inspiração, um esforço.

Pesa nos ombros, curvos,

como se levassem o mundo

e todas as suas perguntas sem resposta.

 

É o silêncio das possibilidades,

o sussurro do "e se",

que se torna um grito no vazio.

É o tempo que se arrasta,

uma ampulheta de areia movediça,

onde o futuro não se desenha,

apenas se dissolve.

 

 

 

 

  A Ausência e a Prisão

 

E a luz, um mero boato,

uma lenda distante.

Aqui, só a escuridão se estende,

pesada e sem promessas.

Não é sombra, é ausência,

um vazio que engole cores e esperanças.

 

E nesse escuro, a prisão.

Não há grades, não há muros visíveis,

mas as paredes apertam,

o ar rarefeito sufoca.

É uma celas invisível,

tecida de incertezas e de "nãos".

 

Cada passo é um tropeço no breu,

cada respiração, um grito abafado.

E a saída, um eco que não chega,

uma porta trancada por dentro,

sem chave, sem maçaneta,

apenas o silêncio opressor.

 

 

 

 

 A Porta Trancada Por Dentro

 

E a porta trancada por dentro,

não é parede, é barreira.

Não há chave, não há fresta,

apenas a mão que a segura,

a minha própria,

que não cede, não liberta.

 

É um ato de auto-prisão,

uma escolha sem nome,

que prende o passo, cala a voz.

O lado de fora, um sussurro distante,

o que poderia ser, um sonho.

 

E o silêncio aqui dentro,

não é paz, é eco.

O eco das chances perdidas,

dos caminhos não tomados.

A porta, um espelho turvo,

refletindo a mim mesmo,

o carcereiro, o prisioneiro.

 

 

 

A Auto-Prisão

 

E a auto-prisão, essa estranha liberdade

de me acorrentar sem grilhões visíveis.

Não há força externa, não há opressor,

apenas a mão invisível que me prende.

É um labirinto interno,

cujas paredes se erguem da minha própria dúvida.

 

Cada recusa, um tijolo;

cada medo, uma argamassa que endurece.

A saída, um ponto no horizonte

que se afasta à medida que me aproximo.

Sou o construtor da minha própria jaula,

o carcereiro que veste a pele do prisioneiro.

 

 

 

O Silêncio Como Eco

 

E o silêncio aqui dentro,

não é paz, é um eco.

O som das palavras não ditas,

dos "talvez" que nunca se concretizaram.

É a ressonância do arrependimento,

um sussurro constante do que poderia ter sido.

 

Cada oportunidade perdida,

um golpe que reverbera nas paredes da alma.

Não há música, não há voz,

apenas o vazio que responde a si mesmo,

um eco de "e se" que se repete infinitamente,

preenchendo o espaço onde a esperança morava.

 

  

A Intensidade dos Sentimentos

 

E essa intensidade, um mar sem fundo,

que não afoga, mas arrasta e comprime.

Não é uma brisa, é um furacão interno,

onde as emoções não se suavizam,

apenas ganham peso, densidade.

 

A tristeza não é tristeza, é um abismo.

A incerteza não é dúvida, é um grito preso.

Cada fibra do ser vibra com a sobrecarga,

como um fio que estica até o limite,

prestes a romper, mas que não se quebra.

 

É a vida sentida em carne viva,

onde cada toque dói, cada pensamento queima.

Não há anestesia para a alma,

apenas a plenitude esmagadora

desses sentimentos que se agigantam,

preenchendo todo o espaço, sem ar para respirar.

 

 

Vida Sentida em Carne Viva

 

E a vida sentida em carne viva,

cada toque, uma pontada.

Não há escudo, não há pele grossa,

apenas a exposição crua da alma.

É como se os nervos estivessem à flor da pele,

captando cada vibração, cada sussurro do mundo.

 

O amor, quando surge, é um incêndio;

a dor, um abismo sem fim.

Não há meios-termos, não há tons pastéis,

apenas a explosão das cores mais intensas,

pintando a existência com traços fortes e violentos.

A sensação é tão real, tão presente,

que a respiração se torna um ato consciente,

uma luta para suportar o que se sente.

 

O Limite de um Fio Esticado

 

E o limite de um fio esticado,

prestes a romper, mas teimosamente intacto.

Não é fragilidade, é uma resistência exaustiva.

Cada puxão, cada tensão, aproxima do ponto final,

mas a corda ainda vibra, ainda suporta.

 

É o limite da alma,

onde a elasticidade já não existe,

e a ruptura parece a única lógica.

Mas o fio, teimoso, mantém-se,

uma metáfora da persistência imposta,

da força que se nega a ceder,

mesmo quando tudo clama por um fim.

 

 

Resistência no Limite

 

E a resistência no limite,

uma batalha silenciosa e inglória.

Não é força que impulsiona,

é a última reserva, o fôlego arranhado

que se nega a ceder, a desabar.

 

Os músculos tremem, a mente vacila,

mas algo insiste, algo persiste.

É a teimosia da sobrevivência,

a recusa em aceitar a derrota,

mesmo quando a vitória é apenas a não-queda.

 

Nesse ponto extremo, a dor se confunde com a inércia,

e o desejo de parar é tão forte quanto a ânsia de continuar.

É a dignidade do fio esticado,

que se recusa a se romper,

ainda que cada fibra clame por alívio.

 

 

Vontade de Não Continuar

 

E a vontade de não continuar,

um cansaço que transcende o corpo.

Não é preguiça, não é desistência covarde,

é a exaustão da alma, o esgotamento da fé

em cada novo passo, em cada amanhecer.

 

Os dias se arrastam, pesados,

e a perspectiva de mais um "virá"

é um fardo insuportável.

É o desejo de que o tempo pare,

que o fio se rompa de vez,

que o silêncio se instale sem eco.

 

É a promessa do vazio, que de repente

parece menos ameaçadora que a plenitude da dor.

A ânsia de sumir, de dissolver-se

em um nada que finalmente traga a paz,

o fim da luta, o descanso sem sonhos.

 

 

 A Ânsia do Vazio

 

E a ânsia do vazio, uma sede estranha

por aquilo que não tem forma, não tem som.

Não é medo do nada, é o acolhimento que se busca,

a promessa de um espaço onde a dor não ecoa,

onde a intensidade se dilui em silêncio puro.

 

É o chamado da ausência,

um convite para desaparecer,

para que o fio se desfaça de vez,

e a pressão ceda, e o peso se esvai.

O vazio, então, não é mais ameaça,

mas um refúgio, um ponto de fuga,

onde a existência se apaga

e finalmente se encontra a paz que a vida nega.

 

 A Promessa do Vazio

 

E a promessa do vazio, uma melodia suave

que sussurra alívio onde antes só havia caos.

Não é uma ameaça, mas um convite,

a certeza de que, ao fim, tudo se dissolve,

e a pressão cessa, e o ruído se cala.

 

É o vislumbre de um descanso absoluto,

onde as perguntas se apagam sem respostas,

e os problemas se desfazem em nada.

O vazio, então, não é mais um abismo a ser temido,

mas um horizonte sereno,

onde a paz finalmente se instala,

uma calmaria sem fim para a alma exausta.

 

 

 A Paz Além do Descanso

 

E a paz além do descanso, um estado que transcende

o simples alívio de um peso que se vai.

Não é a quietude que sucede a tempestade,

mas uma ausência de necessidade,

onde o anseio e a busca se dissolvem.

 

É a serenidade que não depende de sono,

nem de pausas, nem do fim de uma jornada.

É o ponto onde a consciência se aquieta,

livre dos ecos do passado, das promessas do futuro.

Uma leveza indescritível,

que não é a ausência de peso, mas a ausência de esforço.

 

Nesse lugar, a existência apenas é,

sem a urgência do tempo, sem a pressão do desejo.

É a dissolução da própria busca,

a descoberta de que a paz não é um destino,

mas o próprio vazio preenchido de si mesmo.

 

 

O Vazio Que Se Auto-Preenche

 

E o vazio que se auto-preenche, um paradoxo

que desfaz a lógica do que é ausência.

Não é um nada que espera ser completo,

mas uma plenitude que surge de si,

uma existência que se basta sem ter.

 

É como a vastidão do céu noturno,

que parece vazio, mas é infinito em estrelas invisíveis,

uma profundidade que se revela em sua própria essência.

Não há necessidade de adição, de preenchimento externo,

pois a essência já está ali, em cada não-coisa.

 

Nesse espaço, a paz é a própria matéria,

o silêncio, a voz mais alta que se pode ouvir.

É a libertação do conceito de falta,

a descoberta de que o vazio não é carência,

mas a forma mais pura de ser, a totalidade em sua vastidão.

 

 

 Plenitude na Vastidão do Nada

 

E a plenitude na vastidão do nada, o ápice do paradoxo,

onde o vazio não é falta, mas presença absoluta.

Não é um espaço oco à espera de preenchimento,

mas o próprio infinito que se revela em sua essência.

 

É a liberdade de não ter contornos, de não ter limites,

a paz de ser tudo e nada ao mesmo tempo.

Nesse "não-lugar", a mente se aquieta,

e a existência transcende a forma, o nome, o peso.

É a perfeição do ser desprovido,

onde a completude nasce da ausência de tudo,

e o silêncio se torna a sinfonia mais rica.

 

 

Finalmente, o Silêncio Absoluto

 

E finalmente, o silêncio absoluto, não o silêncio que esconde, mas o que revela.

Não é ausência de som, mas a ausência de todo o ruído interno,

das perguntas incessantes, das expectativas que pesam.

É a dissolução da própria mente em sua busca incessante,

um ponto de quietude que transcende a percepção.

 

É o fim das oscilações, das dualidades,

o espaço onde a paz não é oposta à inquietação,

mas a única verdade que existe.

Nesse silêncio intocado, tudo se harmoniza,

e o vazio que se auto-preenche encontra sua expressão mais pura,

uma calmaria sem ecos, sem reflexos, apenas ser.

 

 

 

quinta-feira, 29 de maio de 2025

A ILUSÃO DAS RÉDEAS

 

A Ilusão das Rédeas

Tenho a sensação
de possuir as rédeas do destino.

Como se minhas mãos,
ainda que trêmulas,
pudessem guiar
o que é invisível.

Como se o tempo
me escutasse
quando decido avançar
ou recuar.

Às vezes,
acredito que escolho —
os caminhos,
os afetos,
as quedas.

Mas há dias
em que tudo escapa,
como um cavalo que dispara
sem aviso,
sem direção.

E eu,
mesmo fingindo controle,
sou só mais um
que cavalga o acaso
com os olhos fixos no horizonte,
tentando crer
que a vontade é força
e que o querer
pode bastar.

O POEMA INTERROMPIDO

 O Poema Interrompido

Nunca terminamos a última estrofe.
Ficou pela metade,
como um beijo interrompido.

E no verso inacabado,
o amor congelou.
Não morreu.
Só ficou preso
na margem da página.

FELIZ E ABENÇOADA SEXTA-FEIRA

 

Feliz e Abençoada Sexta-feira

sexta chega com o sopro leve
de quem sobreviveu à semana.
há cansaço nos ombros,
mas também uma luz diferente nos olhos.

é o dia da entrega silenciosa:
do que deu certo,
do que não se explicou,
do que apenas foi.

abençoada é a pausa merecida,
o riso que escapa sem razão,
o instante em que a alma
descalça os pés e agradece.

feliz é quem sente gratidão
antes mesmo do descanso completo,
e confia que o amanhã virá
com a mesma bondade que hoje se despede.

EXPERIMENTAL

 

EXPERIMENTAL

 

A espiral da mente se aprofunda,

cada volta, um labirinto sem paredes.

Se eu me demorar demais aqui,

nesse abismo de ideias,

o fio se rompe.

Confesso,

a sanidade balança na beira.

Pareço um experimento, 

um fio tênue sobre o vazio.

 

Mas a urgência pulsa,

uma necessidade visceral.

Preciso sentir no fundo do osso,

que a perfeição,

não essa idealização distante,

mas a perfeição imanente,

a que reside na teia do universo,

na matemática do caos,

no silêncio antes do som,

ela existe.

É a bússola que me arranca do delírio,

a âncora que impede a queda final.

mesmo que a busca me dilacere,

a certeza dessa existência

é a única luz

que me impede de enlouquecer de vez.

quarta-feira, 28 de maio de 2025

DESVANECER DAS MEMÓRIAS

 

Desvanecer das Memórias

Minhas memórias salvas
estão se definhando.

Como flores esquecidas na sombra,
como páginas amareladas
de um livro que já não abro.

Elas ainda existem —
mas sem nitidez,
sem o calor que as fazia pulsar.

Rostos perdem os contornos,
vozes se desfazem no vento,
lugares antes vivos
se tornam esboços
de um tempo que escapa.

Tento tocá-las
com o pensamento,
mas elas recuam,
como se tivessem cansado
de esperar por mim.

O que era abrigo
vira eco.
O que era certeza
vira neblina.

E eu,
com os olhos fixos no que já fui,
percebo o silêncio crescer
no espaço onde antes morava
a lembrança.

O AMOR EM FORMA DE PRECE

 

O Amor em Forma de Prece

Será que posso amar
com fé
e com devoção?

Não esse amor de instante,
de promessas sem raiz,
mas aquele que se ajoelha
diante do outro
como quem reconhece um altar.

Um amor que não exige,
mas cuida —
mesmo no silêncio,
mesmo na ausência.

Que permanece,
não por força,
mas por escolha sagrada.

Será que posso amar
com a entrega dos antigos,
com a confiança dos que acreditam
sem ver?

Amar com mãos abertas,
com olhos que perdoam,
com tempo que espera.

Não sei se consigo,
mas meu coração já tenta
como quem acende uma vela
na escuridão.

terça-feira, 27 de maio de 2025

HOJE NÃO VOU CHOVER

 

Hoje não vou chover.

 

O céu, antes cinza e taciturno,

acordou com um piscar de sol.

As nuvens, que ontem eram manto,

hoje desfilam em algodão e anil.

 

Não há lamento em minha promessa,

nem tristeza no ar que respiro.

Apenas um silêncio que confessa:

quero ser leve, quero ser estio.

 

Asfalto seco, telhado sedento,

esperem mais um pouco.

Hoje, a melodia do vento

é o único orvalho que provoco.

 

Guardo as gotas, as lágrimas,

o pranto que a terra espera.

Hoje, o poema são as brisas,

a dança quieta da primavera.

 

Não chovo. Permito que a luz

desenhe sombras no chão.

Sou a calma que conduz

o dia para outra canção.

 

E amanhã? Ah, amanhã

o destino talvez me convide.

Mas hoje, a alma soberana

decide que não, não chove.

OS NOMES QUE ESQUECI

 Os Nomes Que Esqueci

Não lembro mais os nomes
dos sonhos que eram meus
nos tempos de criança.

Estão perdidos
como brinquedos enterrados no quintal,
como desenhos apagados pela chuva.

Não sei onde moram.
Se ainda têm casa,
se caminham por aí,
descalços, invisíveis,
esperando que eu os reencontre.

Às vezes penso
se morreram de fome,
se cansaram de me esperar,
ou se se tornaram outra coisa,
mais dura, mais triste,
menos sonho.

Talvez tenham tropeçado
na pressa dos dias,
na lógica dos adultos,
nessa vida
tão passageira
que nos rouba
sem que percebamos.

E eu sigo,
com essa ausência sem rosto,
com essa falta
que não sei nomear —
como quem perdeu algo precioso
e aprendeu a fingir que não sente.

ESSÊNCIA INAUDÍVEL

 

Essência Inaudível

 

Eu sou sussurro e enigma.

Não há grito que me defina,

nem solução que me prenda.

Minha voz é o vento que mal se escuta,

o segredo que a brisa leva.

 

Sou a pergunta sem resposta,

o labirinto sem centro,

a sombra que se move

sem deixar rastro.

Em mim, o inaudível se faz presente,

e o indecifrável se revela em silêncio.

 

Permaneço no limiar do que é dito

e do que jamais será.

Uma canção sem melodia,

um código sem chave.

E nessa dualidade, respiro,

existindo no que é mal compreendido,

no que apenas se sente

sem nomear.