quinta-feira, 15 de maio de 2025

CONCRETO-ZEN

 

Concreto-Zen

A laje fria, sob a luz de mercúrio pálida, não tem pulmões. Mas o silêncio que emana dela, denso, urbano, é um tipo de respiração.

Um nada sonoro. Não o vazio absoluto, mas a ausência de grito, de buzina histérica, de sirene cortando a noite.

O concreto absorve o barulho engolido do dia, e exala... isto. Este quase-som, a impressão fantasma do ruído, o potencial adormecido do estrondo.

É o zen da cidade, talvez. A meditação forçada da madrugada, onde até o asfalto parece contemplar o próprio silêncio.

O concreto respira a promessa de mais um dia caótico, o descanso breve entre o barulho que foi e o barulho que inevitavelmente virá.

Nesse nada sonoro, escuto a batida do meu próprio coração, único som concreto na respiração abstrata da cidade.

SINFONIA DO MUDO

 

Sinfonia do Mudo

Fones de ouvido desligados. O concreto respira um nada sonoro. Dentro, o volume se ajusta sozinho.

Sinfonia introspectiva: não cordas, mas nervos tensos relaxando. Não metais, mas o eco oco do pensamento. Não percussão, mas o pulso lento na têmpora.

Cada fibra do meu ser, antena captando o vácuo, ressona com a falta de barulho. Um uníssono estranho, onde a ausência é a nota fundamental.

O mundo lá fora, um feed barulhento, rolando sem parar. Aqui dentro, o scroll infinito pausa.

Vibro na frequência do silêncio, um download da alma, sem wi-fi, conectado apenas ao centro.

Esta não é a paz pasteurizada dos gurus. É o ruído branco da mente finalmente quieta, a orquestra do eu tocando o nada, e nesse nada, encontrando tudo.

VAZIO

 

Vazio

O ar imóvel. As partículas suspensas parecem deter o próprio movimento, como se reverenciassem algo invisível e poderoso. É o silêncio que se instala, denso e acolhedor, e percebo, com uma clareza quase dolorosa, que ele é a única melodia a preencher o espaço ao meu redor. Não há o tráfego distante, nem o canto insistente dos pássaros noturnos. Apenas esta ausência de som, que paradoxalmente se manifesta como uma presença palpável.

Este silêncio não é um vazio, mas um ventre onde outros sons podem nascer. É a tela neutra onde a imaginação projeta seus próprios acordes, onde a memória musical ressoa em ecos suaves. Nele, ouço o pulsar lento do meu próprio sangue, o roçar sutil das minhas vestes, a respiração que entra e sai, um ritmo ancestral que a cacofonia do mundo usualmente abafa.

É uma melodia feita de pausas, de espaços entre as notas imaginárias. Uma sinfonia introspectiva, onde cada fibra do meu ser vibra em uníssono com a ausência de ruído externo. Neste silêncio que me envolve, desvencilho-me das harmonias dissonantes do cotidiano e permito que a canção silenciosa da minha própria existência preencha, por fim, todo o espaço ao meu redor. É uma música antiga, sussurrada desde o princípio, e só agora, no oásis do silêncio, consigo finalmente ouvi-la em sua plenitude.

CANÇÃO INTERIOR

 

Canção Interior

O palco pode estar vazio, as cortinas cerradas, e o silêncio, a única melodia que preenche o espaço ao redor.

Mas em meu peito, uma canção teima em vibrar, um ritmo íntimo, que não busca plateia.

Não anseio pelas palmas, pelo reconhecimento ruidoso de uma melodia alheia. Esta canção é minha, nascida nas cordas da alma.

Mesmo que sussurrada ao vento, em tom quase inaudível, ela pulsa em meu sangue, dança em meus pensamentos.

Seus versos são a própria respiração, suas notas, as batidas do coração, um compasso único, que me guia e me define.

Não necessito do eco externo para confirmar sua existência. Sua verdade reside na vibração interna, na ressonância profunda com o meu próprio ser.

Esta canção, mesmo sem público, é a celebração da vida, a expressão silenciosa da alma, a prova constante de que existo em meu próprio ritmo, em meu próprio tom.

E essa certeza íntima, essa melodia que me preenche, é o aplauso silencioso que verdadeiramente importa.

EXISTÊNCIA ÍNTIMA

 

Existência Íntima

Não busco no espelho dos outros a confirmação de minha forma. Meu ser pulsa por dentro, um rio subterrâneo que não necessita da superfície para provar sua correnteza.

A ressonância alheia, o eco das opiniões, pode adornar, colorir, mas jamais definir a essência que me habita.

Sou a árvore fincada, que estende seus galhos ao vento, mas sua raiz profunda encontra sustento em si mesma, na terra escura e silenciosa.

Não preciso do aplauso para saber que minha canção existe, mesmo que sussurrada ao vento, ela vibra em meu próprio compasso.

Minha existência é um fato íntimo, uma certeza que reside no pulsar do sangue, na respiração que infla meus pulmões, no pensamento que floresce em minha mente.

O "eu sou" ecoa internamente, forte e inabalável, independente do olhar que pousa, da palavra que se pronuncia.

Habito este corpo, esta consciência, e neles encontro a prova irrefutável de que existo, de que sou, em minha singularidade completa.

A validação externa é um aceno, talvez, mas a verdade primordial reside aqui, neste núcleo silencioso e potente do próprio ser.

MORADA SILENCIOSA NO AGORA

 

Morada Silenciosa no Agora

Habito este instante, como uma casa de paredes largas, onde o som do mundo exterior mal alcança o interior.

O presente se estende, um chão firme sob meus pés, e a voz antiga, faminta por aprovação, bate à porta, hesitante.

Não a convido a entrar. Seus sussurros de dúvida, seus anseios por espelhos que confirmem, perdem a força no limiar.

Aqui dentro, o silêncio nutre, acalma a ânsia de ser aceito, liberta o olhar para a beleza simples do instante que se desdobra.

Não preciso da ressonância alheia para saber que existo, que sou. Minha presença aqui e agora basta como um sol em seu próprio céu.

O ruído constante da busca por validação é uma melodia antiga, desafinada, que já não encontra eco em meus ouvidos.

Nesta morada do presente, a voz que importa é a do meu ser, silenciosa e profunda, afirmando a beleza de simplesmente estar.

E a liberdade floresce neste silêncio, nesta ausência de necessidade externa, permitindo que eu seja, integralmente, na quietude fértil do meu agora.

SILÊNCIO PRESENTE

 

Silêncio Presente, Leveza Agora

A voz que em mim reside, um murmúrio por vezes estrondoso, no presente se recolhe, silêncio denso que não busca eco.

As palavras, antes lançadas ao vento, na ânsia de serem ouvidas, repousam na quietude interior, sementes de um jardim secreto.

Meu peso, a carga dos dias idos, as responsabilidades abraçadas, as expectativas alheias, dissolve-se na leveza do agora.

Os ombros, outrora curvados, sob o fardo invisível do tempo, endireitam-se, livres da pressão, sustentando apenas a leveza do ser.

Não há necessidade de gritar para existir, nem o fardo de carregar o mundo. Neste instante presente, sou a pura essência, despojada.

A voz interior encontra paz no silêncio, e o corpo experimenta a liberdade de não ser dobrado pelo peso de um passado ou futuro imaginados.

Há uma força serena nesta ausência de eco, nesta libertação do fardo. Permito-me ser leve, habitar o presente sem o ruído constante da voz que busca validação, sem o peso que aprisiona os movimentos.

Neste silêncio presente, nesta leveza agora, encontro a verdade simples de ser.

A DISTÂNCIA DO AMANHÃ

 

A Distância do Amanhã

O futuro reside além da colina, um contorno incerto na névoa da manhã. Não grita, não exige pressa, não estende a mão com cobranças.

É uma tela ainda em branco, onde pinceladas de desejo e receio tentam esboçar alguma forma. Mas a tela permanece distante.

Sua voz não ecoa no presente, seu peso não dobra meus ombros. É uma melodia ainda não tocada, uma dança que talvez nunca se realize.

Observo-o com curiosidade serena, sem a urgência de alcançá-lo, sem a obrigação de decifrá-lo.

É apenas uma possibilidade, um leque de caminhos incertos, uma promessa sussurrada ao vento, que pode se concretizar ou se dissipar.

Neste instante, sua influência é tênue, uma sombra alongada ao entardecer, que não obscurece a luz do agora, a intensidade do ser neste momento.

O futuro espera, paciente e mudo, alheio à minha respiração presente, à batida calma do meu coração. E nessa distância reside a liberdade.

A liberdade de construir o agora, sem o jugo das expectativas futuras, saboreando a plenitude do instante, onde o amanhã é apenas uma canção distante.

VIDA NUA

 

Vida Nua

O ar penetra, sem o lastro do ontem, sem a sombra do depois.

Vida nua, em cada célula sedenta, um renascimento a cada inspiração.

Os pulmões se expandem, espaço puro, inexplorado, onde só o agora reside, vibrante e pleno.

As lembranças esmaecem, como aquarelas na chuva, não pesam, não doem, apenas são ecos distantes.

A ansiedade se dissolve, névoa matinal dissipada pelo sol, o futuro não urge, não cobra, é apenas uma possibilidade distante.

Este fôlego, essência vital despojada, é a liberdade de ser, sem as correntes do tempo.

É a leveza da folha ao vento, a espontaneidade do rio que corre, a certeza silenciosa de que este instante basta.

Encher os pulmões assim, de vida desvestida de passado e futuro, é tocar a eternidade na efemeridade de cada inspirar.

O SOPRO DO AGORA

 

O Sopro do Agora

O ar entra, fresco, desfazendo as névoas do passado, ignorando as sombras do futuro.

Este sopro, apenas este, enche os pulmões de vida nua, sem o peso das lembranças, sem a ansiedade do que virá.

O peito se expande, um universo breve, contido neste único instante, onde o tempo se dobra e silencia.

Sinto o pulsar do sangue, a certeza silenciosa de que existo agora, plenamente.

Os ruídos ao redor se aquietam, tornam-se parte da sinfonia fugaz deste momento único, irrepetível.

O pensamento se aquieta, como folha que cai sem pressa, liberando espaço para a pura sensação de ser.

Respiro este agora, como se fosse a primeira e última vez, absorvendo cada nuance, cada micro-detalhe da existência.

E neste simples ato, encontro a liberdade, a paz que reside na aceitação plena do presente.

Este sopro é meu lar, meu refúgio seguro, o ponto de apoio firme na dança incessante do existir.