meus brinquedos ainda estão lá
lembro de um quarto pequeno
com um abajur torto
e brinquedos desalinhados como eu.
ninguém me ensinou a brincar acompanhado.
o tempo era um bicho manso,
me olhava pelos cantos
enquanto eu montava mundos
com pedaços de silêncio.
cresci com essa voz interna
que sempre sussurra
quando tudo se cala.
ela veio comigo —
não cresceu,
só ficou mais quieta.
hoje ando por ruas largas
com o mesmo vazio do tapete azul,
e às vezes acho que a solidão
não começou agora —
ela só foi ganhando nome,
senha,
roupa de adulto.
meus brinquedos ainda estão lá,
em alguma gaveta do tempo,
esperando que eu volte
pra reaprender a companhia
sem pressa,
sem rede,
sem medo de estar só.