Dedicatória
Para os
que amaram e calaram.
Para os que viram o amor passar de mão dada com o passado.
Para os que ainda escrevem cartas que nunca serão enviadas.
Imagens de Barra do Piraí, Estado do Rio de Janeiro... Fotos de Barra do Piraí, RJ - e DOCES POESIAS importadas de quedocespoesias.blogspot.com - Vicente Siqueira
Dedicatória
Para os
que amaram e calaram.
Para os que viram o amor passar de mão dada com o passado.
Para os que ainda escrevem cartas que nunca serão enviadas.
A
Geometria dos Poetas
Ela me
chamava de “meu poeta”,
com aquele jeito de quem sabe o que a palavra carrega.
Eu a chamava de tempestade mansa.
O grupo de poesia era o nosso refúgio,
uma casa sem paredes.
Agora,
ela chega com outro.
E tudo dentro de mim desmorona em silêncio.
O poema se reescreve por dentro.
Sem caneta.
Gritar em Silêncio
Há um grito que não fura a garganta,
nem estilhaça o vidro da janela.
Um som que explode no avesso da alma,
mudo para o mundo, mas ensurdecedor para quem o habita.
Ele nasce nas profundezas,
onde as palavras se esvaem
e a dor é pura forma, sem verbo.
É a urgência de ser visto,
de ser ouvido,
sem que nenhum músculo se mova.
Os olhos ardem por dentro,
a pele pulsa com a violência contida,
e o corpo, paradoxalmente,
encontra sua mais alta expressão
na imobilidade e no som zero.
É a voz primordial da existência,
aquela que dispensa eco e plateia,
que se manifesta no espaço ínfimo
entre o desejo e a impossibilidade.
Um grito só meu,
livre de ruídos,
totalmente puro,
totalmente real.
AGORA É BASTA
(Revolta Presente)
O "não" ecoa, mas não me surpreende mais.
Não há recuo, nem virada em direção contrária
à minha natureza, ao que me faz ser.
Seu "não" retumba, mas não me cala.
O eco que outrora tamborilava no ego desnudo
Hoje é grito que rasga o silêncio.
A contundência da recusa não me dispersa,
Não me torna nuvem passageira,
Mas sim tempestade que se forma,
Um catálogo de sentimentos que não mais reprimo.
A irritação transborda, a mágua salta aos olhos.
Nesse olhar que antes me desprezava,
Agora há o fogo da minha própria revolta.
Não mais aceito, não mais me rendo.
É basta.
E NESSE BASTA, A TERRA TREME
Porque essa revolta não é um mero surto.
Ela brotou do solo árido de anos de silêncio,
Adubado pela paciência esgotada e pela esperança pisoteada.
Não é de ontem, nem de hoje.
É a explosão de uma semente que teimava em não morrer,
Mas que agora, em vez de flor, se fez vulcão.
Não há mais "nuvem passageira" para dissipar a dor,
Só a rocha em erupção, o magma que queima e transborda.
E se antes meu ego era desnudo e calado,
Agora ele se veste de fúria e de verdade.
O desprezo que percebi no seu olhar,
Hoje se reflete no espelho da minha própria determinação.
Não é só um basta dito, é um basta sentido até a alma.
É a quebra da corrente, a libertação do silêncio,
A voz que por tempo demais foi sufocada,
A Paz Além do Descanso
E a paz além do descanso,
um estado que transcende
o simples alívio de um
peso que se vai.
Não é a quietude que
sucede a tempestade,
mas uma ausência de
necessidade,
onde o anseio e a busca se
dissolvem.
É a serenidade que não
depende de sono,
nem de pausas, nem do fim
de uma jornada.
É o ponto onde a
consciência se aquieta,
livre dos ecos do passado,
das promessas do futuro.
Uma leveza indescritível,
que não é a ausência de
peso, mas a ausência de esforço.
Nesse lugar, a existência
apenas é,
sem a urgência do tempo,
sem a pressão do desejo.
É a dissolução da própria
busca,
a descoberta de que a paz
não é um destino,
mas o próprio vazio
preenchido de si mesmo.
O Fio Tênue
E no fio tênue, a dança.
Não é leve, não é livre,
é a dança da hesitação.
Cada passo, um cálculo,
um sopro de ar, uma
ameaça.
Respirar dói,
como se o ar fosse agulhas
finas
costurando a incerteza na
pele.
E o vazio, ali embaixo,
não é um convite,
é uma verdade que espera.
O equilíbrio é precário,
uma miragem.
E a cada balanço, a
sensação
de que o fio se desfaz,
pedaço por pedaço,
dissolvendo-se no nada.
Nova
Caligrafia da Alma
Eu
escrevia a minha história com traços hesitantes,
Uma
letra miúda, quase ilegível,
Cheia
de vírgulas de dúvida e pontos finais de medo.
As
margens, apertadas, mal permitiam respirar,
E
o enredo, ah, o enredo era só o que esperavam de mim.
Mas
então veio um sopro, uma brisa nova,
Que
não pediu licença, apenas chegou.
E,
de repente, a pena que eu segurava,
Não
era mais a mesma.
Não
era uma quebra, era um redesenho.
Você
chegou, ou talvez foi a vida em si,
E
mostrou que existiam outras tintas,
Cores
vibrantes que eu não ousava usar.
A
caligrafia da minha alma mudou.
Os
garranchos viraram curvas suaves,
As
linhas retas, agora dançam em arabescos.
Não
é mais um texto a ser lido em voz baixa.
É
um poema de traços largos, em negrito,
Com
espaços para o imprevisível,
E
uma fluidez que eu nem sabia que tinha.
A
tinta é a coragem, o papel é a liberdade,
E
cada palavra é um passo novo, sem receio.
Hoje,
minha alma escreve sem pausas forçadas,
Com
um estilo que é só meu, sem cópias.
Os
erros viraram rascunhos de aprendizado,
E
as páginas em branco, convites à criação.
É
um novo eu, com uma nova caligrafia,
Mais
autêntica, mais bonita, mais eu.
E
o melhor? A história está apenas começando.
No
crepúsculo do eu despedaçado,
a luz se parte em tons indecisos,
meus cacos brilham como espelhos gastos
de um tempo que já não me reconhece.
Há algo
de sagrado na ruína —
um cansaço que se curva em silêncio,
um adeus que não sabe do fim,
mas ainda insiste em acenar.
Cada
fragmento do que fui
se deita sobre a sombra longa
de um dia que não quis terminar,
como se a noite pedisse perdão
por chegar tão tarde.
No
crepúsculo do eu despedaçado,
descubro que sangrar também é forma
de ver beleza onde ninguém vê —
e que a dor, quando se põe,
deixa um fio dourado
entre o que sobrou
e o que virá.
Dentro de
mim,
um universo de palavras sufocadas
gira em silêncio.
Não
explode,
não reclama,
mas pulsa —
como estrela que ninguém vê.
Há frases
inteiras
presas na garganta,
com o peso de constelações.
Segredos
antigos,
nomes que nunca chamei,
despedidas que não couberam no tempo.
Tudo
orbitando
no espaço estreito
entre o que sinto
e o que deixo escapar.
Às vezes,
me sento no centro do peito
e escuto.
As
palavras querem nascer,
mas temem o ar,
a forma,
o depois.
Se
Tiver, Eu Prefiro
Músicas que dançam no ar,
A leveza de um dia sem planos,
A brisa suave acariciando a pele.
Se tiver, eu prefiro.