O Lugar Onde a Alma Não se Curva
Dizem que no fim da Travessia do Vento,
depois da última torre que nunca lança sombra,
existe um ponto suspenso —
invisível aos olhos que temem.
Ali,
a alma deixa de se curvar.
É um lugar sem chão,
mas também sem queda.
Uma dobra no tempo onde tudo o que já foi dor
vira linguagem antiga
e o corpo aprende a caminhar
sem precisar se ajoelhar.
Chegam ali os que foram partidos,
os que amaram até virar pedra,
os que carregaram séculos nos ombros
sem nunca entender de onde vinham os pesos.
No instante em que pisam esse ponto —
feito de luz esquecida —
algo acontece:
as promessas não cumpridas se desfazem,
os nomes antigos perdem som,
e o olhar reencontra sua origem.
Nenhum mapa leva até lá.
Só se chega quando se perde o último medo
de não ser aceito por ninguém.
E então, no silêncio que vem,
a alma se ergue.
Não por orgulho,
mas porque se lembrou
de que foi feita para voar.