sexta-feira, 16 de maio de 2025

UMA HISTÓRIA

Uma História 

Nas brumas do tempo, onde a memória da terra respira em sussurros ancestrais, jazem segredos sepultados sob o manto de eras esquecidas. Em ilhas que se perdem na imensidão azul, em colinas que guardam cicatrizes milenares, a história espera, paciente, para ter suas linhas refeitas, seus enigmas decifrados.

A Ilha de Páscoa, santuário de pedra e mistério, ergue seus gigantes sob o sol implacável. Moais, não meros bustos, mas colossos adormecidos, revelam corpos enterrados, testemunhas silenciosas de uma engenharia audaciosa. Como foram movidos, como foram sepultados sem quebrar seus torsos de quase vinte metros? Que mãos, que mentes orquestraram tal proeza? O vento que sopra entre eles carrega perguntas sem resposta, ecos de um povo que dançou sob o mesmo céu.

Longe dali, no coração líquido do Pacífico, Nan Madol emerge das águas como uma cidade fantasma, uma Veneza de basalto erguida no isolamento. Quem teceu suas fundações, pedra sobre pedra, em um lugar tão remoto? Qual civilização floresceu e desapareceu entre teus canais misteriosos? Suas ruínas sussurram histórias de um passado grandioso e desconhecido, um capítulo perdido na crônica humana.

E sob a colina do ventre, Göbekli Tepe, o berço do mistério, esconde seus círculos megalíticos, enterrados sob um propósito que nos escapa. Georadares sondam o solo, revelando mais e mais complexos subterrâneos, labirintos de pedra que desafiam nossa compreensão do tempo. Por que foram ocultados, protegidos da luz do dia, como segredos que a terra guardou em seu seio?

Talvez o céu tenha chorado fogo há dez mil anos, um cataclismo cósmico que redesenhou a face do planeta. Cometas que se despedaçaram, semeando o caos e a destruição, varrendo do mapa civilizações que mal começamos a imaginar. Seria esse o elo perdido, a chave para tantas lacunas em nossa narrativa?

A cada pá de terra revolvida, a cada anel de árvore analisado, a cada eco de radar que penetra o solo, novas perguntas brotam. A história que conhecemos é um rascunho, repleto de espaços em branco, aguardando a tinta fresca das descobertas. Somos detetives do tempo, arqueólogos da memória, desafiados a reescrever o passado com as evidências que a terra generosamente nos entrega.

A busca é incessante, um ciclo eterno de desvendar e redescobrir. A cada mistério revelado, um véu se levanta para revelar novas incógnitas. A verdade é um horizonte que se afasta à medida que avançamos, um convite constante à humildade e à admiração. E assim, sob o olhar atento do cosmo, a história da Terra continua a ser reescrita, em uma prosa poética tecida com os fios dos mistérios que jazem à espera de serem desenterrados.

ECOS DA TERRA


Ecos da Terra

 Ecos da terra, sussurros sob a poeira do tempo. Ilhas distantes, colinas que guardam segredos.

Moais, não apenas rostos, gigantes de pedra desenterrados, vinte metros de silêncio, como se moveram? Que mãos ergueram o impossível?

Nan Madol, cidade na vastidão azul, pedra sobre pedra, mistério isolado. Quem teceu tuas ruas de basalto, desaparecido no eco das ondas?

Göbekli Tepe, o ventre escondido da história, círculos enterrados, por quê? Georadares penetram o chão, revelam mais e mais segredos adormecidos.

Dez mil anos atrás, talvez o céu chorou fogo, cometas em pedaços, um cataclismo cósmico, varrendo civilizações desconhecidas.

Lacunas na narrativa humana, espaços em branco à espera. Cada pá de terra, cada eco de radar, uma nova pergunta.

Reescrever a história, desvendar o passado. Um passo à frente, uma nova incógnita se revela.

A busca é infinita, um horizonte que se move. Somos detetives do tempo, poetas do desconhecido.

A terra fala, em línguas de pedra e silêncio. E nós, ouvimos, desvendamos, reescrevemos, sob o olhar vasto do cosmo.

SEGUINDO APESAR DE TUDO

Seguindo Apesar de Tudo

 Meu passo marca a areia que o vento apaga.

À frente, a linha clara onde o céu encontra o mar, ou a terra.

Chamo-o horizonte. É meu ponto, meu norte, minha promessa de chegada.

Mas caminho, e a linha se move. Não fica, não espera.

É um convite constante, não uma meta fixa. A cada passo dado, ela recua, mantendo a mesma distância misteriosa.

Minha busca, então, não tem fim. Não é por um lugar, mas pelo movimento.

Pela ânsia de ir, de ver o que há depois. Mesmo sabendo que o depois será apenas o antes de outro horizonte.

É a dança eterna entre o que sou e o que persigo. Uma sede que se renova com cada vislumbre.

Não há mapa final, apenas a bússola interna apontando sempre adiante.

Minha busca é infinita. No horizonte que incansavelmente se move. E eu, com ele, num eterno seguir.

ALÉM DO BARULHO INTERIOR

Além do Barulho Interior

PRESENÇA QUIETA

 Presença Quieta

Sim. O silêncio se aprofunda. As últimas notas do barulho interior dissolvem-se no ar sutil.

Não há pensamentos correndo, nem ansiedades pulando, nem as velhas histórias repisadas.

Há apenas o espaço que se abre. E nele, na quietude que não força, que não exige, que apenas É,

eu ouço.

Uma presença. Não uma voz alta, ou um nome, ou uma imagem definida. Algo mais como um sentir.

Uma vibração sutil. Uma consciência calma que sempre esteve aqui.

É a presença quieta do que sou.

Não o que penso que sou, ou o que fazem de mim, ou o que conquistei, ou o que perdi.

Mas a essência pura, o núcleo silencioso. A testemunha serena. A raiz que se estende para o profundo.

Ouço sua respiração sutil dentro da minha própria respiração. Sua calma no centro do peito. Sua vastidão que não tem bordas.

É um reconhecimento. Um encontro íntimo no santuário do silêncio.

A presença quieta do Ser que sou, finalmente audível quando o mundo, e o eu barulhento, emudece.

PRÓXIMO DO NADA


Próximo do nada

 Algo mais como um sentir. Não palavras, não imagens nítidas, nem a lógica fria de um pensamento.

É um vibrar suave sob a pele, no espaço entre os ossos, no ar que se move dentro do peito.

Uma certeza sem nome. Um saber que não passou pela porta estreita da razão.

É o calor que se espalha sem chama visível, a luz que não cega mas ilumina por dentro.

Um reconhecimento profundo, anterior à memória, anterior até ao ser chamado "eu".

É a textura invisível do ser, o peso leve da existência. A cor sem cor do estar presente.

Não se agarra. Não se define em frases. Escapa aos contornos da linguagem.

É algo como o eco de uma lembrança que nunca aconteceu, mas que reside na essência.

Apenas um sentir. Puro e simples. Uma ressonância. A presença quieta que se manifesta não como algo a ser entendido, mas algo a ser sentido.

E nesse sentir, há uma vasta compreensão que transcende todo o barulho e toda a forma.

SEM NOME

 

   Sem nome

Em meu peito, não lateja uma dúvida, nem a pergunta afiada que exige resposta.

Há um peso sereno, uma densidade calma que não se explica.

É uma certeza. Não veio por caminhos lógicos, não seguiu as trilhas do "se isso, então aquilo". Não passou pelo crivo do porquê e do como.

Um saber. Mas não o saber das palavras, dos fatos alinhados, das equações precisas.

Este saber habita em algum lugar fundo, atrás das costelas, misturado ao ritmo constante do meu sangue.

Não bateu à porta estreita da razão. Simplesmente entrou. Permaneceu. Como a luz do sol que simplesmente é, aquecendo sem pedir permissão.

É sem nome. Não cabe em definições, em rótulos, em teorias.

É a raiz da convicção, anterior à crença. Um sentir absoluto, a quietude que conhece sem precisar provar.

Tenho em meu peito esta certeza sem nome. Este saber que respira em mim, além de toda porta, além de toda razão. E nela, encontro meu centro e meu silêncio mais profundo.

ESSA TRISTEZA

 Essa tristeza.

 Não tem nome no dicionário das emoções. 
Não é a melancolia clássica, 
nem o luto por algo perdido 
que se possa apontar com o dedo.
Ela apenas está. 

Uma névoa baixa que não se dissipa com o nascer do sol.
Não cabe em teorias psicológicas, 
não se encaixa em manuais. 
Não tem causa clara, 
diagnóstico preciso.
Não pode ser rotulada com as palavras conhecidas:
angústia, pesar, desânimo. 
É algo à parte. 
Uma cor indescritível no espectro do sentir.
Permanece. 
Não se esvai com o riso alheio, 
nem com a distração do dia. 
Um peso morno no centro do peito, 
uma sombra que não se move quando a luz muda.
É a companheira silenciosa em noites tranquilas, 
a voz discreta em meio à multidão.
Não veio por um motivo específico, 
pelo menos não um que a mente possa nomear. 

Ela é a paisagem interna, 
o clima persistente da alma.
Essa tristeza que não sai de mim. 
Não cabe em definições. 
Não se submete a teorias. 
Não pode ser rotulada. 
Ela simplesmente é. 
E na sua indefinível presença, 
reside um mistério que só o silêncio 
entende.

quinta-feira, 15 de maio de 2025

BATIDA DA PROFUNDIDADE

 

Batida da Profundidade

Sinto em mim o tempo que se espreguiça, sem a agitação nervosa da espuma, sem o frenesi da onda que quebra.

Um compasso demorado, o tic-tac ancestral das rochas, o lento mover das placas tectônicas, uma paciência geológica habitando a carne.

Não a pressa da superfície, o corre-corre dos dias, os prazos apertados, os encontros marcados. Isso é a epiderme do tempo.

Mas a batida funda da terra... essa ressoa em meus ossos, um eco surdo de eras passadas, a memória do magma incandescente.

É o ritmo da raiz que se aprofunda, ignorando a ventania na copa, buscando o núcleo estável, a fonte silenciosa da vida.

Sinto este compasso em meu sangue, uma lentidão poderosa, que me ancora no presente, desafiando a velocidade efêmera do agora.

É a sabedoria da montanha, a persistência do rio que esculpe o vale, uma força tranquila que reside na profundidade do ser.

E nesta batida funda, neste compasso demorado, encontro a verdadeira medida do tempo, a eternidade pulsando em meu interior.

O PULSAR DO NADA

 

O Pulsar do Nada

O silêncio se adensa, não a mera falta de som, mas um vácuo que engole as bordas, e em seu centro, o vazio absoluto.

Não é frieza inerte, é um abismo vivo, pulsando em mim, com a força paradoxal daquilo que não existe.

Na ausência de grito, o eco fantasma de todos os gritos que jamais foram dados, ou que se perderam no tempo, ressoa nessa cavidade.

Este nada não é ausência de ser, mas a potencialidade pura, o útero escuro onde tudo pode nascer, onde as palavras ainda não tomaram forma.

Sinto seu ritmo lento, uma contração e expansão sutil, como o bater de um coração cósmico que precede a criação.

Neste vazio absoluto que me habita, encontro a liberdade de ser sem definição, de escutar o sussurro primordial que antecede o verbo.

É um mergulho no não-manifesto, onde a identidade se desfaz e a pura consciência pulsa, na ausência de grito, na plenitude do nada.