sem trilho
o mundo anda numa pressa desenfreada,
como se a vida tivesse hora marcada
pra acontecer.
eu, não.
ando em compassos quebrados,
num ritmo que ninguém toca mais.
sou o silêncio
entre dois alertas.
enquanto tudo gira,
fico parado no centro do redemoinho,
tentando lembrar
se era mesmo urgente viver assim.
há uma beleza
na espera que ninguém entende,
na pausa que não é preguiça,
mas escuta.
mas o mundo não ouve.
ele cobra, exige, notifica,
e eu me vejo de novo
atrasado,
remando contra uma maré
que não pede licença.
é essa antítese modorrenta que me define:
sou calmo por dentro
e inquieto por cobrança,
sou presente ausente
num tempo que não aceita
meu jeito de ser.
e sigo,
mesmo sem trilho,
procurando um lugar
onde a pressa
não precise de mim.