e se o choro vier?
e se o choro vier
no meio da reunião,
entre um “tudo certo” e um “vamos avançar”?
se ele invadir o script,
feito erro de sistema,
vazando pelos olhos
que tentaram manter a compostura?
e se ele vier
sem motivo específico,
sem trilha sonora,
sem poesia que justifique?
e se for feio,
com soluço,
com vergonha,
com dor acumulada
de três anos atrás?
será que vão me pedir pra desligar a câmera?
mandar respirar fundo?
sugerir que eu volte depois do intervalo?
ou será que alguém vai reconhecer
o gesto do corpo que não aguenta mais?
vai entender que o choro, às vezes,
é o primeiro sinal
de que a alma ainda está tentando?
e se o choro vier,
que venha.
com força,
com tudo.
porque há dias em que chorar
é a forma mais honesta
de dizer:
“ainda tô aqui.”
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